sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

MAGIA EM FORMA DE PRESÉPIO


“Corre cotia, de noite e de dia, debaixo da cama da velha Maria”. Quem se lembra dessa singela brincadeira de roda vai se encantar com o sino tocando, o zanga-burrinho girando, o menino Jesus mexendo as perninhas. Vai ser invadido por aquela sensação inexplicável que toma conta da gente com a proximidade do Natal.Diante do espetáculo do presépio do Pipiripau, você vai querer entender a magia por trás de movimentos que, há mais de um século, encantam os mais racionais dos corações. Assim como é fácil ver cotias correndo pelo Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, onde o presépio está desde 1976, é certeiro voltar a ser criança diante da famosa cena natalina.Por trás das 586 figuras que retratam a vida e a morte de Jesus Cristo, outro universo a ser descoberto se apresenta: o reino da inventividade de Raimundo Machado de Azeredo que, por volta de seus 12 anos, deu vida à imagem do menino Jesus. Foi em 1906 que ele colocou barbantes para mexer a figura com as mãos e deu início à criação de um presépio, como os que via nas igrejas, mas com uma diferença fundamental: que fosse interativo e que dialogasse com a realidade à sua volta, composta por pescadores, lavradores, boiadeiros, lenheiros e caçadores.Aos poucos, o emaranhado formado por barbantes, carretéis de madeira, rodas de ferro de antigas máquinas de costura e velas de automóveis foi composto por Raimundo. As figuras de massa de papel, socadas no pilão, foram modeladas pelas mãos hábeis do artesão. “É um prazer saber que uma obra frágil, feita com pouco recurso, está alegrando todo mundo e funcionando em perfeito estado”, afirma Emmanoel Gonçalves Fernandes, de 53 anos, que aprendeu com Raimundo – até sua morte, em 1988 – qual linha ou barbante é responsável por cada um dos movimentos das 45 cenas.

Márcia Maria Cruz - Gurilândia

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