segunda-feira, 23 de novembro de 2009

HELENA ANTIPOFF


ANTIPOFF, Helena Wladimirna (1892 - 1974)
Nasceu em Grodno – Rússia.
Em 1909 obteve o diploma do Curso Normal em São Petersburgo, transferindo-se logo em
seguida para Paris.
Estudou na Sorbonne entre 1910 e 1911, obtendo o bacharelado em Ciências.
Assistindo a palestras de Pierre Janet e Henri Bergson no Collège de France, começou a se
interessar pela Psicologia.
Estagiou no Laboratório Binet-Simon, tendo como orientador Théodore Simon, que a instruiu nos
experimentos para medida da capacidade intelectual de crianças em idade escolar
. Convidada por Edouard Claparède, foi, entre 1912 e 1916, aluna da primeira turma do Instituto
Jean Jacques Rousseau – IJJR, em Genebra, onde obteve diploma de psicóloga, com
especialização em Psicologia Educacional.
Em 1916, por ocasião da Primeira Guerra Mundial, recebeu notícias de que o pai, oficial do exército russo, fora ferido em combate.
Retornando à Rússia, assistiu à eclosão da Revolução de Outubro de 1917.
Entre 1919 e 1924, trabalhou como psicóloga observadora da Estação Médico-Pedagógica de
Petrogrado e de Viatka, elaborando o diagnóstico psicológico e planejando a reeducação das
crianças que haviam perdido suas famílias nos conflitos militares.
Em 1921 trabalhou também como colaboradora científica do Laboratório de Psicologia
Experimental de Petrogrado, realizando, junto com Nechaev, pesquisa sobre a influência da
guerra no desenvolvimento mental de crianças em idade pré-escolar.
Ainda na Rússia, Helena Antipoff se casou com o jornalista Viktor Iretzky e, em 1919, nasceu
Daniel, filho do casal.
Em 1924, deixou novamente o país, indo encontrar-se com o marido, então exilado na Alemanha.
Dois anos mais tarde, retornou a Genebra, passando a trabalhar como assistente de Claparède no
Laboratório de Psicologia da Universidade de Genebra e como professora de Psicologia no IJJR.
Entre os anos de 1926 e 1928, publicou diversos artigos em revistas especializadas na Suíça, nos
quais se observa a influência das abordagens funcionalista e interacionista desenvolvidas por
Claparède, assim como a influência da abordagem sócio-histórica russa.
O Método da Experimentação Natural que, durante sua experiência na Rússia, aprendera a
utilizar para a avaliação do desenvolvimento cognitivo, começou a ser amplamente divulgado e
defendido nos artigos publicados por Helena Antipoff nos periódicos Archives de Psychologie,
Intermédiaire des Éducateurs e Nouvelle Éducation.
A convite do governo do Estado de Minas Gerais, Helena Antipoff veio para o Brasil em 1929,
atuando como professora de Psicologia na Escola de Aperfeiçoamento de Professores que fora
instalada para atender às propostas da reforma do ensino mineiro de 1927 – Reforma Francisco
Campos - Mário Casasanta.
O contrato inicial de dois anos foi renovado sucessivas vezes ao longo da década de 1930.
No Laboratório de Psicologia instalado na Escola de Aperfeiçoamento, com suas alunas,
promoveu um variado programa de pesquisas sobre o desenvolvimento mental, os ideais e os
interesses das crianças mineiras. Os resultados dessas pesquisas subsidiaram a introdução de
testes de inteligência nas escolas primárias e, concomitantemente, o processo de homogeneização
das classes escolares.
Nessa época, Helena Antipoff elaborou reflexões acerca da relação entre meio socioeconômico e
desenvolvimento mental, e propôs às escolas a adoção de programas de "ortopedia mental",
acreditando que os mesmos poderiam auxiliar na equalização de oportunidades para as crianças
provenientes dos meios de baixa renda, as quais, geralmente, não obtinham, nos testes de
inteligência, resultados considerados satisfatórios para sua faixa etária.
Acreditando na educação compensatória, a partir da década de 1930, Helena Antipoff começou a
estimular na elite mineira a promoção de programas para a reeducação de crianças excepcionais.
Nesse sentido, fundou a Sociedade Pestalozzi de Belo Horizonte, em 1932.
Contando com o apoio de um grupo de médicos, educadores e religiosos, a Sociedade promovia o
cuidado às crianças excepcionais e a preparação de professores para as classes especiais das
escolas públicas.
Em 1934, do consultório médico-pedagógico para crianças deficientes que fora fundado na
Sociedade Pestalozzi, surgiu o Instituto Pestalozzi de Minas Gerais, que funcionaria como escola
para essas crianças.
A partir de 1940, a Sociedade Pestalozzi, ainda sob a liderança de Helena Antipoff, instalou a
Escola da Fazenda do Rosário.
Localizada no município de Ibirité, a 26 quilômetros de distância de Belo Horizonte, tinha como
objetivo a educação, num ambiente saudável, de crianças excepcionais ou abandonadas, seguindo
as propostas da Escola Ativa.
Na década de 1930, Helena Antipoff foi também professora fundadora da cadeira de Psicologia
Educacional na Universidade de Minas Gerais – UMG (atualmente Universidade Federal de
Minas Gerais – UFMG), lecionando essa disciplina na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,
para os cursos de Didática (Licenciatura) e de Pedagogia.
Afastou-se da Sociedade Pestalozzi e da UMG a partir de 1944, quando se transferiu para o Rio
de Janeiro.
Entre 1944 e 1949, trabalhou no Ministério da Educação e Saúde, participando da
institucionalização do Departamento Nacional da Criança e da Sociedade Pestalozzi do Brasil.
Ainda no Rio de Janeiro, lançou os fundamentos do Centro de Orientação Juvenil – COJ, para
atendimento a adolescentes com problemas de conduta.
De volta a Minas Gerais, obteve, em 1951, a cidadania brasileira, reassumindo, em meados da
década de 1950, suas funções de catedrática de Psicologia Educacional na Faculdade de Filosofia
da UMG.
Aposentou-se compulsoriamente do cargo de professora catedrática de Psicologia Educacional da
Faculdade de Filosofia em 1963.
Em 1956, no Instituto Superior de Educação Rural – ISER, que fora fundado na Fazenda do
Rosário, Helena Antipoff promoveu a vinda do psicólogo genebrino André Rey, para ministrar
um curso de pós-graduação em Psicologia Experimental.
André Rey era especialista em exames clínicos e neurológicos de crianças e adultos, e seu curso
abordou não somente esses temas, mas também questões relacionadas ao ensino da Psicologia
nos Cursos Normais.
O curso de André Rey deu origem a um dos primeiros grupos de psicólogos profissionais em
Minas Gerais, que fundara a Sociedade Mineira de Psicologia.
Foi André Rey quem propôs a fundação da Sociedade e presidiu sua primeira reunião
preparatória, sugerindo que a mesma fosse dedicada a estudos de questões psicossociológicas de
interesse para o Brasil.
A idéia da fundação da entidade foi acolhida pelos participantes do curso e culminou com a
inauguração, no ano seguinte, da Sociedade Mineira de Psicologia.
Sua sede provisória era na Faculdade de Filosofia da UMG e sua primeira diretora, Helena
Antipoff.
Enquanto se engajava nessas atividades em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, Helena Antipoff
elaborou o teste "Minhas Mãos" (ou teste "MM"), um instrumento para o diagnóstico da
estrutura da personalidade a partir da análise de conteúdo de uma redação que deveria ter como
tema "Minhas Mãos".
Inspirado em propostas de Alfred Binet, Bertrand e Alexander Lazursky e publicado em 1970,
pela editora CEPA, o teste, segundo Helena Antipoff, vinha sendo idealizado desde a década de
1930, tendo sido usado como teste de personalidade quando trabalhara no COJ e divulgado em
diversos eventos científicos nas décadas de 1940 e 1950 (ANTIPOFF, H., 1992, v.1, p.335-368).
Da década de 1950 em diante, Helena Antipoff passou a se dedicar principalmente à expansão da
Fazenda do Rosário.
Enfatizando a necessidade de integrar as crianças da Fazenda à sociedade e de levar à
comunidade de Ibirité os benefícios da Escola, promoveu a criação de diversas instituições
dedicadas à educação especial, à educação rural, à criatividade e à superdotação:
Escolas Reunidas Dom Silvério (ensino primário),
Clube Agrícola João Pinheiro (ensino e experimentação de técnicas agrícolas),
Ginásio Normal Oficial Rural Sandoval Azevedo (com internato para moças),
Ginásio Normal Oficial Rural Caio Martins (com internato para rapazes),
Instituto Superior de Educação Rural (cursos de treinamento para professores rurais).
Essas instituições viriam a compor o Complexo Educacional da Fazenda do Rosário e contribuir
para a formação de várias gerações de educadores e psicólogos.
Helena Antipoff publicou diversos artigos em revistas especializadas, os quais, em 1992, o Centro
de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff reuniu nos cinco volumes da Coletânea das obras escritas de Helena Antipoff. Nessa publicação, que conta com uma introdução feita por Daniel
Antipoff, os artigos da psicóloga vêm divididos em grandes temas e apresentados, dentro de cada
tema, em ordem cronológica.
Os temas dos cinco volumes são
"Psicologia Experimental",
"Fundamentos da Educação",
"Educação do Excepcional",
"Educação Rural"
e "A Educação do Bem-dotado".
Ao longo de sua carreira de psicóloga e educadora no Brasil, Helena Antipoff recebeu, em
reconhecimento à relevância de suas propostas e iniciativas, inúmeros prêmios e condecorações.
Dentre estes, destacam-se:
Medalha de Honra ao Mérito pelo seu "Apostolar Trabalho na Educação da Criança Anormal", em 1959;
Inscrição no Livro Nacional do Mérito, por proposta da Associação Brasileira de Educação, em 1960;
Cidadã Honorária de Minas Gerais, em 1962;
Cidadã Honorária de Belo Horizonte, em 1968;
Professora Emérita da Faculdade de Educação da UFMG, em 1972;
Medalha do Mérito Educativo, em 1972;
Personalidade Global no setor Educação, em 1973;
e Prêmio Henning Albert Boilesen, em 1973, por serviços prestados à educação e à ciência no
Brasil.
Os recursos desse último prêmio foram utilizados para estabelecer a Associação Milton Campos
para o Desenvolvimento das Vocações – ADAV, considerada a "obra caçula de Helena Antipoff",
visando a promoção de atividades estimulantes para crianças com interesse em profissões
científicas ou artísticas.
Publicações:
ANTIPOFF, Helena. O Teste As Minhas Mãos. In: CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E PESQUISA HELENA ANTIPOFF. Psicologia experimental.Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1992. p.335-368. (Coletânea das obras escritas de Helena Antipoff , v.1).
Fontes:
ANTIPOFF, Daniel. Helena Antipoff: sua vida, sua obra. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.
CAMPOS, Regina Helena de Freitas. Conflicting interpretations of intellectual abilities among Brazilian psychologists and their impact on primary scholling (1930-1960). 1989. 322 f. Tese (PhD) - Faculdade de Educação, Universidade de Stanford, Stanford, Califórnia.
CAMPOS, Regina Helena de Freitas. Helena Antipoff. In: FÁVERO, Maria de Lourdes Albuquerque, BRITTO, Jader de Medeiros. Dicionário de Educadores. Rio de Janeiro: Editora UFRJ / MEC-Inep, 1999. p.237-243.
CAMPOS, Regina Helena de Freitas. Helena Antipoff (1892-1974): a synthesis of Swiss and Soviet psychology in the context of Brazilian education. History of Psychology (no prelo).
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E PESQUISA HELENA ANTIPOFF. Psicologia Experimental.Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1992. (Coletânea das obras escritas de Helena Antipoff, v.1).
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E PESQUISA HELENA ANTIPOFF. Fundamentos da Educação.Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1992.(Coletânea das obras escritas de Helena Antipoff, v.2).
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E PESQUISA HELENA ANTIPOFF. Educação do Excepcional.Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1992.(Coletânea das obras escritas de Helena Antipoff, v.3).
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E PESQUISA HELENA ANTIPOFF. Educação Rural.Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1992. (Coletânea das obras escritas de Helena Antipoff, v.4).
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E PESQUISA HELENA ANTIPOFF. A Educação do Bem-dotado. Rio de Janeiro: SENAI/DN/DPEA, 1992. (Coletânea das obras escritas de Helena Antipoff, v.5).
LOURENÇO, Érika. Educação inclusiva: uma contribuição da história da psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v.20, n.1, p.24-29, 2000.
MURCHISON, Carl (Ed.). Antipoff, Hélène. In: ______. The psychological register. London: Humphrey Milford: Oxford University Press, 1929. p.541.
SOCIEDADE MINEIRA DE PSICOLOGIA. Estatutos. Belo Horizonte, 1957.
Regina Helena de Freitas CamposÉrika Lourenço

Fonte:
Dicionário biográfico da psicologia no Brasil: Pioneiros / Autor(a): Regina Helena de Freitas Campos (org.) Imago Editora - Rio de Janeiro - 2001 - 461 p.

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