quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

GUIDO ROCHA CRUCIFIXOS CONTRA A DITADURA

Eduardo Flora mostra as peças criadas pelo escultor Guido Rocha, com Jesus marcado pelo sofrimento.

Seus traços não são finos e nem seus olhares benevolentes e adocicados como os das figuras tradicionais de Cristo. Pelo contrário, parecem flagelados, humilhados, raivosos e feios, como se a qualquer momento fossem saltar da cruz. São as obras do escultor mineiro Guido Rocha (1933-2007), preso político durante a ditadura militar, que retratou a dor dos torturados em várias imagens de Jesus Cristo crucificado, que foram renegadas e danificadas por parentes de mortos em velórios do Cemitério do Bonfim, Região Noroeste de Belo Horizonte.Quatro delas foram adquiridas numa exposição para as capelas do cemitério, mas suas expressões chocantes causaram mal-estar aos fiéis e algumas peças foram vítimas de vandalismo e devolvidas ao artista para serem restauradas. Antes de morrer, Guido recuperar duas imagens de 60cm de altura, fora a cruz, e as devolveu à Fundação de Parques Municipais, que agora tenta recuperar as outras duas para incluí-las em seu acervo de obras preservadas.De acordo com o chefe da Divisão de Necrópole da Fundação de Parques Municipais, Eduardo Flora, as imagens foram adquiridas pela prefeitura em 1973, uma para cada capela-velório do cemitério. “Elas ficaram no local até 1982, mas, por obra de vândalos, as imagens foram quebradas. Elas ficaram paradas num depósito do cemitério por um bom tempo, sem nenhuma atenção, até que alguém as descobriu e procurou mais informações sobre as imagens. No fim da década de 1980, a restauração foi solicitada à prefeitura, que as encaminhou ao próprio artista”, disse Eduardo.Em 2006, o escultor conseguiu recuperar duas delas e as devolveu ao município, mas morreu antes de concluir o seu trabalho. “Agora, estamos fazendo contatos com a família para que sejam devolvidas”, disse Eduardo, ressaltando que a intenção da fundação é levar as obras para uma exposição permanente, como no Museu de Arte da Pampulha. “Se as imagens retornarem para o Bonfim, pode ocorrer nova rejeição, pois havia grande resistência de famílias que iam velar seus mortos. Elas pediam para retirá-las”, acrescentou Eduardo.

Rejeição

As quatro peças foram adquiridas em exposição do Departamento Artístico Cultural da União Nacional dos Servidores Públicos Civis do Brasil, em 1973.

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