Muitas pessoas ainda duvidam do aparente consenso, tanto entre cientistas do clima como entre autoridades, de que o aquecimento global realmente existe.
Esse consenso diz essencialmente que o planeta está se aquecendo e que a maior parte desse aumento de temperatura se deve a um acúmulo de gases que causam um efeito estufa na atmosfera, resultante das atividades humanas. Se não houver uma redução nas emissões de gases-estufa, o Século XXI verá ondas de calor mais frequentes, furacões intensos e, nos trópicos, menos chuvas.
E o que dizem os céticos? Em resumo, que o aquecimento no século passado foi pequeno e que a contribuição humana para esse aquecimento foi mínima; não existe crise. A seguir, alguns dos principais argumentos dos incrédulos – e a resposta dos que acreditam no aquecimento global.
O que dizem os céticos: A Terra não está esquentando, pelo menos não em grau que possa ser qualificado de “crise”. E alguns dados chegam a sugerir que a Terra está esfriando.
O planeta pode ter ficado mais quente ao longo do Século XX. Mas o aquecimento cessou mais de 10 anos atrás, e a partir de 1998 a tendência revelou menos aquecimento ou mesmo esfriamento. De fato, o período de dezembro de 2007 a novembro de 2008 foi o lapso de 12 meses mais frio na década. Ainda que o planeta não esteja esfriando, não há evidências de que o aquecimento esteja se acelerando ou de que as temperaturas estejam subindo a uma taxa alarmante.
A resposta: É verdade: segundo a maioria das medidas, as temperaturas médias nesta década parecem ter se estabilizado num patamar. Mas isso não é evidência de que o planeta esteja esfriando. Em parte, é consequência de escolher 1998 – um ano excepcionalmente quente – como ponto de partida. Nesse ano, houve um El Niño (fenômeno de aquecimento natural e periódico do Oceano Pacífico capaz de causar vigorosos efeitos sobre o clima mundial) atipicamente forte.
A tendência de longo prazo desde meados da década de 70 evidencia um aquecimento de aproximadamente 0,18°C por década. O fato de que as temperaturas nesta década praticamente não subiram revela como variações naturais de um ano para o seguinte no clima podem afetar a tendência de aquecimento de longo prazo causada pelo aumento de gases-estufa na atmosfera.
Ainda assim, a primeira década deste século foi excepcionalmente quente: os 12 anos de 1997 a 2008 estão entre os 15 mais quentes já registrados. E a própria década foi mais quente do que qualquer outro período anterior de 150 anos. Embora 2008 tenha sido o ano mais frio desde 2000 – consequência dos efeitos do El Niño – ainda foi o 11º ano mais quente já registrado. E 2009 deverá ficar entre os cinco mais quentes.
O que dizem os céticos: Registros de temperaturas de superfície não são confiáveis e exageram o grau de aquecimento.
A razão pela qual alguns cientistas julgam que o planeta está se aquecendo drasticamente é que estão se baseando em leituras de temperatura de estações de monitoramento terrestres que, em muitos casos, foram artificialmente intensificadas por um efeito de “ilhas de calor urbanas”. A maioria das estações estão localizadas em cidades de médio e grande porte. Entretanto, as cidades geralmente aprisionam mais calor – no asfalto, no concreto e em outras estruturas – e o efeito pode ser consideravelmente maior do que quaisquer outros efeitos de aquecimento resultantes dos gases-estufa.
A resposta: É verdade que existe um efeito de “ilhas de calor urbanas”. Mas isso não enviesou as tendências gerais.
O Instituto Goddard para Estudos Espaciais, da Nasa, compara leituras de temperatura de estações urbanas com as de estações rurais em suas proximidades, e ajusta os dados urbanos de maneira que as tendências de temperatura resultem comparáveis às de estações rurais. E quaisquer tendências nos dados baseiam-se apenas em leituras rurais. Outros cientistas descobriram que aparentes diferenças entre leituras de temperaturas urbanas e rurais provavelmente foram exageradas.
Existe também bastante evidência além das leituras de temperaturas urbanas que sugerem que o planeta está esquentando: os oceanos estão esquentando, geleiras e “permafrost” (mescla de terra, rochas e gelo congelada no Ártico) estão desaparecendo, a calota polar ártica está encolhendo e plantas e animais no Hemisfério Norte estão migrando de seus habitats históricos para o norte, mais frio.
O que dizem os céticos: Medições de temperaturas obtidas por satélites são mais confiáveis que as medidas em estações meteorológicas de superfície, e satélites evidenciam pouco aquecimento nos últimos 30 anos.
Leituras obtidas por satélites de temperaturas na baixa atmosfera compiladas pela Universidade do Alabama, em Huntsville, revelam uma tendência menor de aquecimento nos últimos 30 anos do que os registros de superfície. Esse menor aumento de temperatura está bem contido em variações naturais. Esses dados podem até mesmo apontar para uma ruptura, em torno de 2002-03, na tendência de aquecimento do Século XX.
A resposta: O mais antigos estudos de tendências de temperaturas usando dados de satélites revelaram, efetivamente, diferenças significativas com a tendência de temperaturas de superfície, mas grande parte dessa diferença resultou de problemas na maneira como os dados de satélites foram compilados. Depois que erros foram corrigidos, as medições obtidas por satélites e balões meteorológicos da baixa atmosfera evidenciam tendências de aquecimento similares às das mensurações de superfície.
O que dizem os céticos: Não há nada de particularmente atípico nas atuais temperaturas. O clima da Terra está em mutação constante, e mudanças climáticas foram bem maiores no passado. As temperaturas subiram durante o Período Quente Medieval, entre os anos 800 a 1300, e esse período foi tão ou mais quente que o Século XX. Isso foi muito tempo antes de a industrialização ter causado um aumento nos níveis de CO2, o que coloca em questão o vínculo entre aumento de dióxido de carbono na atmosfera e a alta das temperaturas.
É provável que a tendência de aquecimento que vivemos hoje seja apenas a esperada volta de temperaturas mais altas após a Pequena Era Glacial, período de invernos extremamente frios entre o Século XVI e o início do Século XIX.
A resposta: Registros confiáveis de temperaturas remontam a apenas cerca de 150 anos. Para termos um quadro do clima do mundo pré-moderno é necessário correlacionar dados de uma diversidade de fontes indiretas em todo o mundo, como amostras de gelo formado em períodos passados, crescimento de corais, anéis em secções de árvores etc. Essas reconstruções de distribuições de temperaturas exibem um padrão similar: um período mais quente durante a Idade Média, um período mais frio desde aproximadamente 1600 até 1800 e temperaturas muito mais elevadas no fim do Século XX.
Embora isso sugira que as temperaturas na Idade Média foram tão altas quanto no início do Século XX, elas foram provavelmente inferiores à aguda elevação de temperaturas nos últimos 30 anos. As temperaturas mais quentes antes do Século XX ocorreram provavelmente entre 950 e 1100 e ficaram provavelmente mais de 0,1°C abaixo da média do período 1961-1990 (usado como parâmetro de referência para a maioria das medições atuais de temperaturas).
Apesar disso, existe grande dose de incerteza na reconstrução histórica de temperaturas, e a incerteza cresce à medida que os cientistas buscam reconstruir dados de épocas mais antigas. Embora haja evidência de condições quentes na Idade Média, quanto exatamente foi mais quente e por quanto tempo pode ter variado de lugar para lugar em todo o mundo.
O que dizem os céticos: Fatores naturais são suficientes para explicar o aquecimento moderado registrado desde 1900.
Mudanças na atividade solar no passado contribuíram para amplas oscilações de temperaturas em todo o mundo. Outros fenômenos naturais, como o El Niño e sua contraparte desaquecedora, a La Niña, podem causar grandes, mas temporárias, mudanças climáticas. Essas flutuações normais são suficientes para causar o aquecimento do planeta, ao passo que os efeitos das emissões de gases-estufa é relativamente pequeno.
A resposta: Não há dúvidas de que a energia solar e mudanças naturais periódicas afetam o clima mundial. Mas esses fatores naturais não são suficientes para explicar a sensível elevação de temperaturas desde fins da década de 70. Estudos sobre a atividade solar ao longo de mais de mil anos evidenciam forte relação com as temperaturas no Hemisfério Norte; temperaturas sobem quando cresce a atividade solar, e caem quando a radiância solar, medida pelas manchas solares e outras atividades, diminui.
Mas os estudos também descobriram que a energia solar não responde pelo intenso aumento na temperatura desde meados da década de 70, período no qual a atividade solar permaneceu relativamente inalterada. A contribuição do Sol para o aquecimento a partir de então tem sido desprezível.
Mudanças climáticas naturais, como o El Niño, também têm um impacto nítido sobre padrões climáticos durante até uma década. O El Niño, por exemplo, foi responsável pelas temperaturas elevadas em 1998. Mas essas mudanças climáticas acontecem em ciclos recorrente, e não são notadas em tendências de mais longo prazo.
O que dizem os céticos: Não há evidências de que elevações nos níveis do mar estejam associadas a níveis mais elevados de dióxido de carbono.
Os níveis do mar estão certamente subindo, e isso está acontecendo desde a última Era Glacial, 21 mil anos atrás. Mas as elevações observadas no Século XX são relativamente pequenas, e estudos recentes indicam que os níveis do mar podem ter subido mais rapidamente na primeira metade do século do que na segunda. Não há sinais de recente aceleração na taxa de elevação dos níveis do mar.
As elevações que temos visto podem refletir flutuações apenas periódicas, em nível de década, e não um aumento contínuo de longo prazo. Isso sugere que as altas do nível do mar neste século serão aproximadamente as mesmas do que no século passado e poderão ser facilmente suportadas.
A resposta: Depois de terem subido após a última Era Glacial, os níveis do mar estabilizaram há cerca de 2.000 anos e mantiveram-se razoavelmente estáveis até em torno de 1800. Mas eles vêm subindo a partir de então, cerca de 1,7 milímetro por ano no Século XX. Contrariamente ao que dizem os céticos, porém, as mensurações via satélite indicam que os níveis do mar subiram ainda mais, cerca de 3,4 milímetros por ano entre 1993 e 2008.
Embora uma elevação tão abrupta em curto prazo seja muito provavelmente um sinal de aceleração de longo prazo na alta dos níveis do mar, é ainda muito recente para que possa indicar variabilidade em nível de década; estimar a tendência de longo prazo exigirá mais anos de estatísticas.
Para o resto do Século XXI, projeções indicam que os níveis dos oceanos subirão a taxas maiores, à medida que o derretimento das placas de gelo na Groenlândia e na Antártida ocidental se acelerar. Mas é difícil fazer projeções acuradas sobre o aumento porque a mecânica do derretimento das placas de gelo é mal compreendida.
A Comissão Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) da ONU estimou em 2007 que os níveis do mar subirão entre 18 centímetros e 59 centímetros até 2095, sendo possível aumento de mais 10 a 20 centímetros se o derretimento das placas de gelo acelerar. Mas um recente relatório prevê que a alta dos níveis do mar neste século será provavelmente duas vezes maior do que prevê o relatório da IPCC.
O que dizem os céticos: O gelo polar não está desaparecendo.
Temperaturas mais altas são, em parte, responsáveis pelo recente encolhimento das áreas geladas no Ártico, mas uma mudança nos ventos é o fator principal. Além disso, a diminuição da calota polar setentrional tem sido compensada pelo incremento no gelo antártico, de modo que existe pequena perda líquida de gelo polar. Essas tendências opostas argumentam contra a existência de aquecimento causado pelo homem.
A resposta: Os dois polos da Terra parecem, efetivamente, comportar-se de modo diferente, mas isso reflete a complexidade do sistema climático do mundo, e não é evidência contra o aquecimento global.
O oceano Ártico é circundado por terra, que retém mais calor. Além disso, à medida que a calota polar derrete, o oceano mais escuro absorve mais calor e acelera a taxa de aquecimento. A Antártida, em contraste, é circundada por oceano, e modelos climáticos preveem que reagirá diferentemente ao aquecimento.
No Ártico, medições por satélites revelam que o gelo diminuiu continuamente desde fins da década de 70; em setembro, quando o tamanho da calota polar está em seu mínimo, o gelo no mar assinalou declínio em torno de 10% por década. Embora o gelo tenha recuperado um pouco de seu volume, o mínimo registrado em setembro de 2009 foi ainda 24% inferior à média de 1979 a 2000. Além disso, o gelo marinho está mais delgado, e provavelmente atingiu um volume mínimo recorde em 2008.
Na Antártida, por outro lado, o gelo invernal ampliou sua extensão em cerca de 1% por década. A maior parte do gelo marinho antártico normalmente desaparece totalmente no verão. O mecanismo desse fenômeno não é compreendido plenamente. Cientistas dizem que a diminuição do ozônio na região pode contribuir para a formação de ventos mais fortes e mais frios, que estimulam a produção de gelo marinho.
É também possível que nevascas mais intensas – resultado de um oceano meridional e temperaturas do ar mais quentes – também incrementem a quantidade de gelo marinho.
O que dizem os céticos: Não há consenso de que o aquecimento causado pela atividade humana esteja provocando um aumento desastroso nas temperaturas mundiais. Há grande discordância, entre cientistas, tanto sobre as causas do aquecimento no Século XX como sobre o aquecimento esperado para o futuro.
A resposta: Afirmações científicas raramente são definitivas, e sempre há cientistas céticos. Hipóteses são testadas e retestadas à medida que mais dados são coligidos e analisados, e discordâncias entre pesquisadores desempenham um papel vital no avanço da compreensão científica.
Mas a vasta maioria dos cientistas que estudam o clima concorda quanto a pontos essenciais: a Terra está ficando mais quente e a maior parte do aquecimento em décadas recentes foi causado por emissões de dióxido de carbono de atividades humanas. Com o aumento da concentração de CO2, a taxa de aquecimento acelerará.
Essa visão, resumida pela IPCC, é endossada pelas mais respeitadas entidades científicas mundiais, como academias nacionais de ciência de diversos países e, nos EUA, pela Associação Americana pelo Progresso da Ciência, pela União Geofísica Americana e pela Sociedade Meteorológica Americana.
Em recente pesquisa que consultou mais de 3 mil cientistas que estudam a Terra, 82% concordam que a atividade humana é um “fator contribuinte significativo” para mudanças nas temperaturas mundiais. Verificou-se maior acordo entre especialistas: 75 dos 77 cientistas especializados em clima que frequentemente publicam artigos sobre o assunto – aproximadamente 97% – concordaram.
Postado por Luis Favre Michael Totty, Wall Street Journal – VALOR
Esse consenso diz essencialmente que o planeta está se aquecendo e que a maior parte desse aumento de temperatura se deve a um acúmulo de gases que causam um efeito estufa na atmosfera, resultante das atividades humanas. Se não houver uma redução nas emissões de gases-estufa, o Século XXI verá ondas de calor mais frequentes, furacões intensos e, nos trópicos, menos chuvas.
E o que dizem os céticos? Em resumo, que o aquecimento no século passado foi pequeno e que a contribuição humana para esse aquecimento foi mínima; não existe crise. A seguir, alguns dos principais argumentos dos incrédulos – e a resposta dos que acreditam no aquecimento global.
O que dizem os céticos: A Terra não está esquentando, pelo menos não em grau que possa ser qualificado de “crise”. E alguns dados chegam a sugerir que a Terra está esfriando.
O planeta pode ter ficado mais quente ao longo do Século XX. Mas o aquecimento cessou mais de 10 anos atrás, e a partir de 1998 a tendência revelou menos aquecimento ou mesmo esfriamento. De fato, o período de dezembro de 2007 a novembro de 2008 foi o lapso de 12 meses mais frio na década. Ainda que o planeta não esteja esfriando, não há evidências de que o aquecimento esteja se acelerando ou de que as temperaturas estejam subindo a uma taxa alarmante.
A resposta: É verdade: segundo a maioria das medidas, as temperaturas médias nesta década parecem ter se estabilizado num patamar. Mas isso não é evidência de que o planeta esteja esfriando. Em parte, é consequência de escolher 1998 – um ano excepcionalmente quente – como ponto de partida. Nesse ano, houve um El Niño (fenômeno de aquecimento natural e periódico do Oceano Pacífico capaz de causar vigorosos efeitos sobre o clima mundial) atipicamente forte.
A tendência de longo prazo desde meados da década de 70 evidencia um aquecimento de aproximadamente 0,18°C por década. O fato de que as temperaturas nesta década praticamente não subiram revela como variações naturais de um ano para o seguinte no clima podem afetar a tendência de aquecimento de longo prazo causada pelo aumento de gases-estufa na atmosfera.
Ainda assim, a primeira década deste século foi excepcionalmente quente: os 12 anos de 1997 a 2008 estão entre os 15 mais quentes já registrados. E a própria década foi mais quente do que qualquer outro período anterior de 150 anos. Embora 2008 tenha sido o ano mais frio desde 2000 – consequência dos efeitos do El Niño – ainda foi o 11º ano mais quente já registrado. E 2009 deverá ficar entre os cinco mais quentes.
O que dizem os céticos: Registros de temperaturas de superfície não são confiáveis e exageram o grau de aquecimento.
A razão pela qual alguns cientistas julgam que o planeta está se aquecendo drasticamente é que estão se baseando em leituras de temperatura de estações de monitoramento terrestres que, em muitos casos, foram artificialmente intensificadas por um efeito de “ilhas de calor urbanas”. A maioria das estações estão localizadas em cidades de médio e grande porte. Entretanto, as cidades geralmente aprisionam mais calor – no asfalto, no concreto e em outras estruturas – e o efeito pode ser consideravelmente maior do que quaisquer outros efeitos de aquecimento resultantes dos gases-estufa.
A resposta: É verdade que existe um efeito de “ilhas de calor urbanas”. Mas isso não enviesou as tendências gerais.
O Instituto Goddard para Estudos Espaciais, da Nasa, compara leituras de temperatura de estações urbanas com as de estações rurais em suas proximidades, e ajusta os dados urbanos de maneira que as tendências de temperatura resultem comparáveis às de estações rurais. E quaisquer tendências nos dados baseiam-se apenas em leituras rurais. Outros cientistas descobriram que aparentes diferenças entre leituras de temperaturas urbanas e rurais provavelmente foram exageradas.
Existe também bastante evidência além das leituras de temperaturas urbanas que sugerem que o planeta está esquentando: os oceanos estão esquentando, geleiras e “permafrost” (mescla de terra, rochas e gelo congelada no Ártico) estão desaparecendo, a calota polar ártica está encolhendo e plantas e animais no Hemisfério Norte estão migrando de seus habitats históricos para o norte, mais frio.
O que dizem os céticos: Medições de temperaturas obtidas por satélites são mais confiáveis que as medidas em estações meteorológicas de superfície, e satélites evidenciam pouco aquecimento nos últimos 30 anos.
Leituras obtidas por satélites de temperaturas na baixa atmosfera compiladas pela Universidade do Alabama, em Huntsville, revelam uma tendência menor de aquecimento nos últimos 30 anos do que os registros de superfície. Esse menor aumento de temperatura está bem contido em variações naturais. Esses dados podem até mesmo apontar para uma ruptura, em torno de 2002-03, na tendência de aquecimento do Século XX.
A resposta: O mais antigos estudos de tendências de temperaturas usando dados de satélites revelaram, efetivamente, diferenças significativas com a tendência de temperaturas de superfície, mas grande parte dessa diferença resultou de problemas na maneira como os dados de satélites foram compilados. Depois que erros foram corrigidos, as medições obtidas por satélites e balões meteorológicos da baixa atmosfera evidenciam tendências de aquecimento similares às das mensurações de superfície.
O que dizem os céticos: Não há nada de particularmente atípico nas atuais temperaturas. O clima da Terra está em mutação constante, e mudanças climáticas foram bem maiores no passado. As temperaturas subiram durante o Período Quente Medieval, entre os anos 800 a 1300, e esse período foi tão ou mais quente que o Século XX. Isso foi muito tempo antes de a industrialização ter causado um aumento nos níveis de CO2, o que coloca em questão o vínculo entre aumento de dióxido de carbono na atmosfera e a alta das temperaturas.
É provável que a tendência de aquecimento que vivemos hoje seja apenas a esperada volta de temperaturas mais altas após a Pequena Era Glacial, período de invernos extremamente frios entre o Século XVI e o início do Século XIX.
A resposta: Registros confiáveis de temperaturas remontam a apenas cerca de 150 anos. Para termos um quadro do clima do mundo pré-moderno é necessário correlacionar dados de uma diversidade de fontes indiretas em todo o mundo, como amostras de gelo formado em períodos passados, crescimento de corais, anéis em secções de árvores etc. Essas reconstruções de distribuições de temperaturas exibem um padrão similar: um período mais quente durante a Idade Média, um período mais frio desde aproximadamente 1600 até 1800 e temperaturas muito mais elevadas no fim do Século XX.
Embora isso sugira que as temperaturas na Idade Média foram tão altas quanto no início do Século XX, elas foram provavelmente inferiores à aguda elevação de temperaturas nos últimos 30 anos. As temperaturas mais quentes antes do Século XX ocorreram provavelmente entre 950 e 1100 e ficaram provavelmente mais de 0,1°C abaixo da média do período 1961-1990 (usado como parâmetro de referência para a maioria das medições atuais de temperaturas).
Apesar disso, existe grande dose de incerteza na reconstrução histórica de temperaturas, e a incerteza cresce à medida que os cientistas buscam reconstruir dados de épocas mais antigas. Embora haja evidência de condições quentes na Idade Média, quanto exatamente foi mais quente e por quanto tempo pode ter variado de lugar para lugar em todo o mundo.
O que dizem os céticos: Fatores naturais são suficientes para explicar o aquecimento moderado registrado desde 1900.
Mudanças na atividade solar no passado contribuíram para amplas oscilações de temperaturas em todo o mundo. Outros fenômenos naturais, como o El Niño e sua contraparte desaquecedora, a La Niña, podem causar grandes, mas temporárias, mudanças climáticas. Essas flutuações normais são suficientes para causar o aquecimento do planeta, ao passo que os efeitos das emissões de gases-estufa é relativamente pequeno.
A resposta: Não há dúvidas de que a energia solar e mudanças naturais periódicas afetam o clima mundial. Mas esses fatores naturais não são suficientes para explicar a sensível elevação de temperaturas desde fins da década de 70. Estudos sobre a atividade solar ao longo de mais de mil anos evidenciam forte relação com as temperaturas no Hemisfério Norte; temperaturas sobem quando cresce a atividade solar, e caem quando a radiância solar, medida pelas manchas solares e outras atividades, diminui.
Mas os estudos também descobriram que a energia solar não responde pelo intenso aumento na temperatura desde meados da década de 70, período no qual a atividade solar permaneceu relativamente inalterada. A contribuição do Sol para o aquecimento a partir de então tem sido desprezível.
Mudanças climáticas naturais, como o El Niño, também têm um impacto nítido sobre padrões climáticos durante até uma década. O El Niño, por exemplo, foi responsável pelas temperaturas elevadas em 1998. Mas essas mudanças climáticas acontecem em ciclos recorrente, e não são notadas em tendências de mais longo prazo.
O que dizem os céticos: Não há evidências de que elevações nos níveis do mar estejam associadas a níveis mais elevados de dióxido de carbono.
Os níveis do mar estão certamente subindo, e isso está acontecendo desde a última Era Glacial, 21 mil anos atrás. Mas as elevações observadas no Século XX são relativamente pequenas, e estudos recentes indicam que os níveis do mar podem ter subido mais rapidamente na primeira metade do século do que na segunda. Não há sinais de recente aceleração na taxa de elevação dos níveis do mar.
As elevações que temos visto podem refletir flutuações apenas periódicas, em nível de década, e não um aumento contínuo de longo prazo. Isso sugere que as altas do nível do mar neste século serão aproximadamente as mesmas do que no século passado e poderão ser facilmente suportadas.
A resposta: Depois de terem subido após a última Era Glacial, os níveis do mar estabilizaram há cerca de 2.000 anos e mantiveram-se razoavelmente estáveis até em torno de 1800. Mas eles vêm subindo a partir de então, cerca de 1,7 milímetro por ano no Século XX. Contrariamente ao que dizem os céticos, porém, as mensurações via satélite indicam que os níveis do mar subiram ainda mais, cerca de 3,4 milímetros por ano entre 1993 e 2008.
Embora uma elevação tão abrupta em curto prazo seja muito provavelmente um sinal de aceleração de longo prazo na alta dos níveis do mar, é ainda muito recente para que possa indicar variabilidade em nível de década; estimar a tendência de longo prazo exigirá mais anos de estatísticas.
Para o resto do Século XXI, projeções indicam que os níveis dos oceanos subirão a taxas maiores, à medida que o derretimento das placas de gelo na Groenlândia e na Antártida ocidental se acelerar. Mas é difícil fazer projeções acuradas sobre o aumento porque a mecânica do derretimento das placas de gelo é mal compreendida.
A Comissão Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) da ONU estimou em 2007 que os níveis do mar subirão entre 18 centímetros e 59 centímetros até 2095, sendo possível aumento de mais 10 a 20 centímetros se o derretimento das placas de gelo acelerar. Mas um recente relatório prevê que a alta dos níveis do mar neste século será provavelmente duas vezes maior do que prevê o relatório da IPCC.
O que dizem os céticos: O gelo polar não está desaparecendo.
Temperaturas mais altas são, em parte, responsáveis pelo recente encolhimento das áreas geladas no Ártico, mas uma mudança nos ventos é o fator principal. Além disso, a diminuição da calota polar setentrional tem sido compensada pelo incremento no gelo antártico, de modo que existe pequena perda líquida de gelo polar. Essas tendências opostas argumentam contra a existência de aquecimento causado pelo homem.
A resposta: Os dois polos da Terra parecem, efetivamente, comportar-se de modo diferente, mas isso reflete a complexidade do sistema climático do mundo, e não é evidência contra o aquecimento global.
O oceano Ártico é circundado por terra, que retém mais calor. Além disso, à medida que a calota polar derrete, o oceano mais escuro absorve mais calor e acelera a taxa de aquecimento. A Antártida, em contraste, é circundada por oceano, e modelos climáticos preveem que reagirá diferentemente ao aquecimento.
No Ártico, medições por satélites revelam que o gelo diminuiu continuamente desde fins da década de 70; em setembro, quando o tamanho da calota polar está em seu mínimo, o gelo no mar assinalou declínio em torno de 10% por década. Embora o gelo tenha recuperado um pouco de seu volume, o mínimo registrado em setembro de 2009 foi ainda 24% inferior à média de 1979 a 2000. Além disso, o gelo marinho está mais delgado, e provavelmente atingiu um volume mínimo recorde em 2008.
Na Antártida, por outro lado, o gelo invernal ampliou sua extensão em cerca de 1% por década. A maior parte do gelo marinho antártico normalmente desaparece totalmente no verão. O mecanismo desse fenômeno não é compreendido plenamente. Cientistas dizem que a diminuição do ozônio na região pode contribuir para a formação de ventos mais fortes e mais frios, que estimulam a produção de gelo marinho.
É também possível que nevascas mais intensas – resultado de um oceano meridional e temperaturas do ar mais quentes – também incrementem a quantidade de gelo marinho.
O que dizem os céticos: Não há consenso de que o aquecimento causado pela atividade humana esteja provocando um aumento desastroso nas temperaturas mundiais. Há grande discordância, entre cientistas, tanto sobre as causas do aquecimento no Século XX como sobre o aquecimento esperado para o futuro.
A resposta: Afirmações científicas raramente são definitivas, e sempre há cientistas céticos. Hipóteses são testadas e retestadas à medida que mais dados são coligidos e analisados, e discordâncias entre pesquisadores desempenham um papel vital no avanço da compreensão científica.
Mas a vasta maioria dos cientistas que estudam o clima concorda quanto a pontos essenciais: a Terra está ficando mais quente e a maior parte do aquecimento em décadas recentes foi causado por emissões de dióxido de carbono de atividades humanas. Com o aumento da concentração de CO2, a taxa de aquecimento acelerará.
Essa visão, resumida pela IPCC, é endossada pelas mais respeitadas entidades científicas mundiais, como academias nacionais de ciência de diversos países e, nos EUA, pela Associação Americana pelo Progresso da Ciência, pela União Geofísica Americana e pela Sociedade Meteorológica Americana.
Em recente pesquisa que consultou mais de 3 mil cientistas que estudam a Terra, 82% concordam que a atividade humana é um “fator contribuinte significativo” para mudanças nas temperaturas mundiais. Verificou-se maior acordo entre especialistas: 75 dos 77 cientistas especializados em clima que frequentemente publicam artigos sobre o assunto – aproximadamente 97% – concordaram.
Postado por Luis Favre Michael Totty, Wall Street Journal – VALOR
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