segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

ACUADOS PELA COMUNICAÇÃO MERCADOLÓGICA , PAIS CEDEM AO CONSUMISMO INFANTIL

Na opinião da psicóloga do Projeto Criança e Consumo, Maria Helena Masquetti, do Instituto Alana, muitos pais não enfrentam o bombardeio da comunicação mercadológica porque também cresceram nesse ambiente de assédio dos meios de comunicação, que impera desde os anos 50, com o advento da televisão.

Ela acredita que parte da sociedade percebe claramente que não há condições de administrar as necessidades e emoções de todas as pessoas que foram empurradas para um consumismo que nem o planeta aguenta mais. No entanto, como isso já vem sendo construído há muito tempo, a lógica do consumo fez e faz parte da vida desses pais, que hoje se veem em dificuldade para conseguir conter o consumismo dos filhos.“Eles se desenvolveram nessa lógica. Não é tão fácil para eles radicalizarem e mudarem tudo. O que é preciso é ter sempre uma contraorientação. É importante que eles saibam que não estão sozinhos, que muita gente está se dando conta dos estragos que foram feitos até agora por conta desse domínio do interesse comercial”, afirmou.

Do berço ao túmulo

Ex-publicitária e psicóloga, Maria Helena Masquetti acredita que a comunicação mercadológica se consolidou mudando a cabeça das pessoas e pregando filosofias de vida em nome de vender produtos. Quando a criança começou a ter acesso a um volume muito grande de informações por meio da televisão, o adulto perdeu espaço na formação dos filhos e foi enfraquecido como portador do conhecimento.Segundo ela, hoje assistimos ao resultado da idéia disseminada por diversos autores da área de propaganda e marketing para garantir a fidelidade do consumidor “do berço ao túmulo”. As pessoas são capturadas para prestar culto à mídia pela vida inteira. Quebrar essa lógica exige muito empenho.“Tem muito dinheiro colocado, o poder é muito grande. Mas, você vai fortalecendo esses pais, lembrando que ser pai de um adolescente ou de uma criança, não é colher o retorno gratificante no exato momento. Para isso, a gente tem pai e mãe, porque eles ficam com a parte mais difícil mesmo. Eles colocam o que é certo, colocam limites, dizem não”, afirmou.A psicóloga reconhece que para muitos pais é difícil esperar a vida inteira que os filhos cresçam e amadureçam para reconhecer o importante papel desempenhado por eles impondo limites e educando. E os adultos também têm dificuldade para reconhecer que as necessidades das crianças são legítimas, foram criadas para elas. Meninos e meninas são vítimas do bombardeio mercadológico e realmente se sentem angustiados porque acreditam que precisam consumir.“Só o fato de gostar dos filhos, porque amam os filhos, que lhes dão paciência e maturidade para tolerar rebeldia e irritação, porque eles não têm condições de saber que o assédio é muito grande pra cima deles.”Segundo a psicóloga, é uma violência muito grande quando o marketing apela: “só falta você, venha para o mundo!”, pois a angústia da criança e do adolescente é ser aceito pelo grupo. O medo de ser excluído, abandonado está presente em todas as pessoas desde o nascimento.“A comunicação sempre mostra várias crianças fazendo parte do novo brinquedo ou da nova moda. Está fazendo de propósito, tocando no ponto vulnerável da criança propositadamente para que ela se sinta excluída e, com isso, vá desesperadamente pedir aquele objeto”, explicou.Maria Helena lembra que toda ação de marketing é amparada por pesquisas apuradas, que apontam a melhor forma de conquistar e fidelizar o consumidor. “A pesquisa é engendrada para saber em que ponto mais vulnerável vou tocar na criança. Quando descubro que a criança tem pavor de ser excluída do grupo, é claro que vou mudar a minha comunicação por aí”, afirmou.Briga entre o sim e o nãoNessa batalha desleal, abatidos pelas mesmas ações de marketing, estão os pais, “com medo de parecerem os chatos, os caretas”. Eles veem a própria autoridade ameaçada por um mercado que diz sim e tem sempre uma resposta agradável e sofisticada para as dúvidas infantis. No confronto entre o sim e o não, a criança acaba perdendo o apreço pela autoridade materna e paterna, fragilizada pela autoridade “boazinha” do mercado.“A comunicação mercadológica nunca diz não. Ela diz sim, você pode, você merece, você isso e aquilo. E a criança, como o bombardeio é muito grande, acaba desenvolvendo tantos desejos, que ela acha que precisa, porque foi convencida de que se tiver aquelas coisas ou se comportar de certa forma, ela vai ser mais feliz, mais aceita e mais amada. Ela vai implorar o máximo que puder para obter aqueles objetos ou confortos dos pais. E os pais vão acabar tendo uma demanda muito grande e vão responder muitos nãos”, afirmouPara o psicóloga, a melhor forma de filtrar as mensagens endereçadas às crianças e aos adolescentes é a presença dos pais. “É a grande oportunidade de mostrar para o filho que ela passa pelo filtro dele. Ele exerce um poder diante da televisão com a sua opinião. Como a criança não tem opinião ainda, estando mais próxima dos pais, ela começa a perceber que eles têm opinião, e que eles exercem opinião. A gente aconselha muito que as crianças não tenham televisão nos quartos para evitar o isolamento e que elas acessem o que queiram, sem critério”, ressaltou.Família margarinaQuem nunca se irritou com a família perfeita das propagandas de margarina? Para a ex-publicitária e psicóloga, é um exemplo gritante da banalização da autoridade dos pais, pois a criança acredita naquele modelo e é próprio da infância transitar facilmente entre a fantasia e a realidade.Ela confronta o que vê em casa com aquele mundo mágico do pai que nunca está bravo, a mãe que está sempre linda, e os adolescentes que não estão discutindo na mesa, estão amistosamente conversando sobre o sabor da margarina.“Aquele mundo mágico está ali, tão bem na frente dela, ela não tem condições de dizer estão me mostrando uma realidade que não é a minha, não é de ninguém que eu conheço, não é dos meus amiguinhos”, explicou.Segundo a psicóloga, a criança deixa de dar valor à própria família quando é induzida a pensar que os pais são uma porcaria em comparação àquele modelo da televisão. Na cabecinha dela, eles não têm competência para construir uma família tão perfeita. Esse tipo de mensagem incita uma desordem, uma desorganização da família que traz prejuízos para o desenvolvimento infantil. É muito importante para o equilíbrio emocional da criança, corpo e mente integrados com aquilo que ela é.“O que a criança mais precisaria é dar valor ao que ela tem, à família dela. Por pior que seja a realidade da pessoa, psiquicamente, a melhor coisa é que ela viva dentro da realidade dela, seja ela qual for. Sair da realidade por que não suporta, porque é ruim, porque é feia, vai fazer com que essa pessoa tenha muitos problemas emocionais”, afirmou.A criança precisa conhecer a realidade do mundo sem arcar com responsabilidades, pois não tem juízo crítico desenvolvido para entender o que é persuasão nem sedução. Cabe aos pais assumir essa tarefa de protegê-la do assédio, impedindo que ela seja induzida ao erro.“Por que o consumismo acaba triunfando tanto? Porque quando a criança está pedindo para o pai ou para mãe desesperada, mostrando que ela é a mais infeliz do planeta porque não tem, ela não está sendo malandrinha , ela está defendendo o direito à participação social dela. Ela fala como se o pai e a mãe não estivessem entendo o drama que ela está vivendo”, explicou.Se a criança investe emoção verdadeira, se está apavorada, e acaba convencendo os pais, é porque foi exposta até que aquela necessidade fosse criada dentro dela. Os adultos é que precisam estar atentos para conter o abuso sobre a capacidade de projetar desejos e anseios, não as crianças.

Maria Helena Masquetti é ex-publicitária e psicóloga do Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana Blog Educar e Cuidar, 21/12/2009

Link:

http://www.educarecuidar.com/2009/12/acuados-pela-comunicacao-mercadologica.html

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