domingo, 31 de janeiro de 2010

LUIZ CLAUDIO CUNHA MOSTRA COMO O PIG AJUDOU A DAR O GOLPE EM 1964

Otávio Frias, pai, militou no IPES e emprestava as camionetes aos torturadores; o filho escreveu o editorial “ditabranda”

Luiz Claudio Cunha mostra como o PiG(*) ajudou a dar o Golpe (em 1964)

O jornalista Luiz Claudio Cunha é autor do livro “Operação Condor: o sequestro dos uruguaios” – clique aqui para ler entrevista sobre o livro.

“Operação Condor” está em segunda edição.

Luiz Claudio testemunhou pessoalmente o sequestro, quando trabalhava para a revista Veja, em Porto Alegre.

O homem quem apontou a arma para Luiz Claudio, na hora de sequestrar os uruguaios, o inspetor do DOPS João Augusto da Rosa, o Irno, da equipe do delegado Pedro Seelig, pede na Justiça uma indenização.

A audiência será no dia 4 de fevereiro e uma das três testemunhas de Luiz Claudio é a própria Lilian Celiberti, que, pela primeira vez em trinta anos, ficará cara a cara com o seu sequestrador.

O livro acaba de receber “menção especial” do Prêmio Literário Casa de las Américas, de Cuba, entre 436 concorrentes.

O grande prêmio saiu para Nélida Piñon, com o livro “Aprendiz de Homero”.

Outra menção foi a Leandro Konder, autor de “Memórias de um intelectual comunista”.

Recentemente, saiu a coletânea “A Ditadura da Segurança Nacional no Rio Grande do Sul (1964-1985): História e Memória”.

São quatro volumes, 40 autores, em coedição da Escola do Legislativo “Deputado Romildo Bolzan” e Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, Porto Alegre, 2010.

O primeiro volume trata “Da Campanha da legalidade ao Golpe de 64”.

E, aí, Luiz Claudio Cunha fala do papel do PiG (*) no Golpe de 1964 e sobre como jornalistas e intelectuais participaram de organizações como o IPES/IBAD para manipular a opinião pública contra o presidente democraticamente eleito João Goulart.

sábado, 30 de janeiro de 2010

ISSO É UMA VERGONHA Garnett

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Vídeo sensacional: o rap do Boris
29/janeiro/2010 20:06

“Futebol !”

O Conversa Afiada atende a sugestão do amigo navegante Sergio Silva

em 29/janeiro/2010 as 19:04

Imperdível o Rap do Boris!!!

Inteligente e bem produzido, o vídeo “Isso é Uma Vergonha“ foi feito após a declaração do jornalista Boris Casoy no intervalo do Jornal na Band e já é um sucesso no YouTube.
É de autoria do rapper Daniel Garnett.

O vídeo destaca-se por ser provocativo e irreverente, do início ao fim.
E já foi até comentado na TV aberta. O programa Manha Maior, da Rede TV, mostrou trechos do vídeo.

Em entrevista ao site Radar Urbano, Garnett declarou:

“…Mas falando especificamente do vídeo, a intenção foi ser tão hostil quanto o comentário do Boris, e fazer a inversão dos papéis. Ele como ouvinte e nós como agressores verbais, que por final, pede desculpa de forma mecânica e robotizada, já passando para a próxima notícia a fim de abafar o caso “Futebol…“

MEMORIAL DA ANISTIA POLÍTICA CARTA AO MINISTRO DA JUSTIÇA I

Belo Horizonte, 24 de setembro de 2009.

Excelentíssimo Senhor Dr. Tarso Genro

D.D. Ministro de Estado da Justiça,

Assunto: Escultura de Oscar Niemeyer

Senhor Ministro,

Inicialmente, gostaria de agradecer a Vossa Excelência pelo convite para participar do Ato Comemorativo dos 30 Anos de Luta pela Anistia no Brasil realizado no Rio de Janeiro em 22 de agosto próximo passado. A oportunidade proporcionou-me viver momentos marcantes, o que acredito tenha acontecido também com todos os presentes.

Durante a solenidade, tive a satisfação de entregar a Vossa Excelência uma réplica da maquete da escultura de autoria de Oscar Niemeyer intitulada Arco da Maldade. O projeto dessa escultura, feito em homenagem a todos os que lutaram contra a ditadura, foi doado pelo autor aos movimentos de anistia.Transcrevo abaixo texto escrito por ele acerca do projeto:

“Quando Flora de Abreu e João Luiz de Moraes me convidaram para desenhar o monumento ´Tortura Nunca Mais´, senti a oportunidade de me iniciar no campo da escultura. Dessa escultura de maior porte, mais livre, mais ligada aos problemas da vida que o concreto armado oferece. E como o tema exigia, a fiz democrática, denunciadora, lembrando o longo período de tortura e morte que pesou sobre o nosso país. Meu desenho representa esses negros tempos, com a pessoa transpassada pelas forças do mal, impotente diante do ódio organizado. Para os mais sensíveis, para os que veem o mundo apaixonadamente e amam o seu próximo e se levantam contra a opressão e o arbítrio, o monumento provoca a revolta pretendida”.

Ao entregar a Vossa Excelência a réplica da maquete, fiz-lhe a sugestão de construir a escultura no Memorial da Anistia Política no Brasil, em Belo Horizonte. A sugestão tem dois motivos: primeiro, o local é o mais apropriado; segundo, nós, dos movimentos de anistia, não temos condição de viabilizar a construção da escultura: ganhamos o projeto há mais de 20 anos e desde então ele espera a oportunidade de sua construção.

À sugestão já feita acrescento nesta oportunidade uma outra, que é a de manter o nome do sociólogo e batalhador pela vida Herbert José de Souza – Betinho à praça onde o Memorial da Anistia Política no Brasil se instala em Belo Horizonte. Quando vereador nesta Capital, foi de minha autoria o projeto de lei que deu nome à praça, por meio da Lei Municipal nº 3966, de 27 de março de 2000. Menciono o fato nas páginas 298 a 303 do livro de minha autoria Rua Viva, do qual entreguei a Vossa Excelência um exemplar, juntamente com a réplica da maquete da escultura.

A seu dispor para todo esclarecimento, mais uma vez agradeço pela atenção.

Atenciosamente,

Alberto Carlos Dias Duarte

Betinho Duarte

Ex-Presidente do Comitê Brasileiro pela Anistia /MG

Vereador em Belo Horizonte (1993-2004)

Presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte (2003-2004)

Primeiro Ouvidor Geral do Município de Belo Horizonte

Ex-Prefeito interino de Belo Horizonte

MEMORIAL DA ANISTIA POLÍTICA

MEMORIAL DA ANISTIA POLÍTICA CARTA AO MINISTRO DA JUSTIÇA II

Belo Horizonte 01 de outubro de 2009
Excelentíssimo Senhor Dr. Tarso Genro
D.D. Ministro de Estado da Justiça

Senhor Ministro,

Gostaria de acrescentar algumas informações relativas à carta por mim enviada em 24 próximo passado.

Quanto à sugestão da construção da escultura ARCO DA MALDADE, de autoria do Dr. Oscar Niemeyer, saliento que a maioria dos movimentos de anistia e direitos humanos a adotam como símbolo. Vide anexos.

Em relação ao nome da praça Herbert de Sousa, a ser construída nos terrenos da antiga FAFICH, esclareço que:

1- desde 1993 este assunto está em discussão, conforme carta da Secretária Municipal de Educação, Sandra Starling (anexo);

2 - foi publicado no Diário Oficial do Município - DOM, 05/02/2000 - AVISO DE LICITAÇÃO - Concorrência Pública 001/00 para a contratação de empresa prestadora de obras de engenharia para a implantação da 1ª Etapa da Obra da Praça do Bairro Santo Antônio, por ordem do Administrador Regional Centro-Sul, Wagner Caetano Alves de Oliveira (anexo);

3 - os projetos arquitetônico e paisagístico vencedores da licitação, elaborados em 1966, estão em meus arquivos;

4 - apresentei, enquanto vereador de Belo Horizonte, Projeto de Lei nº 1421, de 05/10/1999, dando o nome de Herbert de Sousa à praça no Bairro Santo Antonio (anexo);

5 - o prefeito, Dr. Célio de Castro, sancionou a Lei nº 7.966, de 27/03/2000, que deu o nome de Herbert de Sousa à praça no Bairro Santo Antônio (anexo);

6 - o Prefeito de Belo Horizonte, Dr. Célio de Castro, a Secretária Municipal de Educação, Maria Ceres Pimenta Spínola Castro, e o Administrador Regional Centro-Sul, Wagner Caetano Alves de Oliveira, convidam para a solenidade de Lançamento do Projeto da Praça do Bairro Santo Antônio (anexo);

7 - no dia 19/02/2000, a pedra fundamental da praça foi inaugurada, com o comparecimento de centenas de pessoas, dentre moradores e autoridades (anexo);

8 - a primeira etapa do projeto foi realizada com a reforma do prédio da Secretaria Municipal de Educação e a construção do ginásio e quadra esportiva;
9 - em 06/07/2007 entreguei ao presidente da Fundação de Parques Municipais, Luís Gustavo Fortini, toda a documentação a respeito da praça (anexo).

Diante das considerações, volto a sugerir a construção da escultura ARCO DA MALDADE e a manutenção do nome Herbert de Sousa na praça onde está sendo construído o Memorial da Anistia Política.

Desde já agradeço a atenção,

ALBERTO CARLOS DIAS DUARTE

BETINHO DUARTE

Presidente do Comitê Brasileiro pela Anistia/MG

Vereador em Belo Horizonte (1993-2004)

Presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte (2003-2004)

Ex-Prefeito interino de Belo Horizonte

AQUI NÃO É O EXÉRCITO , NEM A MARINHA E NEM A AERONÁUTICA, AQUI É O INFERNO.(...)

AQUI NÃO É O EXÉRCITO , NEM A MARINHA E NEM A AERONÁUTICA, AQUI É O INFERNO.(...)

expressão de um torturador ouvida pelo preso político em 1974 José Elpidio Cavalcante ( BNM - pag. 240 )

APRESENTAÇÃO

O texto em anexo serviu como base para a minha participação como palestrante, na audiência pública convocada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, realizada no dia 01 de outubro de 2009.

Meus argumentos foram baseados nas seguintes publicações:
1 - BRASIL NUNCA MAIS - um relato para a História - Editora Vozes

2- REVISTA ANISTIA - Política e Justiça de Transição - editada pelo Ministério da Justiça lançada em 28 de agosto de 2009

3 - O capitão Lamarca e a VPR - Repressão Judicial no Brasil - Wilma Antunes Maciel

4 - Carta Capital - Crime contra a Humanidade - Manifesto de juristas defende processo contra torturadores

BETINHO DUARTE
PRESIDENTE DO COMITÊ BRASILEIRO PELA ANISTIA / MG


1 - O QUE É TORTURA

A tortura foi definida pela Associação Médica Mundial, em assembléia realizada em Tóquio, a 10 de outubro de 1975, como: "a imposição deliberada, sistemática e desconsiderada de sofrimento físico ou mental por parte de uma ou mais pessoas, atuando por própria conta ou seguindo ordens de qualquer tipo de poder, com o fim de forçar uma pessoa a dar informações, confessar, ou por outra razão qualquer".
O psicanalista Hélio Pellegrino observa que "a tortura busca, à custa do sofrimento corporal insuportável, introduzir uma cunha que leve à cisão entre o corpo e a mente. E , mais do que isto: ela procura, a todo preço, semear a discórdia e a guerra entre o corpo e a mente. Através da tortura, o corpo torna-se nosso inimigo e nos persegue. É este o modelo básico no qual se apóia a ação de qualquer torturador. (...). Na tortura, o corpo volta-se contra nós exigindo que falemos. Da mais íntima espessura de nossa própria carne, se levanta uma voz que nos nega, na medida em que pretende arrancar de nós um discurso do qual temos horror, já que é a negação de nossa liberdade. O problema da alienação alcança, aqui, o seu ponto crucial. A tortura nos impõe a alienação total de nosso próprio corpo, tornando-o estrangeiro a nós, e nosso inimigo de morte. (...) O projeto da tortura implica numa negação total - e totalitária - da pessoa, enquanto ser encarnado. O centro da pessoa humana é a liberdade. Esta, por sua vez , é a invenção que o sujeito faz de si mesmo, através da palavra que o exprime. Na tortura, o discurso que o torturador busca extrair do torturado é a negação absoluta e radical de sua condição de sujeito livre. A tortura visa ao avesso da liberdade. Nesta medida, o discurso que ela busca, através da intimidação e da violência, é a palavra aviltada de um sujeito que, nas mãos do torturador, se transforma em objeto".
Leonardo Boff também expressa assim esse suplício:
(...) o mais terrível da tortura política é o fato de que ela obriga o torturado a lutar contra si mesmo. A tortura cinde a pessoa ao meio (...). A mente quer ser fiel à sua causa e aos companheiros; não quer de forma alguma entregá-los. O corpo submetido a toda sorte de intimidação e aviltamento, para ver se livre da tortura, tende a falar e assim fazer a vontade do torturador.
Enfim, é tortura tudo aquilo que deliberadamente uma pessoa possa fazer a outra, produzindo dor, pânico, desgaste moral ou desequilíbrio psíquico, provocando lesão, contusão, funcionamento anormal do corpo ou das faculdades mentais, bem como prejuízo à moral.
No Brasil durante a ditadura militar o CRIME de tortura foi sistematicamente aplicado. A institucionalização do CRIME de tortura foi uma opção política do regime militar.
Sobre a institucionalização da tortura, o documento dos presos políticos do Rio de Janeiro dirigido à Ordem dos Advogados do Brasil - OAB - em novembro de 1976 aponta:
(...) três aspectos fundamentais da tortura: 1) enquanto tentativa de intimidação frente à população; 2) enquanto método de coleta de informações; 3) enquanto base para o funcionamento da Justiça Militar.

2 - QUEM EXERCIA A REPRESSÃO E A TORTURA

Uma vasta e complexa estrutura, unificada sob a égide do sistema DOI-CODI, com a hegemonia das Forças Armadas, respondeu pela repressão e pela tortura durante a ditadura militar.
Ligados pelo CODI (Centro de Informações de Defesa Interna) ao comando nacional de repressão (Conselho de Segurança Nacional, Serviço Nacional de Informações, Centro de Informações do Exército, Centro de Informações da Marinha, Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica), os DOIS (Departamento de Operações Internas) congregaram a nível regional os órgãos repressivos das três armas, somando-se também a polícia política, a Polícia Militar e os grupos especiais de operações, dentre eles o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), todos subordinados diretamente ao Estado Maior das Forças Armadas (EMFA). A tortura institucionalizou-se, portanto, a partir dos próprios centros de poder, por seus canais mais diretos.
Um grupo de organizações para-militares de extrema direita (Aliança Anticomunista Brasileira, Centelha, Voluntários da Pátria, TFP - Tradicional Familia e Propriedade, CCC - Comando de Caça aos Comunistas , MAC - Movimento Anti-Comunista e outras) contribui para a repressão, tendo suas ações repressivas e terroristas acobertadas e respaldadas pelo Estado.

3 - COMO SE EXERCIAM A REPRESSÃO E A TORTURA

Prisões arbitrárias, com posterior abertura de inquérito. Utilização de diversas formas de tortura durante a fase de inquérito. Desaparecimento de réus. Os órgãos de repressão tinham domínio absoluto sobre os investigados, desrespeitando todos os direitos constitucionais e as próprias leis criadas pelo regime.

4 - QUAIS ERAM AS FORMAS DE TORTURA

Agressão física e pressão psicológica foram feitas de diversas formas, entre elas as que se utilizavam de:

1 - pau-de-arara (barra de ferro atravessada entre os punhos amarrados e a dobra dos joelhos, dependurando o réu);
• 2 - choque elétrico;
• 3- pimentinha (magneto que produzia eletricidade de baixa voltagem e alta amperagem);
• 4 - afogamento (um tubo de borracha jorrando água continuamente na boca do torturado);
• 5 - cadeira do dragão (cadeira pesada com assento de zinco, com terminal para receber choque elétrico e empurrar, a cada espasmo do preso, as suas pernas para trás, ferindo-as continua e progressivamente);
• 6 - geladeira (colocação do preso em um ambiente de temperatura baixíssima);
• 7 - insetos e animais (cobras, jacarés, cães, baratas, lançados sobre os presos);
• 8 - produtos químicos;
• 9 - cassetetes e forquilhas
• 10 - violação sexual.
• 11 - telefone (aplicar golpe com as mãos nos dois ouvidos)
• 12 - palmatória
• 13 - esbofeteamento
• 14 - empalamento (consiste em espetar uma estaca através do ânus até a boca do torturado para levá-lo à morte, deixando um carvão em brasa na ponta da estaca para que, quando esta atingisse a boca, o supliciado não morresse até algumas horas depois, de hemorragia)
• 15 - queimadura com cigarros
• 16 - mordidas de cachorro
• 17 - coroa de cristo ( fita de aço que vai sendo gradativamente apertada, esmagando aos poucos o crânio da vitima )
• 18 - arrancamento de dentes com alicate
• 19 - injeções de éter subcutâneas
• 20 - arrancamento de unhas
• 21 - soro da "verdade" ( PENTOTAL )
• 22 - fuzilamento simulado
• 23 - ameaças de morte (à própria pessoa, a filhos e companheiros)
• 24 - assistir à torturas de companheiros
• 25 - aplicar torturas em companheiros
• 26 - desorganização têmporo-espacial
• 27 - enterro simulado

5 - PRINCIPAIS LOCAIS CLANDESTINOS DE PRISÃO TORTURA e ASSASSINATOS DE PRESOS POLÍTICOS

• A "Casa dos Horrores" em Fortaleza, onde um policial gritou : "Aqui não é o Exército, nem a Marinha, nem a Aeronáutica, aqui é o Inferno";

• A "Casa de São Conrado", no Rio de Janeiro;/

• A "Casa de Petrópolis";

• O Colégio Militar de Belo Horizonte;

• A "fazenda" e a casa de São Paulo.


6 - TORTURA - CRIMES DE LESA - HUMANIDADE E IMPRESCRITIBILIDADE

Um grupo de mais de cem juristas, advogados, juízes e promotores de todo o país assinaram um manifesto em apoio à decisão do Ministério da Justiça de propor um debate nacional sobre o alcance da lei da anistia e sobre a possibilidade de processo pelo crime de tortura durante a ditadura militar
O "Manifesto dos Juristas" sustenta que a prática de tortura não constitui um crime político, mas sim um crime de lesa humanidade. " Além disso, afirma ainda, " é consenso na doutrina e jurisprudência internacionais que atos cometidos pelos agentes do governo durante as ditaduras latino-americanas foram crimes contra a humanidade". "A Corte Interamericana de Direitos Humanos, nesse sentido, consolidou entendimento que os crimes de lesa- humanidade não podem ser anistiados por legislação interna, em especial pelas leis que surgiram após o fim das ditaduras militares".
O Ministério Público Federal, através da Procuradoria da República em São Paulo/SP, solicitou ao Centro Internacional Para a Justiça Transicional parecer técnico sobre a natureza dos crimes de lesa- humanidade, a imprescritibilidade de alguns delitos e a proibição de anistias através do ofício n PR/SP - GABPR 12 - EAGP 352/2008 de 04 de julho de 2008, procedimento nº 1. 34.001.008495/2007

O parecer é claro e explicativo que tortura é CRIME de lesa-humanidade e imprescritível.

MOSCAS DE RUANDA

Nós, as moscas de Ruanda,
Vimos prestar nossas puras homenagens
A absolutamente toda a humanidade,
À grandeza de vossa raça nas raias do século XXI.
Agradecemos quase um milhão de corpos putrefeitos,
Temos engordado muito sobre vossos cadáveres.
Assistimos exultantes a vossos massacres nas ruas,
Igrejas, escolas, casas, hospitais (as moscas de
todos os lugares assistem a vosso espetáculo
de solidariedade e tolerância).
Hoje, nos alimentamos nas valas comuns,
Jantar mais lauto que vossos pratos vazios;
Vossos olhos remelados são mais gostosos
Que o barro das panelas quebradas.
Em júbilo, vemos a evolução do homo sapiens,
Que já nos aceita em seu corpo:
Enfim, a união pacífica entre homens e moscas.
Hoje, nessa santa terra,
Nos multiplicamos como homens em favelas,
Crescemos como o lucro do capital internacional,
Apátrida como os hutus e tutsis
em seu próprio país.
Agradecemos especialmente à ONU
(cujos médicos muito nos incomodam),
desta vez tão placidamente calma,
como se Ruanda fosse uma virgem feia que,
sem dote, ficará solteira para sempre.
O cavaleiro de capacete azul,
Tão belo e imponente,
Não desposaria noiva sem riquezas
(ouro, petróleo ou diamante).
Se a donzela feia e pobre é violentada, e daí?
Rapazes louros e bonitos gostam de faces coradas,
Negras magras não.
Louvamos vossa apatia,
E o silêncio conivente de vossas
cortes internacionais,
deixando vossos irmão às moscas,
como se fossem moscas mortas.
Mas nós, vivas, apreciamos o sangue
Que vossos brilhantes e eficientes fuzis derramam.
Assim, por tudo isso,
Nós, as moscas de Ruanda,
Não poderíamos ficar silentes.
Portanto, neste Manifesto, vos homenageamos:
Reconhecemos vossa preciosa colaboração.
Amados humanos, vinde,
Sentemos a uma só mesa, sempre.
Nós vos homenageamos:
Gratas, nós, as moscas,

QUE SAUDADE !!!!

Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.
Ninguém avisava nada, o costume era chegar de pára-quedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.
– Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre.
E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.
– Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!
A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... Casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.
Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha – geralmente uma das filhas – e dizia:
– Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa.
Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... Tudo sobre a mesa.
Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também. Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... Era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...
Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa.. A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... Até que sumissem no horizonte da noite.
O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:
– Vamos marcar uma saída!..... – ninguém quer entrar mais.
Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.
Casas trancadas. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos do leite.....
Que saudade do compadre e da comadre!


José Antônio Oliveira de Resende

Professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa

Departamento de Letras, Artes e Cultura

Universidade Federal de São João del-Rei.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A PERVERSÃO FARMACÊUTICA

Os vários negócios de uma indústria poderosa e lucrativa que se alimenta na reprodução de uma sociedade hipermedicada.

Por Ari de Oliveira Zenha

A toda poderosa indústria farmacêutica adquiriu ao longo do desenvolvimento do capitalismo uma força e importância incalculável para a sociedade mundial.

Seu poder tanto político e econômico é avassalador, pois sua atividade está ligada a uma das necessidades básicas dos seres humanos, a saúde, ou seja, a superação das doenças e dos males que afetam as pessoas.

Os laboratórios farmacêuticos cujas sedes estão localizadas nos Estados Unidos e na Europa tentam garantir, a todo custo, e, ai vale qualquer artifício, seus lucros, que são gigantescos, de qualquer forma.

A indústria farmacêutica atua no mundo de forma desumana e cruel. Ela tem pautado suas atuações como um setor de produção qualquer, ou seja, a procura de todas as formas de lucro, de acumulação, se inserindo, assim como um dos setores produtivos – entre milhares – que compõe a estrutura do modo de produção capitalista.

A produção de medicamentos se tornou um negocio como outro qualquer, como produzir sapatos, automóveis e outros bens de consumo, o que prevalece é a busca de lucros cada vez maiores, não importando que para isso ela tenha que subornar colocar centenas de lobistas no Congresso dos países, de deixar de fabricar determinados medicamentos que não são rentáveis, não investirem quase nada em Pesquisa e Desenvolvimento de novos remédios, pois isto requer anos de pesquisa e muitas vezes levam ao fracasso, ou seja, os investimentos numa nova droga – medicamento – podem levar a nada. Isto faz com que essas empresas aleguem que tenham altos custos para a produção de medicamentos que salvam vidas, e ai, mora uma grande jogada destas indústrias, elas recebem elevados subsídios dos governos e, além disso, usam para justificar os altos preços dos seus medicamentos alegando que atuam na Pesquisa e Desenvolvimento de novos remédios. Mas na verdade elas aplicam enormes recursos financeiros em marketing e em maquiar os antigos medicamentos, em patrocinar congressos e conferências médicas, em “visitas” aos consultórios médicos e na distribuição de amostras grátis.

Quem já não viu os representantes dos laboratórios, muito bem vestidos, muito bem treinados, que constantemente estão às portas dos consultórios médicos e clínicas médicas passando “informação” sobre algum “novo” medicamento?

A médica norte-americana Márcia Angell esclarece as artimanhas e as atividades que este setor – farmacêutico – realiza notadamente nos Estados Unidos e que se alastra para todo o planeta. Segundo Angell “... Tornamos-nos uma sociedade hipermedicada. Os médicos infelizmente foram muito bem treinados pela indústria farmacêutica, e o que aprenderam foi a pegar o bloco de receituário. Acrescente-se a isso o fato de que a maioria dos médicos está muito pressionada em termos de tempo, em decorrência das exigências das administradoras de planos de saúde, e podem pegar aquele bloco com grande rapidez. Os pacientes também aprenderam muito com os anúncios da indústria farmacêutica. Eles aprenderam que, a não ser que saiam do consultório médico com uma prescrição, o médico não está fazendo um bom trabalho. O resultado é que gente demais acaba por tomar medicamentos quando pode haver modos melhores de lidar com seus problemas. Mais serio é o fato de que muitos de nós estamos tomando muitos medicamentos ao mesmo tempo – freqüentemente cinco, talvez dez, ou até mais. Essa prática é denominada “polimedicação” e traz consigo riscos reais. O problema é que muito poucos medicamentos têm apenas um efeito. Além do efeito desejado, há outros. Alguns são efeitos colaterais que os médicos conhecem, mas pode haver outros dos quais não tenham conhecimento. Quando vários medicamentos são tomados de uma vez, esses outros efeitos se somam. Pode haver também a interação medicamentosa, na qual um medicamento bloqueia a ação de outro ou retarda seu metabolismo, de modo que sua ação e seus efeitos colaterais são aumentados.”

Forma de atuação

Não que não haja bons medicamentos para a nossa saúde, para que tenhamos uma vida mais longa e de melhor qualidade. Que os medicamentos sejam receitados com cuidado e que os médicos quando os prescrevem estejam fundamentados em pesquisas e informações verdadeiras e que seja de acesso a todos estes profissionais, pois as indústrias farmacêuticas, quase sempre não passam todas as informações aos médicos, omitindo propositadamente informações essenciais para que estes realizem seus procedimentos médicos com segurança e qualidade para seus pacientes.

A máquina de fazer dinheiro dos laboratórios farmacêuticos esta baseada nas informações falsas, em subornos e propinas que se alastram em todos os setores médicos.

Muitas vezes apenas com dietas e exercícios se obtém melhores resultados que os medicamentos.

Outro fato abominável é que a indústria farmacêutica utiliza, para manter seus enormes lucros, as patentes. Ou seja, patentear um medicamento mesmo que maquiado, apenas modificando a dosagem e mudando a cor das pílulas é garantia para que esses tenham a patente prorrogada e mesmo aumentada em vários anos a mais.

Os medicamentos maquiados, ou melhor, medicamentos de imitação, vem sendo uma grande “jogada” no intuito de manter as patentes e seus elevados lucros.

Outra frente de luta pelos lucros mantida pelos grandes laboratórios é a produção dos genéricos. Esses são mais um potencial e efetivo problema para eles, pois são mais baratos e tem o mesmo efeito dos medicamentos de marca.

Os grandes centros de Pesquisa e Desenvolvimento de novos medicamentos estão nas Universidades nos grandes centros médicos acadêmicos sendo realizada por seus cientistas que tem contribuído para o aparecimento da grande maioria dos novos medicamentos. Estas instituições recebem recursos financeiros do Estado, o que significa dizer que são financiados pela população de seus países. A indústria farmacêutica tem procurado, sistematicamente, se relacionar e se associar com estas instituições patrocinando com generosos recursos financeiros as pesquisas realizadas por estes cientistas. Os medicamentos comercializados quase sempre provêm de pesquisas financiadas com recursos públicos e executadas por Universidades, como disse, e pelas pequenas empresas de biotecnologia. Estes grandes laboratórios agem a nível global, ou seja, sem nenhum constrangimento eles procuram adquirir de terceiros, incluindo os pequenos laboratórios espalhados pelo mundo, qualquer pesquisa que exista e que segundo suas avaliações, tem indícios de serem promissores.

Uma, dentre várias, necessidades da indústria farmacêutica é desenvolver medicamentos para clientes que podem pagar os preços estabelecidos por eles. Os laboratórios estavam, há tempos, voltados para pesquisar, para desenvolver medicamentos para tratar doenças, hoje estes anunciam “doenças” que se encaixam nos medicamentos que produzem. Isto pode parecer paradoxal e mesmo perverso, mas é até onde tem chegado essa indústria.

Quem já se deu ao “trabalho” de ler uma bula de remédio já notou que na sua grande maioria determinado medicamento é indicado para vários tipos de doenças, isto também é uma forma dos grandes laboratórios burlarem a lei de patentes e ao mesmo tempo aumentar seus lucros, pois o tal remédio serve para inúmeros males, isso tudo com o olhar complacente das autoridades e órgãos públicos.

Especulação

Quando um grande laboratório anuncia a criação de um novo medicamento, com grande potencial de consumo, logo suas ações na bolsa de valores sobem vertiginosamente, pois os lucros presumidos nesse novo medicamento são muito grandes e é lucro garantido não só para os laboratórios como para seus investidores/acionistas.

A indústria farmacêutica manipula resultados de pesquisas científicas, não realiza todos os procedimentos necessários para colocá-lo no mercado com segurança para a população, ou seja, a necessidade de auferir lucros, o mais rápido possível, é o que importa!

Nos dias de hoje pode-se patentear bem dizer qualquer coisa e as indústrias farmacêuticas aproveitam e incluem novos usos, formas de dosagem e combinações de medicamentos antigos chegando ao cúmulo de mudar, como já foi dito, até a cor das pílulas.

A indústria farmacêutica não tem interesse em desenvolver medicamentos para tratar doenças tropicais, tais como: malária, a doença do sono ou a esquistossomose, doenças comuns nos países em desenvolvimento e do terceiro mundo, pois nesses países a população é muito pobre e não poderiam comprar seus medicamentos. Por outro lado ela investe, com abundância, em medicamentos para reduzir o colesterol, tratar transtornos emocionais, febre do feno ou azia.

Precisamos, com urgência, tomar providencias contra estas gigantes da indústria farmacêutica que insistem em distorcer pesquisas, em aumentar seus lucros custe o que custar, em manter através das patentes o monopólio de produção e comercialização dos seus medicamentos e de aumentar seus preços a níveis estratosféricos. Sem que as autoridades e a população mundial não tomarem medidas duras contra a ganância dos laboratórios farmacêuticos e seus comportamentos, o que nos espera, além do que já estamos vivendo, é o mundo da saúde se transformar num imenso inferno dantesco.






VIVA CUBA
















CUBA

Conforme establece la Constitución, Cuba es un estado socialista de trabajadores, independiente, soberano y laico, organizado con todos y para el bien de todos, como república unitaria y democrática, para el disfrute de la libertad política, la justicia social, el bienestar individual y colectivo y la solidaridad humana, y cuya fuerza dirigente superior es el Partido Comunista, organizador y orientador de los esfuerzos comunes por construir un mundo mejor.

En Cuba, la soberanía reside en el pueblo, del cual dimana todo el poder del Estado, ejercido por sus distintas instancias, de manera directa y ampliamente participativa. El órgano supremo del poder del Estado es la Asamblea Nacional del Poder Popular (Parlamento), que elige a su vez al Consejo de Estado y al Presidente de la República, al Primer Vicepresidente y los Vicepresidentes, al Consejo de Ministros, al Fiscal General de la República y al Tribunal Supremo Popular, máxima instancia del Poder Judicial.

El Presidente es a su vez el Jefe del Gobierno y representa internacionalmente a la República de Cuba, garantiza la independencia nacional, la unidad del Estado y el funcionamiento regular de las instituciones democráticas, siendo, por inherencia, el Comandante en Jefe de todas las instituciones armadas.

El Presidente de la República, Dr. Fidel Castro Ruz, fue reelecto por un período de cinco años, el 6 de Marzo de 2003.

Son los ciudadanos quienes en todo el sistema electoral cubano postulan y eligen directamente a los candidatos a todas las instancias de poder del Estado que, en el caso de los comicios municipales y generales, son nombrados por sufragio universal, libre y secreto. En los comicios de enero de 2003 se eligieron los diputados a la VI Legislatura del Parlamento unicameral y los delegados a las catorce asambleas provinciales del Poder Popular. En esa ocasión, ejerció el voto el 97,61% de los más de 8 millones de ciudadanos con derecho al sufragio. El voto en Cuba no es obligatorio.

De acuerdo con la ley, la Asamblea Nacional del Poder Popular, representa proporcionalmente a todos los cubanos. El 50% de los 601 diputados al Parlamento son delegados de circunscripción y el resto son personalidades nacionales o provinciales, incluidos políticos, empresarios, científicos, médicos, obreros, maestros, intelectuales, deportistas, artistas, líderes religiosos y de otras esferas de la sociedad.

La 6ta. Legislatura de la Asamblea Nacional del Poder Popular, formada como resultado de las elecciones legislativas del 6 de marzo de 2003, está presidida por el Dr. Ricardo Alarcón de Quesada.

LA POBLACIÓN

De acuerdo con las estadísticas del 31 de diciembre del 2005, Cuba tiene una población total de 11 243 836, dividida en 5 630 428 hombres y 5 613 408 mujeres. Su población urbana asciende a 8 495 703 y la rural a 2 748 133. El crecimiento demográfico es bajo, con una tasa de fecundidad inferior al nivel de reemplazo, con menos de una hija por mujer. La mortalidad infantil es de 5,7 por cada mil nacidos vivos. La esperanza de vida es de 77 años.

LA BANDERA

La bandera de Cuba está conformada por tres listas azules que representan los departamentos en que originalmente se hallaba dividida la Isla durante la administración colonial. Las dos franjas blancas evocan la pureza del ideal independentista del pueblo. El triángulo equilátero representan la libertad, la igualdad y la fraternidad y su color rojo simboliza la sangre que sería necesario verter en la lucha por conquistar la independencia. La estrella blanca y solitaria simboliza la unidad en la libertad.

La bandera ondeó en suelo cubano por primera vez en 1850 y fue adoptada como la enseña nacional por la Asamblea Constituyente de la República en Armas reunida en 1869 en Guáimaro, Camagüey.

EL ESCUDO

Tiene la configuración de una adarga ojival, en cuyo cuartel superior aparece enmarcada entre dos extremos de tierra una llave dorada sobre el mar azul, que simboliza la posición clave de Cuba entre las dos Américas. El sol naciente simboliza el surgimiento de la nueva nación. Las tres franjas azules, separadas por dos blancas, representan los departamentos en que estaba divida Cuba en la etapa colonial. La Palma Real que aparece en el tercer espacio o cuartel, en medio de un paisaje cubano, representa la pródiga naturaleza y la hidalguía y serena firmeza del cubano. El escudo está orlado por una rama de olivo y otra de encina, símbolos de la victoria y la fortaleza, y descansa sobre un haz de varas que encarna la unidad de los cubanos, coronado por el gorro frigio de la libertad, con la estrella solitaria, símbolo de una sola e indivisible nación.

HIMNO NACIONAL


Su música fue compuesta en 1867 por el ilustre patriota bayamés Pedro Figueredo y ejecutada por las fuerzas insurrectas al tomar la ciudad de Bayamo el 20 de octubre de 1868, ocasión en que su autor puso como letra los siguientes versos.

Al combate corred, bayameses
que la Patria os contempla orgullosa,
no temáis una muerte gloriosa
que morir por la Patria es vivir.

En cadenas vivir es vivir
en afrenta y oprobio sumidos.
Del clarín escuchad el sonido
a las armas valientes corred.



LA FLOR NACIONAL

La Mariposa Blanca, especie de jazmín endémico delicado y de suave fragancia.



EL AVE NACIONAL

El Tocororo (Priotelus temnurus). Ave autóctona de la familia del Quetzal, reproduce en su plumaje los colores de la bandera cubana: rojo, azul y blanco. Simboliza la libertad puesto que no puede vivir en cautiverio.



EL ARBOL NACIONAL

La Palma Real. Aunque está presente en todo el Caribe, domina el paisaje del país, proporcionando, desde tiempos remotos, madera y techumbre para construcción de viviendas. Sus frutos sirven para alimentar el ganado, sus hojas se emplean para la confección de materiales con que preservar producciones agrícolas. Su figura enhiesta soporta en pie la fuerza de los más furiosos vendavales, siendo expresiva de la firmeza e hidalguía de la nación frente a la hostilidad exterior.

LA NACIONALIDAD CUBANA

En el siglo XVIII comienza a cuajar en Cuba un nuevo grupo humano con identidad propia, a partir de la mezcla racial y cultural de los descendientes de colonizadores e inmigrantes, de los esclavos de origen africano y los escasos remanentes de la población aborigen, compartiendo la misma lengua y siendo comúnmente influidos por nuevas ideas e intereses económicos particulares, que se suman a formas de convivencia y gustos distintivos y diferentes a los característicos de la metrópoli colonial. Surge así el cubano que busca, con resolución, su autodeterminación.

DE LA RELIGIÓN

La Constitución de la República de Cuba establece en sus artículos 8 y 55 lo siguiente: Art. 8 "El Estado, reconoce, respeta y garantiza la libertad religiosa. En la República de Cuba, las instituciones religiosas están separadas del Estado. Las distintas creencias y religiones gozan de igual consideración". Art. 55 "El Estado, que reconoce, respeta y garantiza la libertad de conciencia y de religión, reconoce, respeta y garantiza a la vez la libertad de cada ciudadano de cambiar de creencias religiosas o no tener ninguna y a profesar, dentro del respeto a la ley, el culto religioso de su preferencia".

CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS

La Isla de Cuba es la mayor del grupo de las Antillas, ubicada a la entrada del Golfo de México, entre las penínsulas de la Florida y de Yucatán. El Océano Atlántico baña sus costas por el Norte y el Este, en tanto el Mar Caribe lo hace por el Sur.



El archipiélago cubano tiene una superficie de 110 922 km2 y está formado por la Isla de Cuba, la Isla de la Juventud y más de 4 500 cayos e islotes. Posee una configuración larga y estrecha, similar a la de un caimán. Su longitud es de 1 250 Km., su ancho máximo es de 193 km. y el mínimo de 32 km. Las costas cubanas suman casi 5 900 Km. de extensión, con abundantes y hermosas playas, particularmente, en el litoral norte.

La mayor parte del territorio cubano está conformado por llanuras, aunque existen cuatro sistemas montañosos: la Cordillera de Guaniguanico, en la región occidental; las alturas de Trinidad - Sancti Spíritus, en el centro; y el grupo Nipe-Sagua-Baracoa, así como la Sierra Maestra en la región oriental, donde se encuentra la mayor elevación del país, el Pico Real del Turquino, con 1 974 metros sobre el nivel del mar.

En Cuba no hay grandes ríos. El más extenso y caudaloso es el Cauto con una longitud de 370 Km. Al sur y centro de la Isla, se encuentra la Ciénaga de Zapata, el mayor humedal del Caribe y uno de los más importantes del mundo por el estado de conservación y protección de su relieve y variada flora y fauna.

CUBA INFORMAÇÕES


Uma vez más La Habana, capital de todos los cubanos, se apresta para recibir AL amigo visitante. Em esta ocasión se suman, además de la tradicional exposición de nuestras costumbres ─ ante cuya magia muy poços logran resistirse ─, El festejo por El fin de año asi como El negocijo por El nuevo que comienza.

La ciudad se acoge com beneplácito para que usted disfrute de variadas manifestaciones artísticas, mediante lãs cuales se acercará a La sintesis inequívoca de siglos de mestizage.

Fiestas y bailables em centros de recreación y plazas públicas ─ com La actuación de populares grupos musicales ─, conjuntamente La celebración del 31 Festival del Cine Latino-americano y de La Feria Internacional de Artesania (FIART), están entre nuestras ofertas. Asimismo, podrá degustar apetitosos platôs nacionales e internacionales em nuestros mejores restaurantes.

Comparta entonces, com nosotros, La celebración no solo del nuevo año sino tambien del 51 Aniversario del Triunfo de La Revolución.

Feliz 2010!

Conozca Cuba

REPUBLICA DE CUBA

La mayor islã del Caribe Le da La bienvenida para que disfrute de todas SUS bondades. Por El clima cálido, su mar ES ideal para El baño y La práctica del buceo.

Formada por alrededor de 4 195 cayos e islotes, ocupa uma superfície de 110 922 km2 y 1 200 km, de extensión.

La Republica de Cuba está integrada por 14 províncias, 168 municípios y el Municipio Especial Isla de la Juventud.

POBLACION

Más de 11.120.000 habitantes.

EDUCACION

La educación en cuba es gratuita y constitucionalmente obligatoria. En 1961 el país erradico el analfabetismo mediante una campaña nacional.


DERECHOS DEL NIÑO Y LUCHA CONTRA LA EXPLOTACION INFANTIL

En cuba la infancia es la mayor prioridad. En nuestro país se hace realidad desde antes de la promulgación de la Convención sobre los Derechos del Niño, principal documento internacional para su protección. Los adultos de cualquier nacionalidad que involucren a menores de 16 años en conductas que dañen de cualquier forma su integridad física o mental, son sancionados com La mayor severidad por La legislación penal vigente.

Salud Pública:

Sistema de atención primaria a la salud considerado único en Latinoamérica. Los servicios médicos son gratuitos para todos los cubanos. Existe una extensa red de centros asistenciales (442 policlínicas y 281 hospitales), además de otras entidades especializadas. La tasa de mortalidad infantil es de 7,1 por cada mil nacidos vivos, y la esperanza de vida al nacer es de 75,2 años.

Simbolos Nacionales

Bandera

El triangulo equilátero es una alusión a las ansias de libertad, igualdad y fraternidad, y su color rojo representa la sangre derramada para conquistar la independencia. La estrella solitaria situada en medio del triangulo simboliza libertad absoluta.

Las tres listas azules representan los departamentos (Occidente, Centro y Oriente) en que se encontraba dividida la Isla, y las dos franjas blancas significan la pureza y la virtud del pueblo Cubano.

Escudo

Tiene la configuración de una adarga ojival. En su campo superior, una llave dorada simboliza la posición clave de la Isla, a la entrada del Golfo de México y entre las dos Américas; mientras el sol naciente representa el surgimiento de una nueva nación. Tres listas azules en el cuartel inferior izquierdo aluden a los departamentos en que se dividía el país en la época colonial. En el derecho, la palma real (símbolo de la hidalguía y serena firmeza del cubano), las montañas y el limpio cielo azul representan el típico paisaje de la Isla.


Un haz de once varas que simboliza la unidad de los cubanos sirve de soporte al escudo, coronado por un gorro frigio de color rojo en el cual aparece una estrella blanca.

Orlan el escudo, a la derecha, una rama de encina y a la izquierda una de laurel, que representan la fortaleza y la victoria respectivamente.

HIMNO NACIONAL

Su música y letra fueron compuestas por el patriota bayames Pedro (Perucho) Figueredo al inicio de las gestas independientes.

Como canción patriótica y grito de guerra fue entonado por primera vez el 20 de Octubre de 1868 por la población de la Villa de San Salvador de Bayamo, región oriental del país.

FLOR NACIONAL

La mariposa, especie de jazmín de color blanco y exquisito perfume. Representa La pureza de los ideales de independência y La paz.

ARBOL NACIONAL

La Palma Real, de notoria existencia en el paisaje cubano, pese a no ser oriunda del país, simboliza el carácter indoblegable del cubano.

AVE NACIONAL

El Tocororo, especie endémica que reproduce en su plumaje los colores e la bandera Nacional.

FECHAS SIGNIFICATIVAS

1ro. De Enero:


Día de la Liberación. Aniversario del triunfo de la Revolución.

1ro. de Mayo :


Día de los trabajadores.

26 de Julio :


Día de la Rebeldía Nacional.

10 de octubre:


Inicio de las guerras de la independencia.

O VALOR DA VIDA - Sigmund Freud

O valor da vida.

Uma entrevista rara de Freud.

Entre as preciosidades encontradas na biblioteca da Sociedade Sigmund Freud está essa entrevista. Foi concedida ao jornalista americano George Sylvester Viereck, em 1926. Deve ter sido publicada na imprensa americana da época. Acreditava-se que estivesse perdida, quando o Boletim da Sigmund Freud Haus publicou uma versão condensada, em 1976. Na verdade, o texto integral havia sido publicado no volume Psychoanalysis and the Fut número especial do "Journal of Psychology", de Nova Iorque, em 1957. É esse texto que aqui reproduzimos, provavelmente pela primeira vez em português.

Tradução de Paulo Cesar Souza

Setenta anos ensinaram-me a aceitar a vida com serena humildade.

Quem fala é o professor Sigmund Freud, o grande explorador da alma. O cenário da nossa conversa foi uma casa de verão no Semmering, uma montanha nos Alpes austríacos.

Eu havia visto o pai da psicanálise pela última vez em sua casa modesta na capital austríaca. Os poucos anos entre minha última visita e a atual multiplicaram as rugas na sua fronte. Intensificaram a sua palidez de sábio. Sua face estava tensa, como se sentisse dor. Sua mente estava alerta, seu espírito firme, sua cortesia impecável como sempre, mas um ligeiro impedimento da fala me perturbou.

Parece que um tumor maligno no maxilar superior necessitou ser operado. Desde então Freud usa uma prótese, para ele uma causa de constante irritação.

S. Freud: Detesto o meu maxilar mecânico, porque a luta com o aparelho me consome tanta energia preciosa. Mas prefiro ele a maxilar nenhum. Ainda prefiro a existência à extinção.

Talvez os deuses sejam gentis conosco, tornando a vida mais desagradável à medida que envelhecemos. Por fim, a morte nos parece menos intolerável do que os fardos que carregamos.

Freud se recusa a admitir que o destino lhe reserva algo especial.

- Por quê – disse calmamente - deveria eu esperar um tratamento especial? A velhice, com sua agruras chega para todos. Eu não me rebelo contra a ordem universal. Afinal, mais de setenta anos. Tive o bastante para comer. Apreciei muitas coisas – a companhia de minha mulher, meus filhos, o pôr do sol. Observei as plantas crescerem na primavera. De vez em quando tive uma mão amiga para apertar. Vez ou outra encontrei um ser humano que quase me compreendeu. Que mais posso querer?

George Sylvester Viereck: O senhor teve a fama, disse que Sua obra influi na literatura de cada país. O homem olha a vida e a si mesmo com outros olhos, por causa do senhor. E recentemente, no seu septuagésimo aniversário, o mundo se uniu para homenageá-lo – com exceção da sua própria Universidade.

S. Freud: Se a Universidade de Viena me demonstrasse reconhecimento, eu ficaria embaraçado. Não há razão em aceitar a mim e a minha obra porque tenho setenta anos. Eu não atribuo importância insensata aos decimais.

A fama chega apenas quando morremos, e francamente, o que vem depois não me interessa. Não aspiro à glória póstuma. Minha modéstia não e virtude.

George Sylvester Viereck: Não significa nada o fato de que o seu nome vai viver?

S. Freud: Absolutamente nada, mesmo que ele viva, o que não e certo. Estou bem mais preocupado com o destino de meus filhos. Espero que suas vidas não venham a ser difíceis. Não posso ajudá-los muito. A guerra praticamente liquidou com minhas posses, o que havia poupado durante a vida. Mas posso me dar por satisfeito. O trabalho é minha fortuna.

Estávamos subindo e descendo uma pequena trilha no jardim da casa. Freud acariciou ternamente um arbusto que florescia.

S. Freud: Estou muito mais interessado neste botão do que no que possa me acontecer depois que estiver morto.

George Sylvester Viereck: Então o senhor é, afinal, um profundo pessimista?

S. Freud: Não, não sou. Não permito que nenhuma reflexão filosófica estrague a minha fruição das coisas simples da vida.

George Sylvester Viereck: O senhor acredita na persistência da personalidade após a morte, de alguma forma que seja?

S. Freud: Não penso nisso. Tudo o que vive perece. Por que deveria o homem construir uma exceção?

George Sylvester Viereck: Gostaria de retornar em alguma forma, de ser resgatado do pó? O senhor não tem, em outras palavras, desejo de imortalidade?

S. Freud: Sinceramente não. Se a gente reconhece os motivos egoístas por trás de conduta humana, não tem o mínimo desejo de voltar a vida, movendo-se num círculo, seria ainda a mesma.

Além disso, mesmo se o eterno retorno das coisas, para usar a expressão de Nietzsche, nos dotasse novamente do nosso invólucro carnal, para que serviria, sem memória? Não haveria elo entre passado e futuro.

Pelo que me toca estou perfeitamente satisfeito em saber que o eterno aborrecimento de viver finalmente passará. Nossa vida é necessariamente uma série de compromissos, uma luta interminável entre o ego e seu ambiente. O desejo de prolongar a vida excessivamente me parece absurdo.

George Sylvester Viereck: Bernard Shaw sustenta que vivemos muito pouco, disse eu. Ele acha que o homem pode prolongar a vida se assim desejar, levando sua vontade a atuar sobre as forças da evolução. Ele crê que a humanidade pode reaver a longevidade dos patriarcas.

- É possível, respondeu Freud, que a morte em si não seja uma necessidade biológica. Talvez morramos porque desejamos morrer.

Assim como amor e ódio por uma pessoa habitam em nosso peito ao mesmo tempo, assim também toda a vida conjuga o desejo de manter-se e o desejo da própria destruição.

Do mesmo modo com um pequeno elástico esticado tende a assumir a forma original, assim também toda a matéria viva, consciente ou inconscientemente, busca readquirir a completa, a absoluta inércia da existência inorgânica. O impulso de vida e o impulso de morte habitam lado a lado dentro de nós.

A Morte é a companheira do Amor. Juntos eles regem o mundo. Isto é o que diz o meu livro: Além do Princípio do Prazer.

No começo, a psicanálise supôs que o Amor tinha toda a importância. Agora sabemos que a Morte é igualmente importante.

Biologicamente, todo ser vivo, não importa quão intensamente a vida queime dentro dele, anseia pelo Nirvana, pela cessação da "febre chamada viver", anseia pelo seio de Abraão. O desejo pode ser encoberto por digressões. Não obstante, o objetivo derradeiro da vida é a sua própria extinção.

Isto, exclamei, é a filosofia da autodestruição. Ela justifica o auto-extermínio. Levaria logicamente ao suicídio universal imaginado por Eduard von Hartamann.

S.Freud: A humanidade não escolhe o suicídio porque a lei do seu ser desaprova a via direta para o seu fim. A vida tem que completar o seu ciclo de existência. Em todo ser normal, a pulsão de vida é forte o bastante para contrabalançar a pulsão de morte, embora no final resulte mais forte.

Podemos entreter a fantasia de que a Morte nos vem por nossa própria vontade. Seria mais possível que pudéssemos vencer a Morte, não fosse por seu aliado dentro de nós.

Neste sentido acrescentou Freud com um sorriso, pode ser justificado dizer que toda a morte é suicídio disfarçado.

Estava ficando frio no jardim.

Prosseguimos a conversa no gabinete.

Vi uma pilha de manuscritos sobre a mesa, com a caligrafia clara de Freud.

George Sylvester Viereck: Em que o senhor está trabalhando?

S. Freud: Estou escrevendo uma defesa da análise leiga, da psicanálise praticada por leigos. Os doutores querem tornar a análise ilegal para os não médicos. A História, essa velha plagiadora, repete-se após cada descoberta. Os doutores combatem cada nova verdade no começo. Depois procuram monopoliza-la.

George Sylvester Viereck: O senhor teve muito apoio dos leigos?

S. Freud: Alguns dos meus melhores discípulos são leigos.

George Sylvester Viereck: O senhor está praticando muito psicanálise?

S. Freud: Certamente. Neste momento estou trabalhando num caso muito difícil, tentando desatar os conflitos psíquicos de um interessante novo paciente.

Minha filha também é psicanalista, como você vê...

Nesse ponto apareceu Miss Anna Freud acompanhada por seu paciente, um garoto de onze anos, de feições inconfundivelmente anglo-saxonicas.

George Sylvester Viereck: O senhor já analisou a si mesmo?

S. Freud: Certamente. O psicanalista deve constantemente analisar a si mesmo. Analisando a nós mesmos, ficamos mais capacitados a analisar os outros.

O psicanalista é como o bode expiatório dos hebreus. Os outros descarregam seus pecados sobre ele. Ele deve praticar sua arte à perfeição para desvencilhar-se do fardo jogado sobre ele.

George Sylvester Viereck: Minha impressão, observei, é de que a psicanálise desperta em todos que a praticam o espírito da caridade cristão. Nada existe na vida humana que a psicanálise não possa nos fazer compreender. "Tout comprec'est tout pardonner".

Pelo contrário! – bravejou Freud, suas feições assumindo a severidade de um profeta hebreu. Compreender tudo não é perdoar tudo. A análise nos ensina não apenas o que podemos suportar, mas também o que podemos evitar. Ela nos diz o que deve ser eliminado. A tolerância com o mal não e de maneira alguma um corolário do conhecimento.

Compreendi subitamente porque Freud havia litigado com os seguidores que o haviam abandonado, por que ele não perdoa a sua dissensão do caminho reto da ortodoxia psicanalítica. Seu senso do que é direito é herança dos seus ancestrais. Una herança de que ele se orgulha como se orgulha de sua raça.

Minha língua, ele me explicou, é o alemão. Minha cultura, mina realização é alemã. Eu me considero um intelectual alemão, até perceber o crescimento do preconceito anti-semita na Alemanha e na Áustria. Desde então prefiro me considerar judeu.

Fiquei algo desapontado com esta observação.

Parecia-me que o espírito de Freud deveria habitar nas alturas, além de qualquer preconceito de raças que ele deveria ser imune a qualquer rancor pessoal. No entanto, precisamente a sua indignação, a sua honesta ira, tornava o mais atraente como ser humano.

Aquiles seria intolerável, não fosse por seu calcanhar!,

Fico contente, Herr Professor, de que também o senhor tenha seus complexos, de que também o senhor demonstre que é um mortal!

Nossos complexos, replicou Freud, são a fonte de nossa fraqueza; mas com freqüência são também a fonte de nossa força.

George Sylvester Viereck: Imagino, observei, quais seriam os meus complexos!

- Uma análise séria, respondeu Freud, dura ao menos um ano. Pode durar mesmo dois ou três anos. Você está dedicando muitos anos de sua vida à "caça aos leões". Você procurou sempre as pessoas de destaque para a sua geração: Roosevelt, o Imperador, Hindenbug, Briand, Foch, Joffre, Georg Bernard Shaw...

- É parte do meu trabalho.

George Sylvester Viereck: Mas é também sua preferência. O grande homem é um símbolo. A sua busca é a busca do seu coração. Você está procurando o grande homem para tomar o lugar do seu pai. É parte do seu "complexo do pai".

Neguei veementemente a afirmação de Freud. No entanto, refletindo sobre isso, parece me que pode haver uma verdade, ainda não suspeitada por mim, em sua sugestão casual. Pode ser o mesmo impulso que me levou a ele.

Gostaria, observei após um momento de poder ficar aqui o bastante para vislumbrar o meu coração através do seus olhos. Talvez, com a Medusa, eu morresse de pavor a ver minha própria imagem! Entretanto, receio ser muito informando sobre a psicanálise. Eu freqüentemente anteciparia, ou tentaria antecipar suas intenções.

- A inteligência num paciente, replicou Freud, não é um empecilho. Pelo contrário, às vezes facilita o trabalho.

Neste ponto o mestre da psicanálise diverge de muitos dos seus seguidores, que não gostam de excessiva segurança do paciente sob o seu escrutínio.

George Sylvester Viereck: Ás vezes imagino, questionei, se não seríamos mais felizes se soubéssemos menos dos processos que dão forma a nossos pensamentos e emoções. A psicanálise rouba a vida do seu último encanto, ao relacionar cada sentimento ao seu original grupo de complexos. Não nos tornamos mais alegres descobrindo que nós todos abrigamos, o criminoso e o animal.

- Que objeção pode haver contra os animais? Replicou Freud. Eu prefiro a companhia dos animais à companhia humana.

George Sylvester Viereck: Por quê?

S. Freud: Porque são tão mais simples. Não sofrem de uma personalidade dividida, da desintegração do ego, que resulta da tentativa do homem de adaptar-se a padrões de civilização demasiado elevados para o seu mecanismo intelectual e psíquico.

O selvagem, como o animal, é cruel, mas não tem a maldade do homem civilizado. A maldade é a vingança do homem contra a sociedade, pelas restrições que ela impõe. As mais desagradáveis características do homem são geradas por esse ajustamento precário a uma civilização complicada. É o resultado do conflito entre nossos instintos e nossa cultura.

Muito mais desagradáveis são as emoções simples e diretas de um cão, ao balançar a cauda, ou ao latir expressando seu desprazer. As emoções do cão, acrescentou Freud pensativamente, lembram-nos os heróis da Antigüidade. Talvez seja essa a razão porque inconscientemente damos aos nossos cães nomes de heróis antigos como Aquiles e Heitor.

- Meu cachorro, disse eu, é um doberman Pinscher chamado Ajax.

Freud sorriu.

- Fico contente de que não possa ler. Ele certamente seria um membro menos querido da casa, se pudesse latir sua opinião sobre os traumas psíquicos e o complexo de Édipo!

George Sylvester Viereck: Mesmo o senhor, Professor, sonha a existência complexa demais. No entanto, parece-me que o senhor seja em parte responsável pelas complexidades da civilização moderna. Antes que o senhor inventasse a psicanálise não sabíamos que nossa personalidade é dominada por uma hoste beligerante de complexos muito questionáveis. A psicanálise torna a vida um quebra-cabeças complicado.

- De maneira alguma, respondeu Freud. A psicanálise torna a vida mais simples. Adquirimos uma nova síntese depois da análise. A psicanálise reordena um emaranhado de impulsos dispersos, procura enrolá-los em torno do seu carretel. Ou, modificando a metáfora, ela fornece o fio que conduz a pessoa fora do labirinto do seu inconsciente.

- Ao menos na superfície, porém, a vida humana nunca foi mais complexa. E a cada dia alguma nova idéia proposta pelo senhor ou por seus discípulos torna o problema da condução humana mais intrigante e mais contraditório.

- A psicanálise, pelo menos, jamais fecha a porta a uma nova verdade.

George Sylvester Viereck: Alguns dos seus discípulos, mais ortodoxos do que o senhor, apegando-se a cada pronunciamento que sai da sua boca.

- A vida muda. A psicanálise também muda, observou Freud. Estava apenas no começo de uma nova ciência.

George Sylvester Viereck: A estrutura científica que o senhor ergueu me parece ser muito elaborada. Seus fundamentos – a teoria do "deslocamento", da "sexualidade infantil", do "simbolismo dos sonhos", etc. – parecem permanentes.

S. Freud: Eu repito, porém, que nós estamos apenas no início. Eu sou apenas um iniciador. Consegui desencavar monumentos soterrados nos substratos da mente. Mas ali onde eu descobri alguns templos, outros poderão descobrir continentes.

George Sylvester Viereck: O senhor ainda coloca a ênfase sobretudo no sexo?

S. Freud: Respondo com as palavras do seu próprio poeta, Walt Whitman: "Mas tudo faltaria, se faltasse o sexo" ("Yet all were lacking, if sex were lacking"). Entretanto, já lhe expliquei que agora coloco ênfase quase igual naquilo que está "além" do prazer – a morte, a negociação da vida.

Este desejo explica porque alguns homens amam a dor – como um passo para o aniquilamento! Explica porque os poetas agradecem a

Whatever gods there be,

That no life lives forever

And even the weariest river

Winds somewhere safe to sea.

("Quaisquer deuses que existam/ Que a vida nenhuma viva para sempre/ Que os mortos jamais se levantem/ E também o rio mais cansado/ Deságüe tranqüilo no mar".)

George Sylvester Viereck: Shaw, como o senhor, não deseja viver para sempre, comentei, mas à diferença do senhor, ele considera o sexo desinteressante.

- Shaw, respondeu Freud sorrindo, não compreende o sexo. Ele não tem a mais remota concepção do amor. Não há um verdadeiro caso amoroso em nenhuma de suas peças. Ele faz brincadeira do amor de Júlio César – talvez a maior paixão da História. Deliberadamente, talvez maliciosamente, ele despe Cleópatra de toda grandeza, reduzindo-a uma insignificante garota.

A razão para a estranha atitude de Shaw diante do amor, para a sua negação do móvel de todas as coisas humanas, que tira de suas peças o apelo universal, apesar do seu enorme alcance intelectual, é inerente à sua psicologia. Em um de seus prefácios, ele mesmo enfatiza o traço ascético do seu temperamento.

Eu posso ter errado em muitas coisas, mas estou certo de que não errei ao enfatizar a importância do instinto sexual. Por ser tão forte, ele se choca sempre com as convenções e salvaguardas da civilização. A humanidade, em uma espécie de autodefesa, procura negar sua importância.

Se você arranhar um russo, diz o provérbio, aparece o tártaro sob a pele. Analise qualquer emoção humana, não importa quão distante esteja da esfera da sexualidade, e você certamente encontrará esse impulso primordial, ao qual a própria vida deve a perpetuação.

George Sylvester Viereck: O senhor sem dúvida foi bem sucedido em transmitir esse ponto de vista aos escritores modernos. A psicanálise deu novas intensidades à literatura:

S. Freud: Também recebeu muito da literatura e da filosofia. Nietzsche foi um dos primeiros psicanalistas. É surpreendente até que ponto a sua intuição prenuncia as novas descobertas. Ninguém se apercebeu mais profundamente dos motivos duais da conduta humana, e da insistência do princípio do prazer em predominar indefinidamente. Os Zaratustra diz:

"A dor

Grita: Vai!

Mas o prazer quer eternidade

Pura, profundamente eternidade"

A psicanálise pode ser menos amplamente discutida na Áustria e na Alemanha que nos Estados Unidos, a sua influência na literatura é imensa, porém.

Thomas Mann e Hugo von Hofmannsthak muito devem a nós. Schnitzler percorre uma via que é, em larga medida, paralela ao meu próprio desenvolvimento. Ele expressa poeticamente o que eu tento comunicar cientificamente. Mas o Dr. Schnitzler não é apenas um poeta, é também um cientista.

George Sylvester Viereck: O senhor, repliquei, não é apenas um cientista, mas também um poeta. A literatura americana, continuei, está impregnada da psicanálise.

Hupert Hughes Harvrey O'Higgins e outros fazem-se de seus intérpretes. É quase impossível abrir um novo romance sem encontrar referência à psicanálise. Entre os dramaturgos, Eugene O'Neill e Sydney Howard tem profunda dívida para com o senhor. The Silver Cord, por exemplo, é simplesmente uma dramatização do complexo de Édipo.

- Eu sei, replicou Freud, e apresento o cumprimento que há nessa constatação. Mas tenho receio da minha popularidade nos Estados Unidos. O interesse americano pela psicanálise não se aprofunda. A popularização leva à aceitação superficial sem estudo sério. As pessoas apenas repetem as frases que aprendem no teatro ou na imprensa. Pensam compreender algo da psicanálise porque brincam com seu jargão! Eu prefiro a ocupação intensa com a psicanálise, tal como ocorre nos centros europeus.

S. Freud: A América foi o primeiro país a reconhecer-me oficialmente. A Clark University concedeu-me um diploma honorário quando eu ainda era ignorado na Europa. Entretanto, a América fez poucas contribuições originais à psicanálise. Os americanos são julgadores inteligentes, raramente pensadores criativos. Os médicos nos Estados Unidos, e ocasionalmente também na Europa, procuram monopolizar para si a psicanálise. Mas seria um perigo para a psicanálise deixá-la exclusivamente nas mãos dos médicos. Pois uma formação estritamente médica é com freqüência um empecilho para o psicanalista. É sempre um empecilho, quando certas concepções científicas tradicionais ficam arraigadas no cérebro estudioso.

Freud tem que dizer a verdade a qualquer preço! Ele não pode obrigar a si mesmo a agradar a América, onde está a maioria de seus admiradores.

Apesar da sua intransigente integridade, Freud é a urbanidade em pessoa. Ele ouve pacientemente cada intervenção, não procurando jamais intimidar o entrevistador. Raro é o visitante que deixa sua presença sem algum presente, algum sinal de hospitalidade!

Havia escurecido.

Era tempo de eu tomar o trem de volta à cidade que uma vez abrigara o esplender imperial dos Habsburgos.

Acompanhado da esposa e da filha, Freud desceu os degraus que levavam do seu refúgio na montanha á rua, para me ver partir. Ele me pareceu cansado e triste, ao dar o seu adeus.

- Não me faça parecer um pessimista, ele disse após o aperto de mão. Eu não tenho desprezo pelo mundo. Expressar desdém pelo mundo é apenas outra forma de cortejá-lo, de ganhar audiência e aplauso. Não, eu não sou um pessimista, não enquanto tiver meus filhos, minha mulher e minhas flores! Não sou infeliz – ao menos não mais infeliz que os outros.

O apito de meu trem soou na noite. O automóvel me conduzia rapidamente para a estação. Aos poucos o vulto ligeiramente curvado e a cabeça grisalha de Sigmund Freud desapareceram na distância.


quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A HORA DO PLANETA

WE ARE THE WORLD 25 ANOS

GUERRILHA DO ARAGUAIA

Caros (as),

Aproveito para enviar a vocês, trechos do livro que está sendo escrito por Marco Aurélio de Freitas Lisboa junto a Elio Ramirez Garcia, ambos ex-militantes da Guerrilha do Araguaia.


Colaborei de certa forma na pesquisa, quando instruída pelo autor, encontrei nos Arquivos da Unicamp, um diário apócrifo escrito por um militante que esteve na China, realizando um curso em Nankin. O diário de guerrilha contém informações preciosas sobre o tipo de preparação que a China dava aos militantes brasileiros e/ou latino-americanos.
O livro ainda não foi publicado e o autor está postando seus capítulos - ainda em fase preliminar- no blog

http://elsenorgato.blogspot.com.

Caso tenham interesse no assunto, façam uma visita ao seu blog.

O diário é composto por cerca de 270 textos, tratando de assuntos variados. O interesse do autor, com base nessa documentação, foi escrever uma obra de ficção sobre a ditadura militar, com destaque para a Guerrilha do Araguaia. O prefácio do diário parece ter sido escrito por José Duarte, português e militante histórico do Partido e também personagem da trilogia de Jorge Amado.

Os cursos realizados na China ainda são pouco conhecidos pela historiografia brasileira. O diário teve por base anotações que eram feitas na Academia Militar de Nankin (e não Pequim, como a maioria das fontes cita). Pelo que sabemos, três turmas estiveram na China, a de 64, a de 65 e a de 66. O curso tinha ênfase na teoria e não na prática, ao contrário dos cursos realizados em Cuba. O manual também teve circulação restrita dentro do Partido.

O autor procura demonstrar que a influência das teorias chinesas sobre a prática do PC do B foi muito maior do que o partido gostaria de admitir, e que os erros militares cometidos no Araguaia, derivam diretamente de uma adaptação mal feita no Brasil da Revolução Chinesa. Um exemplo disso, seria , segundo Marco Aurélio, a não utilização de rádios para comunicação e de minas e granadas para emboscadas. Segundo Freitas, os militantes que estavam na área tinham conhecimento e meios para fabricar esses dispositivos, mas não o utilizaram.

A idéia é que o PCdo B foi fortemente influenciado pelo maoismo.

Freitas acha que se o partido quisesse, poderia estabelecer quantos militantes foram enviados à China e qual era o contéudo dos cursos militares. Em sua pesquisas o autor descobriu também um militante que desertou da região em 1973 e que não consta do relatório Arroyo.
Repasso alguns dos seus escritos,

http://elsenorgato.blogspot. com



Prefácio

Prefácio 03.10.09

Houve um tempo em que a atividade política era movida à paixão . Uma parte dessa geração foi destruída, uns tantos sobreviveram e outros tantos se consideram vitoriosos , porque conseguiram abocanhar um pedacinho do poder . Esse livro é o registro de um dos capítulos mais significativos dessa época . Ele conta a história dos derrotados.


O xadrez foi uma das minhas primeiras paixões de adolescente . Para quem não é aficionado , é difícil entender a emoção envolvida em uma simples partida . Para os jogadores , é uma luta sangrenta entre duas vontades , entre dois projetos estratégicos . A expressão “o xadrez político ”, para mim , sempre teve um colorido especial . Mais tarde , eu iria unir essas duas paixões .


A política , assim como o xadrez , é uma arte . Encontrar o fio condutor , a linha correta , no meio de uma série de fatores que se entrelaçam e se influenciam mutuamente é o desafio comum às duas atividades . Outro ponto em comum é que a liberdade criadora está limitada por uma série fatores objetivos . No caso do xadrez : o tabuleiro , as peças , as regras que determinam seus movimentos e a própria história anterior , que levou a cada posição em particular . Esse é o lado científico do jogo .


Quando eu freqüentava o Clube de Xadrez de Belo Horizonte , costumava assistir as análises post-mortem, que eram feitas assim que uma partida terminava. Os dois jogadores , com a ajuda de um bando de sapos , analisavam jogada por jogada , procurando estabelecer um veredicto final : a vitória foi justa ou não ? Quais eram as alternativas do perdedor?


O que se pretende com esse livro é uma análise post-mortem da Guerrilha do Araguaia. A luta contra os guerrilheiros , episódio obscuro de nossa história recente , durou três anos e envolveu dezenas de milhares de soldados . Para apoiar essas operações , quartéis e estradas foram construídos no meio da selva amazônica . Tudo isso sem que a imensa maioria do povo brasileiro soubesse que , numa região conhecida como o Bico do Papagaio , 70 militantes do Partido Comunista do Brasil, o PC do B, pretendiam criar um novo Vietnã.


Esse livro foi escrito em co-autoria com o meu antigo companheiro de cela no Dops de Belo Horizonte , Elio Ramirez Garcia. A par do rigor científico , da preocupação com a verdade factual , pretendemos enriquecer essa análise expondo os desejos , as expectativas e os pensamentos de um dos lados envolvidos no conflito . Militando no PC do B à época da guerrilha , tivemos a oportunidade de conhecer em primeira mão a história desse partido , de conviver de perto com militantes e dirigentes que estiveram no Araguaia e de vivenciar a cultura dessa organização , se é que podemos usar esse termo .


Inicialmente , pretendemos mostrar que o Araguaia foi a conseqüência lógica da trajetória anterior do PC do B, o coroamento de uma visão estratégica . Entre o final da década de 60 e meados da década de 70, época que abrange a preparação e o desencadeamento da guerrilha , parecia que a revolução poderia derrotar o imperialismo . É a época da libertação das colônias africanas e da derrota americana no Vietnã. No horizonte da crise do petróleo e da estagflação da década de 70, se vislumbrava um colapso do sistema capitalista . Poucos poderiam prever a guinada da China e nada indicava o desmoronamento total do regime soviético e das democracias populares , tal como se deu.


No plano nacional , o PC do B previa que o recrudescimento do fascismo acabaria por isolar o governo , revigorando o movimento de massas . Apostava que o fracasso das políticas de conciliação e a justeza de sua linha ajudariam a transformá-lo num partido forte e numeroso .


No Araguaia, o regime se viu obrigado a mobilizar grandes contingentes militares e a manter completamente isolada uma vasta região . Ele procedeu como se estivesse em território inimigo - conduziu as operações militares sem se preocupar em ganhar corações e mentes , sem poupar nem mesmo a própria Igreja da região . O fim da guerrilha coincide com o fim da ilusão de ganhar a simpatia da classe média e dos formadores de opinião . A retirada estratégica de Golbery entra na ordem do dia .


Ambos seguiam uma lógica interna , respondiam, cada qual a sua maneira , às exigências da situação política nacional e internacional . Embora o resultado seja conhecido , não seria prudente dizer que ele era inevitável , ou mesmo que o seu desfecho era completamente previsível, sem um exame mais detalhado do conflito .


Em nossa análise , respeitaremos as mesmas limitações que um jogador de xadrez observa: não faremos jogadas impossíveis . No nosso caso , não dotaremos os personagens históricos de uma onisciência que eles não poderiam ter .


Uma das nossas dificuldades iniciais foi a de entender a natureza da região . Quais eram as suas características físicas , como viviam os seus habitantes , por que ela foi escolhida pelo partido ? Abusando de nossa analogia , queríamos saber como era o tabuleiro . Outra dificuldade , por incrível que possa parecer , já que éramos militantes nesse período , foi a de avaliar a força do PC do B. Quais eram as peças ? Segundo os seus dirigentes , era um partido ainda pequeno . Ficamos surpresos ao constatar o que era exatamente um partido pequeno , face à grandeza das tarefas as quais ele se propôs.


Finalmente , procuramos reconstituir lance por lance a partida , a verdade factual . Ao exército , não convém expor os métodos que usou para derrotar a guerrilha . Ao partido , por sua vez, razões internas e de propaganda impedem uma avaliação mais serena . Uma simples reconstrução dos três destacamentos , com todos os seus componentes , exigiu a consulta a várias fontes , muitas vezes divergentes . O relatório Arroyo, nossa fonte primária mais importante , é impreciso em relação a vários fatos e datas . Foi uma tarefa similar à de reconstituir uma partida mal anotada, recorrendo, muito tempo depois , às lembranças dos espectadores .


É preciso considerar que o Araguaia é muito pouco conhecido . Em 1972, fazia mais de 35 anos que a Insurreição de 1935 ocorrera. Hoje , estamos a essa mesma distância do Araguaia. Entretanto , a bibliografia disponível sobre a guerrilha e o próprio espaço que ela ocupa na cabeça dos cidadãos comuns são menores do que os relativos à insurreição .


A análise feita até agora pelo principal protagonista , o PC do B, é precária . A discussão interna foi abortada e o que se tem como posição oficial são documentos de 1976. Os participantes do drama , guerrilheiros sobreviventes e militantes do PC do B da época , se dispersaram pelas mais variadas posições políticas . Nós diríamos até que o PC do B de hoje é muito distinto do partido que fez a guerrilha .


Por último , gostaríamos de ressaltar que a guerrilha do Araguaia, foi, antes de tudo , um confronto militar . E os confrontos militares são decididos pelas armas . O nosso veredicto final deve ser algo do tipo : a guerrilha poderia ter sobrevivido? A posição oficial do PC do B é que sim , se não houvessem acontecido erros militares graves . Nós pretendemos fazer uma análise da concepção que norteou o Araguaia, dos condicionantes que levaram a essa concepção , das alternativas que se ofereciam e, finalmente , voltar à posição inicial , àquele dia 12 de abril de 1972, e responder : o que poderia ter sido feito para levar a um outro desfecho ?




Introdução

Capítulo 1 Primeira Parte

Capítulo 1 – O PC do B: da ruptura ao Araguaia



A ruptura

Em 1949, quando o grupo de alpinismo de Elza Monnerat escalou o morro Dois Irmãos para pichar o nome de Stalin no paredão , com letras de vários metros de altura , eles pintaram à cal a sigla do partido responsável - PCB. Essa era a sigla do Partido Comunista do Brasil, desde a sua fundação em 1922. Durante pelo menos quarenta anos , o Partidão, como era conhecido , foi a maior força de esquerda do Brasil. Pode-se dizer que sua liderança nunca esteve seriamente ameaçada – as organizações trotskistas, anarquistas e socialistas que surgiram nesse período duraram pouco tempo e nunca conseguiram criar bases sólidas entre os movimentos de massa .

Em 1962, Elza Monnerat não conseguia mais reconhecer o partido em que ela ingressara, em 18 de abril de 1945: o estatuto fora mudado para facilitar a sua legalização e se adequar às exigências eleitorais e o próprio nome havia sido modificado para Partido Comunista Brasileiro . Vendo o seu partido tão desfigurado, ela não teve dúvidas em se juntar a um pequeno grupo de militantes e de dirigentes inconformados.

Eles refundaram o partido , mantendo a denominação original e, para se diferenciar do Partidão, lançaram uma nova sigla : o PC do B. A pichação que Elza fizera anos antes ainda era visível para milhares de cariocas , embora a cal , sob a ação do tempo , houvesse desbotado um pouco .

Ao fazer sua opção , Elza sabia muito bem que o “do” acrescentado envolvia muito mais do que uma simples discordância tática . Se tivesse que apontar o momento em que divergências começaram a se cristalizar , ela escolheria uma data : janeiro de 1956. Foi nesse mês que Khruschev leu o seu famoso relatório secreto para uma platéia perplexa , durante o XX Congresso do PCUS ( Partido Comunista da União Soviética ).

Khruschev era o sucessor de Stalin e as acusações que fez contra o seu antecessor eram gravíssimas. Ele afirmou, por exemplo , que 70% dos membros e suplentes do Comitê Central eleitos no XVII Congresso foram presos e fuzilados injustamente . Dos 1.966 delegados desse mesmo congresso , que , ironicamente, é conhecido como o Congresso dos vitoriosos , 1.108 foram presos sob a acusação de crimes anti-revolucionários .

s denúncias caíram como uma ogiva nuclear sobre os comunistas brasileiros . Assim que o Comitê Central se reuniu para tratar do Relatório Khruschev “... houve de tudo : Arruda Câmara , Carlos Marighela e outros chegaram a chorar convulsivamente durante dias ... Prestes chegou a afirmar que , ao saber da veracidade das notícias , pensara em se suicidar, por ter fracassado como comandante .” Muitos militantes evitavam olhar para o morro Dois Irmãos , onde o nome de Stalin resistia ao tempo .

Segundo Khruschev, aquelas práticas encontraram um terreno propício devido ao “ culto da personalidade ” e ao abandono da direção colegiada. Na prática , as decisões mais importantes do partido soviético eram tomadas por Stalin, seu secretário-geral, o guia genial e infalível , que só compartilhava suas opiniões com um pequeno círculo de dirigentes .

No Brasil, há muito , o PCB vinha adotando métodos similares de direção . Moisés Vinhas cita de memória uma afirmação de Diógenes de Arruda Câmara , dizendo que “ não mudaria uma vírgula do projeto de programa do IV Congresso do PCB, pois ele havia sido visto por Stálin”.

Portanto, não é de se estranhar que , mal começado o debate , chovessem críticas dos militantes ao chamado “mandonismo” dos dirigentes locais : Prestes , Marighella, Amazonas e, em especial , Arruda . Com o aprofundamento das discussões , surgiu um grupo , liderado por Agildo Barata e Astrojildo Pereira , que começou a se perguntar se valeria mesmo a pena manter um partido desse tipo . Foram chamados de liqüidacionistas, Agildo foi expulso e a discussão abortada. O partido acabou cerrando fileiras em torno de Luis Carlos Prestes , o seu secretário geral .

Logo, não foram as denúncias contra Stalin que dividiram o partido , pelo menos nesse primeiro momento . O XX Congresso foi marcante sob vários outros aspectos : ao aprovar os princípios da “coexistência pacífica ” e da “ transição pacífica ”, ele sinalizou uma guinada brusca nos rumos do movimento comunista internacional .

Segundo Khruschev, o bloco socialista ocupava “25% da superfície do globo , com uma população superior a 35% do total mundial e suas indústrias contribuem com cerca de 30% da produção industrial do mundo .” Ele concluiu que , se os sistemas capitalistas e socialistas pudessem conviver pacificamente, o socialismo iria se impor gradualmente . Devido ao peso crescente do bloco socialista , “Os povos dos países coloniais e dependentes podem hoje alcançar sua completa independência econômica mediante a conquista ou a consolidação da liberdade política e a realização de uma política externa independente e de acordo com os reais interesses nacionais .” Em outras palavras , a revolução armada não era mais necessária e nem desejável.

Foi exatamente em torno dessas teses que se manifestaram divergências de fundo , que acabariam levando à cisão . Podemos dizer que a luta se travou entre as teses revolucionárias e as teses reformistas.

O partido de Elza Monnerat era o partido que conduzira a insurreição de 1935. Dessa fracassada tentativa de tomar o poder , surgiram os heróis e os mártires retratados na trilogia de Jorge Amado , “Os subterrâneos da Liberdade ”. Lá estão Prestes , Olga e muitos outros dirigentes . Eles são citados pelos seus nomes verdadeiros ou por pseudônimos , que mal encobrem a sua verdadeira identidade (Apolônio de Carvalho , por exemplo , é Apolinário).

Unidos num determinado momento sob a mesma bandeira , ao longo da década de 60, os personagens de Jorge Amado tomariam rumos completamente divergentes . Também no plano internacional , a família comunista começaria se dividir : os chamados “ partidos irmãos ” passaram a se acusar mutuamente de contra-revolucionários.

No final dos anos 60, os militantes de esquerda tinham o hábito de escutarem as rádios estrangeiras: a Rádio Moscou, a Rádio Havana e a Rádio Pequim. O autor se lembra muito bem das transmissões em ondas curtas, que começavam com a introdução : “ Camaradas e amigos , aqui , Rádio Pequim...” No auge da Revolução Cultural, os chineses sempre se referiam à direção soviética como “a renegada-camarilha-revisionista-soviética-de-Breschnev-e-Kossyguin”, tudo isso dito num só fôlego . O adjetivo revisionista indicava que as teses de Khruschev eram um abandono da ortodoxia leninista.

A China, desde 1956, vinha discordando das posições soviéticas sobre Stalin, a coexistência pacífica e a transição pacífica . Em 1960, uma conferência de 81 partidos comunistas , convocada para acertar essas diferenças , terminou com um compromisso entre as duas posições . Em 1969, a dissensão chegou ao seu auge , a ponto de ocorrerem choques armados na fronteira sino-soviética. Em 1962, quando surgiu o PC do B, embora as diferenças fossem marcantes , ainda não se concretizara a cisão do movimento comunista .

O Manifesto Programa do PC do B, que oficializou a ruptura com o PCB, não avançou muito nesse terreno movediço . Ele afirmava sobre as duas potências que “a União Soviética marcha para o comunismo e a China Popular , até há pouco escravizada, forja uma nova sociedade e constitui hoje , um poderoso baluarte da luta contra o imperialismo .” Grifos nossos .

Assim que se separou do Partidão, o PC do B tratou de estabelecer contatos com os principais partidos comunistas . Procurou a União Soviética , Cuba e China. Lincoln Oest era um dirigente histórico , que vivera os momentos difíceis em que o partido , reduzido a um punhado de militantes , era perseguido pela polícia de Getúlio Vargas. Ele participou ativamente desse processo .

Anos mais tarde , no início da década de 70, vivendo sob outra ditadura , ele organizou uma reunião com os estudantes do PC do B que atuavam na diretoria da UNE. O objetivo era passar para os novos militantes um pouco da história do partido . A reunião foi feita num sítio em Jacarepaguá e contou com a ajuda de Carlos Danielli e Luiz Guilhardini. As explanações do camarada Lauro sobre a história do PC do B eram recheadas de relatos envolvendo figuras históricas, o que as tornava muito vivas . Ele nos contou que Fidel Castro recebeu a delegação brasileira em segredo , de madrugada , para não contrariar os soviéticos . Oest acrescentou que a primeira edição brasileira de Guerra de Guerrilhas , do Che, foi patrocinada pelo PC do B. A idéia era mostrar a justeza da luta armada , sem se comprometer com a forma que ela deveria assumir .

Muito cedo , o recém criado partido teve que tomar posição na polêmica que opunha China e União Soviética . Em 1963, no documento “ Resposta a Khruschev”, defendendo-se da acusação de divisionismo, o PC do B afirmava que “... as classes dominantes tornam inviável o caminho pacífico da revolução e, por isso , o povo , sem deixar de utilizar todas as formas de lutas legais , deve se preparar para a solução não pacífica .”

Como conseqüência desse posicionamento , em 1964, antes do golpe , foi enviada uma delegação do PC do B à China, para realizar um curso na Academia Militar de Nanquim . O curso durou 10 meses e teve 9 integrantes : Paulo Mendes Rodrigues; Osvaldo Orlando da Costa ; Daniel Callado; Dynéas Aguiar, Diniz Cabral, um militante de sobrenome Barbosa, um de sobrenome Gomes, um de prenome Senhorzinho e Paulo Roberto Martins. Oito anos mais tarde , os três primeiros teriam a oportunidade de colocar em prática os ensinamentos recebidos.

Em 65, foi enviada uma segunda turma , composta por : José Humberto Bronca , Manoel José Nurchis, Miguel Pereira dos Santos , Elio Cabral de Souza, Amaro Luis de Carvalho , Tarzan de Castro, Gerson Alves Pereira , Ari Holguin da Silva e Elio Ramires Garcia.

Pelo depoimento de Elio Ramires Garcia, podemos ter uma idéia de como foram os cursos . Elio entrou para o PCB em 1960, no Espírito Santo . Em 62, ficou com o PC do B. Três anos mais tarde , indicado por Danielli, partiu para a China. Ele e Gérson Alves Parreira saíram do Rio de Janeiro em maio de 65. Em Zurique se encontraram com Ari Holguin e de lá seguiram para Berna, de trem . Ari era o chefe do grupo e providenciou os vistos de entrada na embaixada da República Popular da China. Depois de alguma demora , seguiram de trem até Genebra , de onde , em 12 de junho , foram para Karachi, no então Paquistão Ocidental . No dia seguinte , voaram até Xangai, com escala em Dacca (no então Paquistão Oriental ). Finalmente fizeram a conexão com Pequim, aonde chegaram no dia 13, à tarde .

A primeira parte do curso foi em Pequim. A rotina era :

- 7:00: café ;

- 8:00 até as 11:00: estudo individual ou conferência de algum especialista . Os temas abrangiam filosofia , o partido , a frente única , a formação de quadros , a atuação na clandestinidade, etc. Ao final de cada tema havia um debate em grupo ;

- à tarde : a mesma programação . O material de consulta era constituído exclusivamente por textos de Mao;

- 18:00 até as 19:00: atividades físicas ( ginástica , tai-chi-chuan, uma pelada , etc.);

- à noite : atividades esportivas , como ping-pong ou futebol , ou culturais: passeios pelos parques , teatro , a Ópera de Pequim ( insuportável para os ouvidos de Elio), cinema , etc.

Em Pequim só se estudaram os textos políticos . Os militares , que não deixavam de serem políticos , ficaram para a Academia Militar em Nanquim . Lá a ênfase continuou nos aspectos teóricos . A base eram quatro textos de Mão : “ Problemas da guerra e da estratégia ”, “ Sobre a guerra prolongada”, “ Problemas estratégicos da guerra revolucionária na China” e “ Problemas estratégicos da guerra de guerrilhas antijaponesa”.

A par desses, havia outros textos de Mao, onde se procurava mostrar que o exército popular era um exército de novo tipo , diferente dos bandos de saqueadores e assassinos comandados pelos “ senhores da guerra ”, tradicionais na história da China. Poderíamos chamá-los de texto político-militares.

Esse novo exército se identificava com as massas e seus corpos eram unidades de produção e de combate - sua manutenção não poderia ser pesada para os camponeses. Os textos básicos eram: “ Nova proclamação das três grandes regras de disciplina e das oito recomendações ”, “A luta nas montanhas Ching-kang”, “ Fazer do exército um corpo de trabalho ”, “ Sobre a produção pelo próprio exército dos bens que necessite”, e “A guerra popular ” (inserida no texto “ Sobre o Governo de Coalizão ”).

Sobre o curso em Nanquim , podemos dizer que tinha o formato de um curso de estado maior . Elio se recorda dos imensos mapas militares , cheios de setas azuis e vermelhas, onde os veteranos da guerra antijaponesa e da guerra de libertação mostravam as campanhas . Poucos foram os exercícios de tiro , de simulação de emboscadas ou de combate .

A estadia na China durou quase sete meses: dois meses e meio em Pequim, três meses em Nanquim e um mês de giro pela China. A delegação esteve em Cantão , Xangai, Hangtchou, Wu-han, Xi-an, onde seriam descobertos os guerreiros de terracota e Nang-chang, entre outras cidades . Em Pequim, conheceu sítios históricos e pitorescos ; visitou a Cidade Proibida , fábricas , creches e conjuntos habitacionais . Houve até tempo para assistir algumas “ peladas ” de futebol no Estádio Olímpico . No dia 30 de dezembro , Elio viajou para Genebra e no começo de janeiro estava de volta ao Brasil.

Em 66, foi enviada a última turma , com aproximadamente 15 militantes . Entre eles : Michéas Gomes de Almeida; João Carlos Haas Sobrinho ; Divino Ferreira de Souza; José Barbosa Oliveira , que teria o codinome de Rafael, Benedito de Carvalho ( codinome Lutero); Lincoln Cordeiro Oest ( membro do Comitê Central ); André Grabois; Nelson Lima Piauhy Dourado ; João Amazonas ( membro do Comitê Central e da Comissão Militar da guerrilha ); Maurício Grabois ( membro do Comitê Central e da Comissão Militar da guerrilha ). Negritamos os nomes dos militantes que foram para o Araguaia. Provavelmente, os membros do Comitê Central não participaram dos cursos , mas , com certeza , debateram a experiência da revolução chinesa com os dirigentes do PCCh ( Partido Comunista da China).

Capítulo 1 - parte 2

Rumo ao Araguaia

Em junho de 66, quando o PC do B realizou a sua 6ª Conferência , Elio estava presente , como delegado do Espírito Santo . Como o partido reivindicava ser uma continuação do antigo PCB, a numeração de suas conferências foi mantida, bem como o nome do jornal do Comitê Central , A Classe Operária .

De 62 até 66, o Partidão havia sofrido uma série de rachas e de cisões , perdera muito da sua influência e se desmoralizara politicamente com a derrubada do governo João Goulart. Os olhares da maioria dos revolucionários brasileiros se voltavam para Cuba , onde uma revolução armada derrubara a ditadura de Fulgêncio Batista .

A Sexta Conferência aprovou um documento intitulado “ União dos brasileiros para livrar o país da crise , da ditadura e da ameaça neocolonialista”, onde propunha a formação de um governo democrático , representativo de todas as forças patrióticas, como forma de aglutinar as forças que se opunham ao regime .

Tarzan de Castro havia sido colega de turma de Elio, em 65. Em entrevista ao Jornal Opção , Tarzan afirmou que guardava uma grata recordação dessa viagem : “Peguei na mão de Mao, num encontro no Palácio do Povo , em Pequim. Passamos uma tarde com ele , com o primeiro ministro Chu-En-Lai, toda a cúpula . Falamos sobre Brasil, América Latina , cultura . Foi um encontro muito agradável e proveitoso ”.
Alegando que a proposta de um governo democrático era um recuo em relação ao governo popular revolucionário que constava no Manifesto Programa , Tarzan de Castro encabeçou o grupo de militantes que criou a Ala Vermelha do PC do B, mais conhecida como Ala Vermelha . A Ala criticava a inação do PC do B e cobrava o início imediato da luta armada .

A crítica à inação é improcedente , pois já estavam sendo dados os passos que levariam ao Araguaia. Embora a formulação teórica da luta armada não estivesse acabada , a VI Conferência assinalava que “a luta revolucionária em nosso país assumirá a forma de guerra popular ”. Segundo depoimento de Elio, os militantes estavam conscientes de que a luta armada era inevitável e a ela se referiam como sendo “a quinta tarefa ”.

Em 66, começam a chegar os primeiros militantes à área da futura guerrilha do Araguaia. Na verdade , o trabalho no campo é bem anterior . “A partir de 1964, pessoas e recursos começam a ser deslocados para o campo . O dirigente Maurício Grabois e o economista Paulo Rodrigues, militante comunista desde 1960, estão entre esses quadros ... No intuito de localizar uma zona adequada ao propósito do Partido , os dois homens vão percorrendo parte do país de sul a norte .”[in Maia , Iano Flávio et alli, p. 39].

A área procurada deveria ter condições geográficas favoráveis à guerrilha e desfavoráveis às tropas regulares e uma população com bom potencial de luta . Nessa pesquisa os dois chegaram até Porto Franco , no Maranhão, de onde seguiram para o sul do Pará .

“ Paralelamente , Pedro Pomar e Carlos Danielli também realizam expedições . Danielli... viaja pelo Nordeste . Mais especificamente pelo Ceará, Piauí, Maranhão e oeste da Bahia.... Pomar se desloca através de Goiás, Maranhão e sul do Pará , disfarçado de vendedor de remédios ... Depois dessas viagens de reconhecimento , ele e Ângelo Arroyo ficam responsáveis por preparar a instalação de militantes em Goiás.” [in Maia , Iano Flávio et alli, p. 39]

“ Pomar e Arroyo instalam militantes como fazendeiros , posseiros ou comerciantes em pequenas cidades de Goiás. Mas a região apresenta alguns pontos negativos . A população que seria a base de massa da guerrilha , é muito dispersa e tende a se movimentar acompanhando a mudança da fronteira agropecuária .” Grifos nossos .[ idem ]

Em 65, Vitória Grabois, filha de Maurício Grabois, seu marido , Gilberto Maria Olímpio, Osvaldão e Paulo Rodrigues se instalam em Guiratinga no Mato Grosso . Em depoimento dado à Deusa Maria de Souza, Vitória dá mais detalhes :

“ Sobre esse episódio que eu saiba não há nada escrito , nem o PC do B fala algo . No início dos estudos para viabilizar a Guerrilha era necessário escolher uma região adequada para iniciar o movimento . Gilberto, Paulo, Osvaldão e eu fomos para o oeste de Mato Grosso . Gilberto e eu alugamos uma casa na cidade de Guiratinga. Paulo tinha um jeep e era “ sócio ” do Gilberto em um negócio de venda de roupas ; Osvaldão era garimpeiro , na região e eu professora e dona de casa . Minha tarefa era o apoio logístico e também angariar o apoio das populações ; a de Gilberto e Paulo era de reconhecimento de toda a região oeste de Mato Grosso ; a de Osvaldão, inserção com as massas .

Foi um momento muito rico em minha vida . Ano de 1965, eu estava com 21 anos , recém casada e dona do meu próprio espaço .

Trabalhei com a população local como professora e me tornei uma pessoa muito popular . Após 8 meses, o grupo se desfez e voltei para SP e fiquei grávida, não retornando mais à região .”

Analisando o reconhecimento feito , o partido chegara à conclusão de que a área não era adequada. A busca prosseguiu rumo ao norte : centro-oeste e norte de Goiás e sul do Maranhão e Pará .

Ozeas Duarte ingressou no PCB em 1961, por ocasião da renúncia de Jânio Quadros . Em 64, logo depois do golpe , se juntou ao PC do B. Em 66, era o delegado do Ceará à VI Conferência . Em correspondência trocada conosco , ele fala de mais três áreas :

“Sei de mais três regiões de trabalho no campo : no Vale do Ribeira , trabalho embrionário conduzido por Pomar , ao que me parece, muito problemático , até mesmo pela localização . Não deu certo . Outro foi na Serra da Ibiapaba, área do bispo D. Fragoso , sujeito de esquerda , que mantinha contato e trabalhava com o partido sem nenhum problema . Quem estava à frente era Vladimir Pomar . Essa área foi abandonada, queimada por uma panfletagem absurda que fizeram por lá . E outra era no sul da Bahia, que mudou para MG e depois para MT. A repressão dava em cima , mas como era um movimento de massa um pouco mais amplo , o pessoal botava o povo dentro de ônibus , formava a caravana e se mudava, posseiros em novas terras devolutas. Dessa área saiu um torneiro mecânico que foi para o Araguaia. Virou armeiro , arrumador de armas que não tinha como arrumar .”

Em outubro de 67, Che é assassinado na Bolívia. No Brasil e no mundo , 1968 é marcado por manifestações estudantis e greves operárias. Aqui , a partir de 69, o aumento da repressão e a impossibilidade de se repetirem as grandes passeatas , levou várias organizações revolucionárias a optarem por ações armadas nas cidades . Eram inspiradas pela teoria do foco , uma generalização apressada da experiência cubana. (O foco era o embrião da guerrilha . Deveria se localizar no campo e era formado por um pequeno número de militantes oriundos das cidades ).

Esse diálogo entre José Dirceu e Wladimir Palmeira , que em 68 eram duas lideranças estudantis de projeção nacional , é esclarecedor :

“ Para a linha geral do movimento , na esquerda revolucionária , foi a Revolução Cubana que influenciou decisivamente . Primeiro , pelo mito do Che Guevara que nós tínhamos já antes do maio francês . Che era adorado. O curioso é que a esquerda brasileira nunca repetiu o que houve em Cuba . Ela dizia “vamos assaltar bancos para financiar o foco ”, mas como nunca acumulou dinheiro suficiente , assaltar bancos virou ação . Fazia propaganda armada , mas nunca se chegou sequer a ser como um foco cubano, embora a motivação original de se pegar em armas fosse montada nessa concepção . Geraríamos o foco guerrilheiro e as massas adeririam, uma concepção que está em A Revolução na revolução , o livro do Régis Debray.

Zé Dirceu: O foco foi concebido pela ALN e pelo Carlos Marighella. Depois a ALN e o Molipo tentaram implantá-lo em Goiás, em algumas regiões , mandando pessoas para lá . Evoluiria para uma coluna guerrilheira , que no fundo é um foco . Mas nunca foi além de levar armas , comprar propriedade e levar umas cinco ou seis pessoas . Nunca passou disso.

Vladimir Palmeira: É tudo uma baboseira , sabe por quê ? Porque o Régis Debray não conhece nada de Cuba .

Zé Dirceu: Nem da América Latina .[in Blog do Zé Dirceu].

Em 68, o PC do B publicou o documento “ Alguns problemas ideológicos da revolução na América Latina ”. O documento critica as concepções que negavam o aspecto nacional e democrático da revolução , condena a posição reformista do PCB e, indiretamente , a posição dúbia de Cuba , frente ao chamado revisionismo soviético . Há uma frase , atribuída a Fidel, que ilustra com muita felicidade esse posicionamento : “ meu coração está com a China, mas meu estômago está com a União Soviética .” Entretanto , a formulação da guerra popular , junto com uma avaliação crítica de outros caminhos para a luta armada , só será feita em 69.

Em Havana , o Museu da Revolução , antiga sede do governo de Batista , ainda guarda as marcas de bala em suas escadarias . Na área do museu , pode-se ver o Gramma, que mais se pode chamar de barquinho, do que de iate . É inacreditável que 80 homens pudessem caber nele. No segundo andar , vendo os mapas e as maquetes militares , deparamos com algo mais inacreditável ainda : em apenas dois anos , os 12 sobreviventes do desembarque conseguiram derrubar o ditador Fulgêncio Batista !

Não cabe aqui analisar as causas da vitória da revolução cubana, mas , certamente , entre os fatores decisivos estavam: a existência de um amplo movimento de massas nas cidades ; o isolamento de Batista , cuja ditadura foi uma das mais sangrentas dessa parte do mundo e um movimento camponês com tradição de luta . Não foi o exemplo heróico de um punhado de guerrilheiros que colocou toda essa massa em ação ; ao contrário , foi a existência desse enorme potencial revolucionário que assegurou o êxito da luta armada .

De novo , recorremos à opinião de Wladimir Palmeira :

“Vladimir Palmeira : No dia em que Fidel iria desembarcar , naquela aventura , havia uma insurreição popular com cinco mil militantes , na segunda cidade mais importante de Cuba , Santiago. Transposta para o Brasil, equivaleria a uma insurreição no Rio . Só que o barco do Fidel atrasou dois ou três dias . A insurreição foi derrubada nesse período , e ao desembarcar Fidel estava vendido. Mesmo assim , ele tinha contato no campo . Não foi chegar e botar os caras sem nenhum contato . São essas são bobagens que Debray exacerbou. Existia em Cuba uma tradição de guerrilha rural , desde que o país ficou independente . Debray fez um manual que descaracterizava a história da Revolução Cubana. Nem a revolução foi como ele disse – que tinha uma certa dose de aventura . Fidel era um cara excessivamente voluntarioso , mas contava com uma base política e de apoio enormes . Não tinha nada a ver com aquilo que tentamos fazer aqui . Imagina, você chegar numa cidade como o Rio e fazer uma insurreição por três dias . O livro do Debray prejudicou muito . A questão da luta armada devia ser tratada de forma mais séria .” [ in Blog do Zé Dirceu]

Nenhum dos quadros iniciais da guerrilha cubana tinha uma formação política mais sólida . O próprio Che tinha apenas tinturas de marxismo . Não é de se estranhar , que essa rica experiência ficasse reduzida a uma fórmula mágica , a teoria do foco .

O documento do PC do B, de janeiro de 69, “ Guerra Popular , caminho da luta armada no Brasil”, faz um resumo bem apropriado dessa teoria . “Esta teoria não tem em conta a situação objetiva , as forças de classe em presença e o processo político em curso . É uma concepção voluntarista. Segundo os teóricos do “ foco ”, a guerrilha se desenvolve harmonicamente, “a partir de um núcleo central único ”, situado em regiões pouco acessíveis e com combatentes provindos das cidades . Esse núcleo cresce até se transformar numa coluna-mestra que , ao atingir 120 a 150 homens , dá origem a outra coluna que , por sua vez, origina mais outra e assim por diante . Sua existência e manutenção dependem fundamentalmente dos centros urbanos . Seu método não tem em vista ganhar as massas para que elas mesmas façam a sua guerra . O “ foco ”, segundo seus defensores , por si só , através de atos heróicos de pequenos grupos , atrai novos combatentes e conduz a revolução à vitória . A guerrilha é o próprio partido .”

Em contraste , vejamos o resumo dos aspectos básicos da guerra popular , segundo o PC do B: “... será uma guerra de cunho popular , travar-se-á fundamentalmente no interior e mobilizará as grandes massas camponesas, será prolongada, deverá apoiar-se em recursos do próprio país , empregará o método da guerrilha em grande escala , forjará o exército popular , estabelecerá bases de apoio no campo . Terá que se orientar , durante muito tempo , pelos princípios da defensiva estratégica e deverá guiar-se por uma política correta .”

Em dezembro de 69, o PC do B lançou o documento “ Responder ao banditismo da ditadura com o avanço da luta do povo ”. Internamente , ele se tornou conhecido como o documento da “revolucionarização”. Considerando o agravamento da repressão e sabendo que em breve o partido poderia iniciar ações armadas no campo , a direção procurava preparar os quadros e os militantes para a nova situação .

“Impõe-se a revolucionarização cada vez maior do Partido . Seus dirigentes e militantes precisam dedicar-se integralmente à tarefa de aplicar a orientação partidária . Cada comunista tem que organizar sua vida de maneira a consagrar o máximo de seu tempo ao Partido , transformar-se num autêntico soldado da causa do povo , pronto a executar qualquer atividade e onde quer que seja. Tem que evitar tudo que possa prejudicar sua militância revolucionária . Deve estar preparado , moral e ideologicamente para arrostar todas as dificuldades e enfrentar todos os sacrifícios . Para ser um autêntico servidor do povo tem de subordinar sua vida e atividade às necessidades do Partido e da revolução , estar sempre pronto a realizar o trabalho mais difícil que a luta revolucionária exige.” Grifos nossos .

A partir de 1970, se acelera o envio de militantes para a região do Araguaia. Eram muitos os que se ofereciam como voluntários para ir para o campo , onde era esperado que fosse se travar a luta armada . Por outro lado , o partido era cobrado tanto internamente , pelos seus militantes , quanto externamente , pelos militantes das organizações que já haviam iniciado as ações armadas , pela demora em dar uma resposta efetiva ao endurecimento do regime militar .

Ao final desse livro , pretendemos fazer uma ampla avaliação da política do PC do B em relação ao Araguaia, entretanto , fazem-se necessários dois reparos iniciais . Primeiro : é preciso examinar com muito critério a afirmação de alguns sobreviventes da guerrilha de que não tinham noção do tipo de trabalho que encontrariam no Araguaia. Embora a localização da futura guerrilha não fosse conhecida até por parte do Comitê Central , o sentimento geral no partido era de que em breve seriam desencadeadas ações armadas no campo . O autor se lembra bem de que , em Porto Alegre , um militante havia “ dado um prazo ” para que a guerra popular começasse, sob pena de ele não acreditar que o partido estivesse falando sério . Isso foi um pouco antes do começo da guerrilha .

Segundo: é falso dizer que o PC do B estivesse abandonando o trabalho legal e as entidades de massas , legais ou clandestinas. Essa era a visão das organizações foquistas, que recrutavam a grande maioria dos seus militantes entre os estudantes . Como não era mais possível repetir as passeatas de 68, elas teorizavam que o papel do movimento estudantil era o de fornecer quadros para a revolução . Mesmo a atuação nas entidades legais , estreitamente vigiadas, poderia “ queimar ” os militantes . Preferiam organizar círculos de leitura e de estudos entre a chamada vanguarda .

O caso da UNE é emblemático . Embora tivessem um grande peso no movimento estudantil em 68 e 69, essas organizações abandonaram a entidade e, na diretoria eleita no XXXI congresso , realizado em 71, só havia militantes do PC do B e da AP , que já eram majoritários nas entidades legais (a AP estava cindida em duas grandes correntes ). A AP era uma organização revolucionária , originada da esquerda católica , que evoluiu até o maoísmo. Teve grande influência nos movimentos populares da década de 60. Betinho, o irmão do Henfil, foi um dos seus fundadores .

Em linhas gerais , essa foi a trajetória política do PC do B da ruptura até o Araguaia: desligou-se do PCB em 62, em virtude de sua política reformista; optou desde o início pela luta armada ; alinhou-se ao lado da China na cisão do movimento comunista internacional ; iniciou desde 64 a preparação do trabalho do campo e a escolha de uma área com potencial para futuros conflitos armados; definiu, em 66, na VI Conferência , uma plataforma política capaz de unir as grandes massas do país no quadro de uma revolução nacional e democrática ; delineou, em 69, o que seriam os princípios básicos da guerra popular e, a partir desse ano , intensificou a remessa de militantes e a preparação ideológica do partido para os futuros confrontos . Ao mesmo tempo , manteve a sua atuação nas cidades , nas entidades de massas , legais ou não .


Capítulo 3 - Primeira parte


O Destacamento do Osvaldão

José Genoino Neto , o ex-presidente do PT, conta que deixou São Paulo no dia em que a Seleção Brasileira , tri-campeã do mundo no México, chegou à cidade para desfilar no Anhangabaú. Ele aproveitou o momento para pegar um ônibus na Rodoviária de São Paulo com destino a Campinas . Genoino sabia que o PC do B preparava a luta armada no campo , apresentou-se como voluntário e foi enviado para essa missão . Quando entrou no ônibus , ele não conhecia o seu destino final , só a sua primeira escala . Lá teria que cobrir um ponto * e receber mais instruções . Em Campinas , soube que ia para Anápolis.
*Cobrir um ponto era comparecer na hora marcada a um local previamente combinado. Às vezes , as pessoas se identificavam através de senhas . Em caso de desencontro , poderia haver uma alternativa , um ponto em outra data e/ ou local .

Em Anápolis, Genoino encontrou com um velho conhecido do movimento estudantil cearense , Glênio, que ia para a mesma missão . Os dois foram contatados por José Humberto Bronca , um ex-metalúrgico gaúcho , que os iria conduzir , daí em diante . Passaram um dia fazendo pequenas compras : remédios , facão , machado , panelas e mantimentos . Depois , seguiram de ônibus até Imperatriz, no Maranhão, fazendo de conta que não se conheciam.

Em Imperatriz, se hospedaram em hotéis diferentes . Gastaram mais três dias fazendo compras , separados. Só então , Genoino soube que entraria na mata pelo rio , num barco . A viagem de Imperatriz para Porto Isabel durou cinco dias ; primeiro descendo o Rio Tocantins, até São João do Araguaia, depois subindo o Rio Araguaia. No barco , os três já se apresentavam como conhecidos . Glênio e Genoino contavam aos camponeses que ia morar com um tio , no sul do Pará .

De Imperatriz em diante , não havia mais pontos de referência : só a mata e o rio . A selva ia engrossando, à medida que o destino final se aproximava. Os últimos 14 quilômetros foram feitos a pé , porque o Araguaia havia baixado e a cachoeira de Santa Isabel não estava transponível.

Bronca já estava na região desde 69 e era muito bem relacionado com os moradores. De cada um que encontrava, recebia a mesma pergunta : - o Osvaldão, como vai? - O Negão está bem ? - E o Mineirão? Glênio e Genoino se perguntavam quem seria esse personagem tão popular .

Finalmente chegaram a um pequeno rancho , numa região de capoeira , onde um negão fritava um bife de veado , em companhia de um velhinho de 60 anos . A recepção foi calorosa . Genoino recebeu arma , facão e botina , foi colocado a par das características da região e ganhou de lembrança do seu tio uma folhinha do calendário . A data era auspiciosa , 26 de julho * . O tio , ele soube mais tarde , era Amazonas .
*26 de Julho é o nome do principal movimento rebelde cubano. Nessa data houve o fracassado ataque ao quartel de Moncada, que terminou com a morte de vários rebelde e a prisão de Fidel Castro

O negão até hoje é uma figura lendária no Araguaia. Seu próprio físico o tornava inesquecível : negro , quase dois metros de altura , sapato 48, dotado de enorme força física (havia sido campeão de box pelo Botafogo). Em 62, quando foi estudar engenharia na Tchecoslováquia, foi tema de um livro “O homem que parou a cidade ”, do escritor tcheco Cytrian Ekwensi.

Sandra Negraes Brisolla, professora da Unicamp, que o conheceu em Praga , lembra de um relato curioso : ” Quando cheguei a Praga , os meninos passavam saliva no dedo e esfregavam meu braço , para ver se a cor da minha pele saía. Nunca tinham visto um negro – contou [Osvaldão]”. Foram estas características tão marcantes que o afastaram das cidades , onde dificilmente poderia se esconder da repressão .

Assim que retornou da Tchecoslováquia, Osvaldão entrou para o PC do B. Como vimos, desde 65, ele já estava envolvido no trabalho de campo do partido , no norte de Goiás. No Araguaia, ele foi o primeiro a chegar , ainda em 66. Atuando como garimpeiro e mariscador (caçador de peles ), conhecia a área profundamente . Em 69 comprou uma posse às margens do Rio Gameleira , na região de Couro D’ antas .

Amazonas era o Secretário Geral do PC do B. Paraense , nascido em 1912, João Amazonas entrou para o partido em 1935. Ele e Pedro Pomar atuavam no Pará . Em 1940, os dois foram presos , junto com outros dirigentes locais . Segundo relato do próprio Amazonas : “Na prisão , recebemos a notícia da invasão da União Soviética pela Alemanha hitlerista . Nossa indignação foi enorme . Reunimos, nesse mesmo dia , e juramos sair da prisão para continuar a luta de vida e morte contra o nazismo .” .

A fuga deu certo e os dois se dirigiram para o Rio de Janeiro , passando pela região do Bico do Papagaio . Foi o primeiro contato de Amazonas com o futuro cenário da guerrilha . No Rio , encontraram-se com a Comissão Nacional de Organização Provisória (CNOP), dirigida por Maurício Grabois e Amarílio Vasconcelos. Em seguida , contataram Diógenes Arruda , que tentava reorganizar o partido em São Paulo. Era a agonia da noite ( título do segundo volume da trilogia de Jorge Amado ). O partido estava desmantelado e os remanescentes eram caçados pela polícia de Getúlio.

Graças aos esforços da CNOP, em agosto de 43, foi realizada a 2ª Conferência Nacional do PCB, conhecida como “ Conferência da Mantiqueira”. “ Segundo Dinarco Reis , a reunião ” foi realizada numa pequena cafua de telha-vã e chão de terra , com sala , quarto e cozinha , local bastante exíguo para tantas pessoas (...) Dormíamos no chão de terra forrado por sacos e jornais . À noite o frio castigava duramente , pois era inverno nessa região bastante alta ”.” Nesta Conferência , Amazonas foi eleito para o Comitê Central .

Em 45, finalmente chegou a luz no fim do túnel ( título do último volume da trilogia de Jorge Amado ): vieram a anistia e a legalização do PCB. João Amazonas foi eleito deputado federal para a Assembléia Constituinte , juntamente com Maurício Grabois e Diógenes Arruda . Depois da cassação dos deputados comunistas , já no governo Dutra, o trio assumiu a direção cotidiana do Partido .

Em 1968, 27 anos depois de sua fuga , Amazonas retornou à região . Inicialmente , ele se estabeleceu num povoado chamado Faveira, às margens do Rio Araguaia. Mais tarde se deslocou para a posse de Osvaldão. Conheci Amazonas uma década depois de sua saída do Araguaia. Seu aspecto físico era o de um típico caboclo : baixo , franzino , rosto largo , com traços indígenas . Na região , ele poderia passar despercebido , a não ser pela sua voz , que , embora fraca , prendia a atenção de todos à sua volta e pela autoridade que dele emanava.

Uma das primeiras tarefas dos dois sobrinhos foi construir uma casa , a 150 metros do Rio Gameleira , onde Osvaldão, Glênio, Genoino, Amazonas e Bronca foram morar .



Capítulo 2 -


A composição dos destacamentos


Ao deslocar mais de 70 militantes para a região do Araguaia, o PC do B pretendia formar três destacamentos , cada um com 23 combatentes : um comandante , um vice-comandante, e três grupos de sete guerrilheiros . Previa-se que , ao final de 1972, os efetivos estivessem completos , a área mapeada e o treinamento militar concluído. Caberia ao partido escolher como e quando iniciar a luta armada .

Ângelo Arroyo era um operário paulista que ingressou no PCB em 1945, com 17 anos . Em 54, foi eleito membro do Comitê Central . Desde o início , se opôs as teses de Khruschev e, em 62, participou da reorganização do partido . No PC do B, era membro do Comitê Central e de sua Comissão Executiva . Fazia parte da Comissão Militar , a qual os três destacamentos estavam subordinados . Ele sobreviveu ao aniquilamento da guerrilha e escreveu um relatório , o chamado Relatório Arroyo, uma de nossas fontes primárias.

Para facilitar a leitura , além das tabelas que constam nesse capítulo , elaboramos um encarte . Ao lado do nome dos militantes , colocamos os nomes de guerra com os quais eram conhecidos entre os moradores e entre os próprios companheiros . O Relatório Arroyo utiliza quase sempre esses nomes de guerra . Para evitar confusões (existia um Zezinho do destacamento A e um do destacamento B, por exemplo ), nós fixamos um nome , que , se for o caso , virá sempre em itálico .


Capítulo 3 segunda parte

O álbum de fotos

Zé Dirceu, Wladimir Palmeira e Genoino, hoje lideranças nacionais do PT, são velhos conhecidos . Em 1968, em um sítio em Ibiúna, São Paulo, eles participaram do lendário XXX Congresso da UNE – União Nacional dos Estudantes . A polícia descobriu o local e os setecentos e poucos delegados foram presos e colocados em fila , no meio da lama , para serem revistados e enviados para o Presídio Tiradentes.

Um estudante ficava repetindo a música : “ Aqui dá pra rir , dá pra chorar ... enquanto todo o resto ria . De repente , passou uma camionete C-14 da polícia , com Wladimir, Travassos , Zé Dirceu e o então Presidente da UBES – União Brasileira dos Estudantes Secundaristas , Antônio Guilherme Ribeiro Ribas . Os estudantes passaram então a entoar o refrão : “A UNE somos nós , nossa força , nossa voz ”, para demonstrar que estavam unidos, apesar das divergências que pudessem haver entre suas lideranças .

Quando um dos policiais que comandavam a operação identificou o Presidente da UBES, Antonio Ribas , disse mais ou menos o seguinte : “ Você não tem jeito mesmo , seu Ribas , foi preso entregando panfletos no Desfile de 7 de setembro (...) foi solto na véspera desse Congresso da UNE. Hoje , três dias depois de ser solto, já é preso novamente . Você é um caso perdido” . De fato , felizmente , ele era um caso perdido. No dia seguinte , os jornais estamparam a foto de Guilherme, ao lado de José Dirceu, sendo transportados para o Presídio Tiradentes. Infelizmente , essa não foi a única foto tirada . A polícia montou um álbum de fotografias do Congresso , que mais tarde seria o pesadelo dos militantes clandestinos .

Ribas, Zé Dirceu, Wladimir Palmeira e Travassos se tornaram conhecidos como “o grupo dos quatro ”. Guilherme foi condenado a um ano e seis meses de prisão , acusado de organizar o Congresso . A maioria dos presos foi solta através de habeas-corpus, mas o AI-5 , decretado numa sexta-feira 13 de dezembro de 68, suspendeu esse instrumento e manteve o grupo dos quatro na cadeia .

Quando ocorreu o seqüestro do embaixador norte-americano , em setembro de 1969, Guilherme estava no Presídio Tiradentes. Aqui existe um ponto obscuro em sua história . Alguns dizem que ele seria incluído na lista dos presos a serem libertados, outros dizem que não .

Seja lá como for, no final de 1969, Diógenes Arruda e Paulo de Tarso Venceslau , se juntaram ao Guilherme numa das celas do Presídio Tiradentes. A cela tinha até nome , “Monteiro Lobato”, em homenagem a um antigo hóspede . Paulo de Tarso nos conta :

“ Durante todo tempo que estivemos presos mantivemos [ ele e Ribas ] um bom relacionamento. Diferente foi o relacionamento com Arrudão, sempre marcado por altos e baixos , porém com muito respeito ”. (...) “Na época , minha organização - ALN - tinha críticas ao PC do B, considerado uma variante chinesa do reformismo soviético . (...) Como não sabia da iniciativa em Goiás e Sul do Pará , eu achava que o discurso de Arruda não passava de retórica . Difícil foi ter de engolir que Ribas saiu da prisão e seguiu logo depois para a área rural . Ninguém imaginava que aquilo pudesse acontecer ”.

Guilherme foi solto em abril de 1970. Talvez tenha sido o último preso de Ibiúna a sair do cárcere . Imediatamente , entrou na clandestinidade. Primeiro foi para uma fazenda da família em Limeira (SP) e depois seguiu para Duque de Caxias , baixada fluminense . Antes de embarcar para o seu destino de guerrilheiro nas matas do Araguaia, fez uma última reunião com a família . Naquela noite afirmou: “voltarei à frente de uma revolução ou não voltarei”.

Quando Ribas chegou à região do Rio Gameleira , em outubro de 1970, adotou o nome de Zé Ferreira . Como não havia condições de ficar todo mundo numa mesma casa , comprou um castanhal a 24 km . do rio , que passou a ser conhecido como “O Castanhal do Zé Ferreira ”. A área era relativamente deserta e poderia abrigar mais companheiros .