quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

DELEGAÇÕES NÃO SE ENTENDEM SOBRE PONTOS CRUCIAIS, COMO METAS DE EMISSÕES, LIMITES DE TEMPERATURA E FINANCIAMENTO

COPENHAGUE. Diante do fracasso dos negociadores, todos os pontos cruciais de um acordo na Conferência do Clima permanecem em aberto e deverão ser resolvidos por ministros de Estado — o que é incomum nas negociações internacionais —, numa corrida contra o tempo até a chegada dos chefes de governo. Falta decidir tudo: metas, dinheiro, limite de aumento de temperatura e de cortes de florestas.
Houve um retrocesso até em questões nas quais os negociadores imaginavam ter avançado, como as ações para reduzir emissões por meio da diminuição do desmatamento.
Ministros deverão atravessar a madrugada de amanhã para determinar os pontos antes da chegada de seus líderes, que se reúnem na sexta-feira. Ainda assim, segundo o negociador-chefe do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, duas questões espinhosas podem ficar para os chefes de governo: dinheiro e metas.
— Se vão deixar todos estes temas para os líderes, será muito difícil termos um acordo em dois dias — afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon — E precisamos de um acordo forte, de um resultado substancial.
Ambientalista teme que só haja declaração política O número de questões em aberto assusta especialistas, como Marcelo Furtado, diretorexecutivo do Greenpeace Brasil, que acompanha há 17 anos as discussões.
— Isso significa que tudo é impasse. Isso é ruim. Estamos a 24 horas da chegada dos chefes de estado. Corremos o risco de só termos uma declaração política que não vale nada.
Entre pontos-chaves em aberto, estão as metas de redução de emissões. O primeiro rascunho estabelecia compromissos obrigatórios de corte das emissões para os países ricos, deixando o percentual em aberto, de 25% a 45%. E determinava ainda reduções no crescimento das emissões para países em desenvolvimento.
Se o primeiro texto não falava em financiamento a longo prazo, o novo tampouco o menciona, confirmando que não houve avanço algum.
Outro ponto, destacado pela secretária de mudanças climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Suzana Kahn, é que o primeiro rascunho fazia uma referência ao Protocolo de Kioto, que desaparece neste novo rascunho.
O maior retrocesso, no entanto, teria sido na questão do REDD. Esta é a sigla do mecanismo destinado a mensurar reduções de emissões de CO2 a partir da diminuição do desmatamento das florestas, e o formato deste mecanismo estava praticamente estruturado. Uma nova versão, entretanto, com diversas salvaguardas, surgiu, sobretudo por conta das pressões dos Estados Unidos e, agora, as duas versões serão levadas aos ministros. Em aberto continua o problema de financiamento; se, por meio de um fundo ou por créditos a serem vendidos no mercado.
Impasse centrado em EUA, União Europeia e China O grande nó nas negociações permanece centrado em três grandes blocos: União Europeia, EUA e China, que não avançaram um milímetro em suas determinações de cortes desde que chegaram a Copenhague.
— Não há chance de novos compromissos — voltou a afirmar o negociador-chefe dos EUA, Todd Stern, referindo-se à proposta de corte de 17% em relação a 2005, em discussão no Senado americano.
Não faltaram apelos para que a situação se resolva mais rapidamente.
O secretário-geral da Convenção das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, Yvo de Boer, posou para fotógrafos ontem ao lado de uma boia, na qual se lia a inscrição “aja agora, salve vidas”.
— Precisamos de metas ambiciosas de cortes, de financiamento.
Há um ditado em inglês que diz que podemos levar o cavalo à água, mas não forçá-lo a beber.
Trouxemos 192 à água, mas não podemos forçá-los a beber


PONTOS POLÊMICOS


O QUE É MITIGAÇÃO?

Medidas de mitigação são aquelas necessárias para reduzir as mudanças climáticas causadas pela ação humana. A principal forma de mitigar as mudanças climáticas é reduzir as emissões de dióxido de carbono e de outros gases do efeito estufa. O estabelecimento dessas metas é um dos pontos mais problemáticos da conferência de Copenhague. Os efeitos da diminuição das emissões também demorará a ser sentido porque os gases-estufa ficam muitos anos na atmosfera . O CO2, por exemplo, pode ficar até um século. Por isso, é importante agir depressa.

Outras formas de mitigação incluem manter as florestas de pé, para que absor vam CO2, e procurar métodos eficientes de criar sorvedouros de gases-estufa.
Para isso é necessário investimento em tecnologia e transferência de conhecimento para países em desenvolvimento.

E O QUE É ADAPTAÇÃO?

São ações que podem amenizar os efeitos de mudanças climáticas, consideradas inevitáveis.
Incluem uma série de medidas, como o desenvolvimento de plantas comestíveis resistentes a secas e à elevação de temperatura; a proteção de encostas e de margens de rios para evitar enchentes e desmoronamentos; e a instalação de barreiras contra a elevação do nível do mar.

GAFE VERDE

Em sua apresentação durante a COP-15, o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore cometeu um erro inconveniente: garantindo estar se baseando em estudos “recentes”, Gore afirmou que existem 75% de chances de o gelo desaparecer do Oceano Ártico durante o verão nos próximos cinco anos. Só que as pesquisas mais recentes dos especialistas indicam que o gelo pode desaparecer do local em 2030, caso o ritmo atual das emissões globais de CO2 não se altere. A confusão foi confirmada pelo climatologista Wieslav Maslowski, citado como fonte de Gore.

PERSONA NON GRATA

Acusado de violações dos direitos humanos, o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, chegou ontem à Dinamarca para participar da COP-15.
Mugabe se limitou a dizer que tinha o direito de estar na cúpula porque era “um cidadão deste mundo”. Apesar de sanções da UE à sua presença nos países do bloco, ele se aproveitou de brechas que permitem seu comparecimento a eventos da ONU.


APELO DO PAPA

O Papa Bento XVI fez ontem um apelo aos negociadores da COP-15, para que cheguem a um acordo de fato efetivo. Ele disse que os governos precisam estar conscientes de que as degradações ambientais “ameaçam a Humanidade e o seu futuro, tanto quanto as guerras e o terrorismo

PRÍNCIPE SOLITÁRIO

Notório defensor do meio ambiente, o príncipe Charles, do Reino Unido, chegou a Copenhague e, durante um discurso, alertou aos participantes da COP-15 que “uma solução parcial (para a questão climática) não é uma solução”. A delegação de seu país, porém, não tem feito avanços nessa linha.

SEREIA ZANGADA

Em meio à tensão das negociações da COP-15, uma eleição inusitada, divulgada ontem em Copenhague, deu à Monsanto o prêmio Sereia Zangada, dedicado às empresas ou aos indivíduos que mais atrapalharam ou sabotaram o combate às mudanças climáticas.
A empresa teve 37% dos dez mil votos anotados no site da premiação


www.angrymermaid.org


Postado por Luis Favre

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