terça-feira, 19 de janeiro de 2010

DEPOIMENTO DE UMA MÉDICA BRASILEIRA NO HAITI
COLEGA DE MINHA FILHA.

Sent: Tuesday, January 19, 2010 8:47 PM




Pai, esse é m e-mail de uma tenente médica do Exército amiga da Perla que está no Haiti. Ela deu entrevista no fantástico no domingo.
bj.

Subject:

Relato de uma amiga gineco q está no Haiti

Queridos familiares e amigos,desculpem-me pela demora em mandar-lhes noticias. Estou em falta com voces. Somente ontem consegui um tempo para acessar a net. As coisas aqui estao corridas. Desde o terremoto, os atendimentos nao param. Como medica, vim para o Haiti para realizar um sonho. Foram 7 meses de muito trabalho em que tinha total consciencia de missao cumprida. Estava plenamente realizada. Minha volta estava marcada para dia 29 e eu ja preparava minhas malas. Estava no consultorio e, de repente, um tremor. Saimos correndo dos conteiners, mas, naquele momento, nao poderiamos imaginar o tamanho do estrago.Chegaram 2 militares da base com machucados leves e cheguei a pensar que aquilo seria tudo. Ate que a guarda anunciou a chegada de civis haitianos. Nao esqueco a cena. Apesar de acostumada com os hospitais publicos brasileiros, nunca vi nada igual. Cena de filme. Filme de Guerra. Mas este filme era real e eu fazia parte dele. Criancas e adultos gravemente feridos. Corpos carregados. Vidas se esvaindo.Em pouco tempo, a area da enfermaria ficou repleta de colchoes com feridos. Os civis chegavam continuamente. O espaco tornava-se pequeno para tanta gente. E os profissionais de saude, embora estivessem dando o maximo de si, ja nao eram numericamente suficientes. Felizmente, a tragedia nos uniu e assisti a uma bela demonstracao de humanidade, altruismo e forca. Juntamente com a equipe de saude, militares com funcoes das mais diversas encaravam o desafio de salvar vidas. Durante toda noite e madrugada, nossa equipe trabalhou heroicamente. Com poucos recursos, sabiamos que aquele atendimento era o melhor que esses haitianos poderiam receber. A cidade estava destrocada. Hospitais em ruinas. Multidoes desabrigadas. Familias destruidas. Enfim, nosso pouco tonara-se muito em meio ao caos.Enquanto tentavamos salvar vidas, recebiamos noticias dos militares brasileiros mortos e feridos em missao. A perplexidade e a dor eram enormes, mas nao tivemos tempo de chorar nossos mortos. Era preciso cuidar de quem ainda tinha chance de sobreviver. Era preciso escolher pela vida.E a vida verdadeiramente surgiu de repente. Chamaram-me para examinar uma gestante em trabalho de parto. Apesar de nao termos estrutura para eventuais complicacoes do parto, sabiamos que nao havia opcao. Ela nao estava ferida. Estava com medo. Daria a luz a seu segundo filho em meio aos escombros. E, na madrugada apos o terremoto, nasceu uma pequena menina. Foi um parto lindo, inesquecivel.Daniella. Assim foi chamada a menina que seria simbolo de esperanca para toda uma tropa. Foi uma linda e emocionante homenagem que nunca esquecerei.Os dias se seguiram num ritmo alucinante. O tempo passava rapidamente. Nao havia tempo a perder. Era preciso continuar a luta. E cada vez que pintava um desanimo, uma dor, Deus mandava uma 'barrigudinha' para me animar. No total, foram tres partos normais em meio ao caos. Tres meninas. Tres simbolos de esperanca e luz. Duas receberam meu nome, Daniella. Uma recebeu o carinhoso apelido de Lulu em homenagem a Sargento Lucimar, uma verdadeira guerreira que me auxiliou em todos os momentos.A luta continua. Ainda temos muito a fazer por esta terra tao sofrida. E temos muito a aprender com o povo haitiano sobre superacao e forca. Apesar de tao sofrido, este povo tem uma enorme capacidade de se reerguer. Acredito ser possivel surgir dos escombros um Haiti melhor. Preciso acreditar.Agradeco a todos pelo carinho. Recebi inumeras mensagens de familiares e amigos. Nao escrevi para ninguem em particular. Nao neste momento. Mas, cada um de voces, esta aqui comigo. Em meu coracao!!! Em meus pensamentos!!!! Amo voces!!!!Rezem pelos que se foram e pelos que permaneceram. Que a forca de Deus seja sentida por cada um de nos.

Com amor, Dani Gil


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