Carta de Despedida de Che a Fidel
Ernesto 'Che' Guevara
1965
Origem: Carta lida por Fidel Castro em Outubro de 1965
Fonte: Gentilmente cedido pela primeiralinha.org.
HTML por José Braz para o Marxists Internet Archive
A Fidel Castro
Havana. "Ano da Agricultura"
Fidel:
Neste momento recordo muitas cousas: quando te conhecim em casa da Maria Antónia, quando me propugeche acompanhar-te, toda a tensom dos preparativos.
Um dia passárom perguntando a quem se devia avisar em caso de morte, e a possibilidade real do facto chocou-nos a todos. Depois soubemos que era certo, que numha revoluçom se triunfa ou se morre, se é verdadeira, e muitos companheiros ficárom ao longo do caminho para a vitória.
Hoje todo tem um tom menos dramático porque estamos mais maduros, mas o facto repete-se. Sinto que cumprim a minha parte do dever que me ligava à revoluçom Cubana no seu território e despido-me de ti, dos companheiros, do teu povo, que é já o meu.
Renuncio formalmente aos meus cargos na Direcçom do Partido, ao meu posto de ministro, ao meu grau de comandante, à minha condiçom de cubano. Nada legal me liga a Cuba, só laços de outra classe, que nom se podem partir como as nomeaçons.
Ao rever a minha vida passada, creio ter trabalhado com suficiente honestidade e dedicaçom para consolidar o triunfo revolucionário. O meu único erro com algumha gravidade foi nom ter confiado mais em ti desde os primeiros momentos da Sierra Maestra, e nom ter compreendido com celeridade suficiente as tuas qualidades de dirigente e de revolucionário.
Vivim dias magníficos e sentim ao teu lado o orgulho de pertencer ao nosso povo nos dias luminosos e tristes da Crise das Caraíbas. Poucas vezes brilhou mais alto um estadista que nesses dias; orgulho-me também de te ter seguido sem vacilar, identificado com a tua maneira de pensar e de ver e apreciar os perigos e os princípios.
Outras serras do mundo reclamam o concurso dos meus modestos esforços. Eu podo fazer o que te está negado pola tua responsabilidade à frente de Cuba e chegou a hora de separar-nos.
Saiba-se que o fago com umha mescla de alegria e dor: aqui deixo o mais puro das minhas esperanças de construtor e o mais querido entre os meus seres queridos, e deixo um povo que me admitiu como um filho; isso lacera umha parte do meu espíritu; aos novos campos de batalha levarei a fé que me inculcache, o espírito revolucinário do meu povo, a sensaçom de cumprir com o mais sagrado dos deveres: luitar contra o imperialismo onde quer que se encontre; isto reconforta e cura amplamente qualquer afliçom.
Repito mais umha vez que liberto Cuba de qualquer responsabilidade, salvo a que emana do seu exemplo; que se a hora definitiva me chega sob outros céus, o meu último pensamento será para este povo e especialmente para ti; que che digo obrigado polos teus ensinamentos e polo teu exemplo, ao que tentarei ser fiel até as últimas conseqüências dos meus actos; que estivem sempre identificado com a política externa da nossa Revoluçom, e continuo a estar; que onde quer que me detenha sentirei a responsabilidade de ser revolucionário cubano, e como tal actuarei; que nom deixo aos meus filhos e à minha mulher nada material e nom me apena: alegra-me que assim seja. Que nada pido para eles, pois o estado dará-lhes o suficiente para viver e educar-se.
Teria muitas cousas que dizer a ti e ao nosso povo, mas sinto que nom som necessárias as palavras e nom podem expressar o que eu desejaria; nom vale a pena deitar mais borrons no papel.
Até a vitória sempre. Pátria ou morte!
Abraça-te com todo o fervor revolucionário,
Che
quinta-feira, 4 de março de 2010
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