domingo, 29 de novembro de 2009

ALÉCIO CUNHA VAI FICAR PARA SEMPRE NA MEMÓRIA


ALÉCIO CUNHA
Enterro do jornalista, morto no sábado (29), reuniu centenas de pessoas no Cemitério Parque da
Colina


O repórter e colunista do HOJE EM DIA sofreu um AVC em outubro deste ano
O jornalista Alécio Cunha, repórter, colunista e blogueiro do HOJE EM DIA, morreu na noite de sábado (29), aos 40 anos. Em coma desde 6 de outubro, por consequência de acidente vascular cerebral, o jornalista morreu no Hospital Vila da Serra.
O enterro, no final da tarde deste domingo (30), levou centenas de pessoas ao Cemitério Parque da Colina, entre familiares, amigos, jornalistas, intelectuais e artistas de várias áreas, que destacaram a perda insubstituível para a imprensa e para as artes de um dos mais expressivos repórteres culturais surgidos nos últimos 20 anos.
Mais que a dedicação incondicional ao trabalho e às questões do meio cultural, Alécio Cunha obteve destaque pela incomum capacidade de trafegar por todas as searas da cultura, que dominava com invejável competência. Começou no jornalismo como free-lance nas sucursais de revistas como Veja e IstoÉ e na redação do Jornal de Casa.
No caderno Cultura do HOJE EM DIA, desde o início da década passada, encontra o caminho definitivo para a meteórica trajetória como jornalista. Formado em Comunicação Social pela UFMG, em 1990, começou produzindo eventuais críticas de cinema. Aos poucos, sempre com eficiência notável, abraça outras seções, especialmente a literatura, especificamente a poesia. Ao leque de habilidades somam-se também as crônicas, que passa a publicar no jornal às terças-feiras.
Deixou textos inéditos e três livros publicados. A primeira edição foi “Lírica Caduca” (editora Por Ora, 1999), um admirável exercício de síntese - uma das características marcantes de seu trabalho como poeta. “Lírica Caduca” limita-se à apreciação de especialistas e intelectuais; trata-se de edição artesanal, idealizada em papel reciclável e dobrável em sanfona.

O título do segundo livro soa com ironia para quem conhece a memória máxima do jornalista. “Mínima Memória” (editora Scriptum, 2007) é caloroso reencontro com a terra-natal, a Boa Esperança dos tempos de grupo escolar, esmiuçada e reinventada na concisão em forma de haicai.
Essa impressa declaração de amor não fica sem resposta dos conterrâneos: a Academia de Letras de Boa Esperança consagra seu filho como imortal. Em março de 2008, Alécio Cunha retorna em grande estilo a Boa Esperança, acompanhado do filho João Antônio - hoje com oito anos, fruto do casamento com a jornalista Márcia Queiroz. De sua bibliografia constam também dezenas de participações em revistas, ensaios de artes plásticas, o texto do livro “Mario Mariano” (editora V&N, 2007), ensaio sobre o artista baiano, e a inclusão em coletâneas brasileiras e portuguesas.
De acordo com o jornalista Itamar de Oliveira, professor na UFMG, Alécio Cunha foi um dos alunos mais brilhantes de sua época. “Era um aluno incrível e destacado, o que já anunciava o profissional brilhante do jornalismo mineiro contemporâneo”. Já o músico Juarez Moreira destaca sua importância como agitador cultural e como crítico. “Não tenho palavras para expressar a qualidade do trabalho do Alécio e a importância que ele tem como agitador cultural e como crítico sempre antenado com o de melhor em cada área. Aprendi muito com ele e acho que o jornalismo cultural em Minas acaba de ficar um pouco mais pobre”, aponta o músico.
“Tenho muito orgulho de ter pintado um retrato do Alécio Cunha em 2001”, destaca o artista plástico Carlos Bracher, outro dos diletos amigos do jornalista. “Trata-se de pessoa absolutamente impressionante e extraordinária, tanto pela qualidade de seu trabalho quanto pela multiplicidade de interesses na criação e na tradução através de suas matérias jornalísticas de rara sensibilidade. Era um artista plural, atencioso com tudo e com todos, um ser humano privilegiado, um interlocutor extraordinário e com uma formação cultural que alcançava ampla gama de conhecimentos, da poesia à arquitetura, ao cinema, à filosofia, às artes plásticas”.
Para Bracher, sabedoria e generosidade são as características mais marcantes do trabalho e da personalidade de Alécio Cunha. “Perdemos um jornalista de talento único e um intelectual generoso, pródigo na difícil e muitas vezes incompreendida missão de relatar e enaltecer os feitos alheios. As pessoas sempre ficavam melhores do que eram e mais importantes em suas belas reportagens”, observa o artista. “Perdemos, sim, um mediador como poucos e um ser humano de primeira qualidade”, afirma.
“Era um trabalhador incansável da literatura e da arte das palavras. Deixa uma lacuna, um vazio para seus tantos leitores e seus admiradores de grandezas variadas”, lamenta Lyslei Nascimento, professora de literatura da UFMG. “Trabalhamos juntos em diversas ocasiões e sempre impressionava a todas as pessoas seu talento e uma intensidade que nunca vi em nenhum outro jornalista. Ele acompanhava tudo, sabia tudo, estava sempre presente em todos os lançamentos e estreias. Talento e intensidade são palavras-chave para definir Alécio Cunha”.
Uma das homenagens ao trabalho de Alécio Cunha como repórter de cultura e como escritor e poeta vai ao ar nos próximos dias pela Rede Minas de Televisão. A emissora produziu um perfil sobre seu trabalho que foi apresentado em maio, no programa “Imagem da Palavra”. De acordo com Luciano Alkmin, diretor da emissora, o programa deverá ser reeditado para ser exibido ainda nesta semana.
Roberto Mendonça e José Antônio Orlando - Editor-chefe e Repórter - 29/11/2009 08:52 MARCELO PRATES

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