sábado, 28 de novembro de 2009

GOLPE EM HONDURAS 150 DIAS DE RESISTÊNCIA!




Roberto Michelleti permanece no poder em Honduras. Depois do golpe ao Acordo de
Tegucigalpa/San Jose o presidente golpista atrasa indefinidamente a entrega do governo a
Zelaya, que continua na embaixada brasileira.
Micheletti chegou a propor o rídiculo de 'sair da presidência' durante a semana das eleições,
dando a entender que sua 'saída temporária' daria um clima melhor para as eleições.
Acontece que em uma ditadura, sem os direitos constituicionais, nunca irá existir uma clima
saudável para uma eleição democrática.
A comunidade internacional (ONU, Unasul e OEA) já disse que não reconhecerá as eleições se o
presidente Zelaya não fosse colocado de volta ao poder. Mesmo com toda a comunidade
internacional contrária, os Estados Unidos, Peru e Colômbia resolveram mudar de posição,
dizendo que irão reconhecer as eleições. Oscar Arias, presidente da Costa Rica e mediador do
Acordo de San Jose, disse que fracassou nas negociações e que também vai reconhecer as
eleições, o que dá mais força para o golpista Micheletti.
Mesmo com a renúncia dos candidatos ligados a Frente e uma campanha forte de boicote, a
eleição está confirmada e as campanhas dos partidos políticos chegaram ao fim nessa semana.
O partido UD, que participava da Frente de Resistência, decidiu participar das eleições, o que
acaba por justificar o próprio golpe militar.
Com a eleição acontecendo, Micheletti sai ileso de um golpe de estado que matou, sequestrou,
torturou e quer garantir que Honduras continue a ser explorada e dominada pela oligarquia do
país e pelo poder econômico norte-americano que controla 80% da economia hondurenha.
Se a eleição do dia 29 de novembro for reconhecida, inclusive internacionalmente, significa que se
reconhece que o período do governo golpista foi legítimo e legal e que nada acontecerá com os
responsáveis pelos crimes de Estado desse período.
As reivindicações construídas por milhares e milhares de hondurenhas/os ao longo de 150 dias -
entre elas, justiça para os responsáveis pelo Golpe e uma Assembléia Constituinte com
participação popular - seriam deixadas absolutamente de lado para dar lugar à volta de uma
falsa "normalidade" democrática.

As pequenas reformas que Zelaya implementava (como por exemplo cobrar impostos de
multinacionais que nunca pagaram impostos em Honduras ou aumentar o salário mínimo) e a
possibilidade da eleição de uma Assembléia Constituinte foi o suficiente para a reação enérgica e
dura da oligarquia hondurenha, que não poupou os recursos mais cruéis que há décadas vem
sendo utilizadas em golpes militares na América Latina: técnicas de tortura, esquadrões da
morte, fechamento de meios de comunicação, repressão a manifestações de rua, prisões em
massa, estupros, entre outros.
A Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe de Estado - formada por movimentos sociais,
indígenas, sindicatos, movimentos de mulheres e outros grupos que não aceitam o governo de
Micheletti - disse não reconhecer as eleições do dia 29 de novembro e convoca o povo a não
votar.
Micheletti já avisou que irá prender qualquer pessoa que estiver fazendo campanha pelo boicote
às eleições.
Em todas as regiões os movimentos vem sofrendo uma grande repressão, que não diminuiu ao se
aproximar a data da eleição. Várias comunidades tem sido hostilizadas com helicópteros e
incursões de tropas militares e algumas tem conseguido reagir e expulsar os militares da região,
mas a represália resulta em prisões ilegais e tortura.
Professores, indígenas, camponeses tem sido perseguidos e executados por grupos armados e
encapuzados também durante a campanha eleitoral e muitas cidades de Honduras tem sido
ainda mais militarizadas nas últimas semanas.
Romeo Vazquez, chefe militar de Micheletti, afirmou existirem planos para deslocar soldados em
helicópteros para qualquer lugar de Honduras que julgue necessário. Várias comunidades tem
sido ocupadas por militares e territórios indígenas de propriedade coletiva tem sido invadidos
para projetos privados se instalarem. E, apesar da volta dos meios de comunicação contrários ao
golpe, um canal de TV contrário ao golpe denunciou nesta semana que teve seu sinal cortado na
hora do noticiário de manhã. Ainda assim, a Resistência tem realizado campanhas contra as
eleições, como um bloqueio da sede do Partido Liberal, que conseguiu impedir que um comício do
candidato Elvin Santos acontecesse em La Esperanza (Intibucá), na última semana.
Sobre o momento atual da resistência em Honduras, Bertha Cáceres, do Consejo de
Organizaciones Populares e Indígenas de Honduras (COPINH), disse em uma entrevista que "o
atraso que trouxe o golpe foi contrabalançado pelo despertar do povo e a tarefa é aprofundar
este avanço, que é intensamente humano e que ainda não podemos dimensionar nem medir".
Neste sentido, continua ela, "as eleições de 29 de novembro vão ter um grande rechaço popular
porque, apesar do bombardeio midiático, o povo sabe entender e decidir. Este povo vai
surpreender e é preciso ter fé, intensificando o trabalho para que essa farsa não seja
reconhecida".
25/11/2009 às 17:22

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