Por trás da emoção provocada pela escolha da cidade como sede dos jogos, pode-se encontrar indícios de que os Jogos Olímpicos estão muito mais para Negócios Olímpicos.
Por Marcelo Salles
No mês de outubro, o Rio de Janeiro esteve no centro das atenções mundiais. No dia 2, em Copenhague, Dinamarca, o Comitê Olímpico Internacional (COI) escolheu a cidade para sediar os Jogos de 2016. O anúncio foi recebido com festa por milhares de pessoas nas areias de Copacabana e teve direito a transmissão ao vivo em rádio, televisão e internet. Mais de 100 anos depois do início dos Jogos modernos, finalmente um país latino-americano conseguiu a façanha.
E pra chegar lá não foram medidos esforços. Prefeitura, Governo do Estado e Governo Fede ral trabalharam (e investiram) juntos. O material apresentado pela candidatura do Rio foi de primeira qualidade: o projeto, no papel, contempla e suplanta todas as exigências do COI; o poder público garante o orçamento e qualquer necessidade extra; vídeos cinematográficos mostram o melhor da cidade e por aí vai.
Um desses vídeos consegue, em cinco ou seis minutos, dar conta de quase todas as características do Rio de Janeiro, sobretudo aquelas valorizadas no exterior: capoeira, samba, mulata rebolando (discretamente), Pão de Açúcar, Cristo Redentor, Estação das Barcas, caipirinha, palmeiras imperiais no Jardim Botânico, bondinho de Santa Teresa. Todo esse cenário emoldurando uma calorosa recepção, pelo povo, das várias delegações olímpicas que caminham juntas pela cidade, até que se encontram na praia. A personagem-narradora, uma jovem negra, fala, em inglês com tradução para o português, sobre união, vida e paixão, “elementos que vão se encontrar” no Rio em 2016. Um complemento do discurso do presidente Lula, que pouco antes da exibição do vídeo havia dito aos delegados do COI: “a mais linda e maravilhosa cidade está de portas abertas para a maior festa da humanidade”. Emociona qualquer um.
Todo esse otimismo é compreensível, mesmo porque a realização de um evento deste porte abre inúmeras oportunidades para a cidade do Rio de Janeiro, em particular, e para o Brasil em geral. No entanto, por trás da emoção podemos encontrar indícios de que os Jogos Olímpicos estão muito mais para Negócios Olímpicos. E nada sugere que o maior
beneficiado será o Rio de Janeiro ou o Brasil.
Proposta elitizada
“Temos visto que o esporte vem sendo usado como produtor de consenso e venda de uma cidade”, diz Alessandro Biazzi, do Comitê Social que acompanhou os Jogos Pan-Americanos e que está acompanhando o processo das Olimpíadas. O pesquisador
enxerga uma proposta bastante elitizada, com a maior parte dos investimentos na Barra da Tijuca: “o prefeito Eduardo Paes já disse que o modelo da Vila Pan-Americana vai ser mantido”. Ou seja, a Vila Olímpica será construída com padrão de classe média alta para que, depois dos Jogos, os apartamentos sejam vendidos com alto retorno financeiro. “Um absurdo, se considerarmos o déficit habitacional do Rio”, afirma Alessandro.
Para ele, a oportunidade poderia ajudar a contornar o problema, caso após os Jogos a Vila tivesse destinação popular.A concentração dos investimentos na Barra derruba outra oportunidade histórica para a cidade, que viria com a instalação do Parque Olímpico na Zona Portuária. Além de revitalizar a região, hoje bastante degradada, a obra abriria espaço para a integração viária do Centro com a Zona Norte e a Baixada Fluminense, desafogando as atuais vias de acesso. O prefeito do Rio afirma que isto é inviável devido ao compromisso assumido com o COI. No entanto, Alessandro suspeita que há outros interesses em jogo: além da concentração dos investimentos na Barra, região da maior parte dos “lançamentos imobiliários”, o empresário Eike Batista estaria tentando preservar a Zona Portuária com outros propósitos.
O projeto “Porto Maravilha”, como vem sendo chamado no Rio, será uma das maiores intervenções de todos os tempos na cidade. Numa área que abrange meia dúzia de bairros, cerca de 40 mil pessoas estão ameaçadas de despejo violento. O gabarito (número máximo de andares que um prédio pode ter) da região passará de quatro para cinqüenta andares. O que se diz é que será construído um enclave, uma cidade dentro da cidade, onde os cidadãos comuns serão impedidos de transitar. Haverá lugar apenas para as grandes corporações como a Microsoft, que já teria comprado um edifício por algo em torno de R$ 50 milhões. Em tempo: Eike doou R$ 23 milhões para a campanha Rio 2016.
Outro que está bastante inquieto com a realização dos Jogos Olímpicos no Rio é o engenheiro Eliomar Coelho, que atualmente exerce mandato de vereador pelo PSOL. “A história está se repetindo”, diz, referindo-se ao Pan: “Projetos deslumbrantes apresentados em datashow, uma euforia, tudo para trabalhar o imaginário de modo a não permitir nenhum questionamento”.
enxerga uma proposta bastante elitizada, com a maior parte dos investimentos na Barra da Tijuca: “o prefeito Eduardo Paes já disse que o modelo da Vila Pan-Americana vai ser mantido”. Ou seja, a Vila Olímpica será construída com padrão de classe média alta para que, depois dos Jogos, os apartamentos sejam vendidos com alto retorno financeiro. “Um absurdo, se considerarmos o déficit habitacional do Rio”, afirma Alessandro.
Para ele, a oportunidade poderia ajudar a contornar o problema, caso após os Jogos a Vila tivesse destinação popular.A concentração dos investimentos na Barra derruba outra oportunidade histórica para a cidade, que viria com a instalação do Parque Olímpico na Zona Portuária. Além de revitalizar a região, hoje bastante degradada, a obra abriria espaço para a integração viária do Centro com a Zona Norte e a Baixada Fluminense, desafogando as atuais vias de acesso. O prefeito do Rio afirma que isto é inviável devido ao compromisso assumido com o COI. No entanto, Alessandro suspeita que há outros interesses em jogo: além da concentração dos investimentos na Barra, região da maior parte dos “lançamentos imobiliários”, o empresário Eike Batista estaria tentando preservar a Zona Portuária com outros propósitos.
O projeto “Porto Maravilha”, como vem sendo chamado no Rio, será uma das maiores intervenções de todos os tempos na cidade. Numa área que abrange meia dúzia de bairros, cerca de 40 mil pessoas estão ameaçadas de despejo violento. O gabarito (número máximo de andares que um prédio pode ter) da região passará de quatro para cinqüenta andares. O que se diz é que será construído um enclave, uma cidade dentro da cidade, onde os cidadãos comuns serão impedidos de transitar. Haverá lugar apenas para as grandes corporações como a Microsoft, que já teria comprado um edifício por algo em torno de R$ 50 milhões. Em tempo: Eike doou R$ 23 milhões para a campanha Rio 2016.
Outro que está bastante inquieto com a realização dos Jogos Olímpicos no Rio é o engenheiro Eliomar Coelho, que atualmente exerce mandato de vereador pelo PSOL. “A história está se repetindo”, diz, referindo-se ao Pan: “Projetos deslumbrantes apresentados em datashow, uma euforia, tudo para trabalhar o imaginário de modo a não permitir nenhum questionamento”.
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