domingo, 29 de novembro de 2009

O EX - GUERRILHEIRO PEPE MUJICA VENCE AS ELEIÇÕES NO URUGUAI


MONTEVIDEU, Uruguai (AFP) -
O ex-guerrilheiro José 'Pepe' Mujica venceu neste domingo as eleições presidenciais uruguaias
com um pouco mais de 51% dos votos contra 44% para seu adversário, o ex-presidente liberal
Luis Lacalle, segundo projeções de várias pesquisas de boca-de-urna.

Mujica, 74 anos, se converte assim no segundo guerrilheiro latino-americano a chegar ao poder
pelas urnas, depois de Daniel Ortega, na Nicarágua.
No discurso ante seus partidários, Mujica proclamou que não há "nem vencidos nem vencedores"
e se mostrou conciliador para com os partidos opositores.
"É o mundo do revés, aqui deveriam estar vocês e nós aplaudindo porque esta batalha foi
travada por vocês", afirmou.
"Mas também recordemos que há compatriotas que estão tristes e que são nossos irmãos de
sangue, e por isso não há nem vencidos nem vencedores!", proclamou.
"Apenas elegemos um governo que não é dono da verdade, que precisa de todos vocês", afirmou
ainda, estendendo seu reconhecimento a todas as coletividades políticas: o Partido Nacional
(centro-direita), de seu oponente, o ex-presidente Lacalle; o Partido Colorado (centro-direita) e
o Partido Independente (centro-esquerda).
"Meu reconhecimento ao dr. Lacalle, (a Jorge) Larrañaga (candidato a vice do Partido Nacional),
companheiro senador, meu reconhecimento e, se em algum momento meu temperamento de
combatente fez minha língua ir muito longe, minhas desculpas", afirmou, visivelmente
emocionado.
Também saudou os "irmãos da América Latina, os que representam bem, mal ou regularmente
as esperanças frustradas de um continente que tenta se unir como pode; todos nos ligaram para
nos dar um abraço, obrigado, irmãos".
Mujica conseguiu 51% dos votos, contra 44% de Lacalle, segundo o instituto Factum,
porcentagens similares a de outra empresa - Cifra -, que também dá 51% ao ex-guerrilheiro e
44% ao ex-chefe de Estado.
Por sua parte, a Equipos dá 50% dos votos a Mujica e 46% a Lacalle.
Assim que foram divulgados os primeiros resultados, Lacalle admitiu sua derrota e, falando aos
partidários, destacou que o atual presidente Tabaré Vázquez ligou para parabenizá-lo.
"Fora as divergências entre nós, o presidente fortaleceu o conceito de democracia e país, como o
fará o senador José Mujica, que regerá os destinos a partir de 1o. de março de 2010".
"Digo, sustento e proclamo a todos os que nos quiserem ouvir e em nome do um milhão de
pessoas que votou em nós, que seremos soldados da liberdade, custódios das instituições e
defensores das leis", concluiu.
O atual presidente, Tabaré Vázquez, festejou com um abraço a vitória de seu candidato e pediu
que a "calma, o respeito e a tolerância devem acompanhar todos os uruguaios no que deve ser
um festejo geral".
Candidato da coalizão de governo Frente Ampla (FA), Mujica foi recebido pelos simpatizantes
com fogos de artifício no momento em que foi votar durante a manhã.
No entanto, o candidato se mostrou pouco entusiasmado com o ato.
"Isto não tem emoção, a esta altura é como dançar com a irmã", declarou, acrescentando que
dedicava o voto "a amigos e amigas que já não estão aqui".
De fato, havia menos fervor nas ruas neste segundo turno, ao contrário do que foi registrado no
primeiro, em 25 de outubro.
Lacalle, de 68 anos, disputando pelo Partido Nacional (PN, centro-direita), ao votar durante a
tarde, falou de sua intenção de "construir a unidade entre os uruguaios e manter a tolerância
qualquer que seja o resultado das eleições".
Ao deixar sua seção eleitoral, foi vaiado por simpatizantes da FA e defendido pelos eleitores do
PN, que em resposta gritaram "assassinos" para aludir ao passado guerrilheiro de Mujica.
Convicto de que derrotaria Lacalle, Mujica foi para o segundo turno já pensando na composição
de seu governo e em fechar acordos com a oposição, apesar de seu partido ter toda chance de
alcançar a maioria parlamentar.
Além de garantir que seu companheiro de chapa, Danilo Astori, se encarregue da gestão
econômica, Mujica mostrou-se disposto a negociar acordos com a oposição sobre alguns temas -
educação, segurança, energia e meio ambiente -, e a oferecer alguns ministérios.
Mujica confirmou neste domingo que deseja um acordo com a oposição.
"Ter votos a mais não significa que sejamos donos da sociedade, muito menos que nossa verdade
seja imaculada", declarou o candidato.
O temor das autoridades por conta das previsões de fortes chuvas, o que segundo o ministro da
Corte Eleitoral Edgardo Martínez Zimarioff fez com que algumas seções em zonas rurais,
afetadas por inundações, abrissem e fechassem um pouco mais tarde.
As chuvas que afetam o país há 10 dias já obrigaram mais de 6.000 pessoas a abandonar suas
casas.
No meio da tarde, a participação dos eleitores se situava entre 68% e 85%, segundo dados
preliminares do Tribunal Eleitoral.
As Forças Armadas acompanharam o processo para garantir a segurança e o transporte do
material e dos funcionários eleitorais às áreas inundadas.

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