segunda-feira, 16 de novembro de 2009

ATENTADOS TERRORISTAS EM BELO HORIZONTE ( 1977 a 1995 ) !




DOSSIÊ DO TERROR



A QUEM INTERESSA O TERROR



Apresentação

Neste país, a violência contra aqueles que defendem as Liberdades Democráticas tem sido uma constante. Todo tipo de arma e instrumento já foi usado, ou passa a ser, na tentativa de fazer calar nossas vozes.


À ação dos órgãos de segurança do Estado, à censura, às leis e atos de exceção somam-se, agora com maior evidência, a ação de terroristas. São ameaças telefônicas, pichações, roubos, danos, explosões a bomba, violações de correspondências, numa escalada brutal contra todos nós.


As entidades e pessoas que vem sistematicamente sofrendo tais atentados — embora soubessem que a solidariedade dos demais é que garante sua segurança e a possibilidade de levar adiante suas lutas — consideram que as autoridades existentes, inclusive porque se arrogaram o papel de garantidores da segurança pública, têm a obrigação de apurar quem são os terroristas que nos atacam.

Inúmeros pedidos de abertura de inquérito já foram feitos pelos atingidos — sem resultado algum.

Um novo pedido, desta vez unificado, está sendo dirigido ao Governador do Estado de Minas Gerais e ao Secretário da Segurança Pública, por várias entidades de Minas Gerais.

Cópia desse documento, em anexo, está sendo remetido a todos aqueles que também defendem as Liberdades Democráticas e que conosco têm sido sempre solidários.


A partir de maio de 1977, grupos terroristas que se auto-intitulam GAC e MAC (Grupo Anticomunista e Movimento Anticomunista) voltaram a atuar em Belo Horizonte.


A inércia das autoridades responsável pela segurança pública e a conseqüente impunidade de que gozam tais grupos tem permitido que os atentados que perpetram se tornem cada vez mais ostensivos e cada vez mais violentos.


A ameaça que fizeram em aviso colocado no pára-brisa do carro da Presidente do MOVIMENTO FEMININO PELA ANISTIA — Núcleo Minas Gerais, tem sido fielmente cumprida: "A cada ação, uma reação".

Em que pese os vários pedidos de abertura de inquérito, nada foi feito até agora para pôr fim a essa escalada de violência e terror.

Por isso, o MAC e o GAC continuam ameaçando vidas, em ações que passamos a relatar, entre atentados a bomba, ameaças, depredações, violações de correspondências, num total de 24 ações.

1. No dia 11 de maio de 1977, um dia após a realização de um ato público pedindo a libertação de estudantes e operários presos em São Paulo, o D.A. MEDICINA/UFMG foi invadido, vasculhado e pichado pelo MAC.

2. No dia 28 de março de 1978, simultaneamente, vários atentados foram cometidos pelo GAC:

2.1. às 21:30 horas explodiu uma bomba na Igreja de São Francisco das Chagas, situada no Bairro Carlos Prates. Realizava-se no local, além do atendimento normal da Ação Social da Paróquia, reuniões de grupos paroquiais e do MFPA/MG, como também aulas de judô para os paroquianos;

2.2. por volta das 3 horas da madrugada, o mesmo grupo terrorista jogou uma bomba no D.A. MEDICINA/UFMG, que ao explodir quebrou não só os vidros da fachada como também trincou o piso de concreto. No local foi deixada uma "relação de pessoas assassinadas pela subversão", assinada com a data de 28 de janeiro;

2.3. outra bomba foi atirada no Centro Cultural do DCE/UFMG, que ao explodir danificou toda a fachada de vidro e laterais do prédio;

2.4. foi jogada também uma bomba no pátio de estacionamento da FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DA UFMG;

2.5. a FACULDADE DE DIREITO DA UFMG, em pleno centro de Belo Horizonte, foi a quinta vítima, nessa mesma data: uma bomba de alto teor explodiu na portaria da Escola, quebrando vidros e danificando parte da esquadria metálica.

3. Dia 7 de abril de 1978 foi outra data em que o GAC atuou simultaneamente contra várias entidades e pessoas:

3.1. um bilhete contento ameaças foi colocado no pára-brisa do carro da Presidente do MFPA/MG, dona HELENA GRECO, que, como se verá, tem sido um dos alvos constantes do GAC e MAC. Estava escrito no bilhete: "Olho por olho. A cada ação, uma reação. GAC, 28 de janeiro".

3.2. no mesmo dia, o GAC colocou 3 (três) bananas de dinamite no D.A. MEDICINA/UFMG, que só não explodiram porque o pavio apagou-se. No local, foi encontrado um bilhete do GAC: "A cada ação, uma reação." De maneira arbitrária é tentando transformar as vítimas em réus, intimaram o presidente do D.A. a comparecer na Polícia Federal.

3.3. outra bomba explodiu no saguão do DIRETÓRIO ACADÊMICO DA FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS DA UFMG – D.A. FACE/UFMG.

4. No dia 14 de abril de 1978, uma bomba explodiu no DIRETÓRIO ACADÊMICO DA FACE/UFMG, causando sérios prejuízos.

5. O dia 18 de abril marcou outra dessas datas em que o GAC ganhou as ruas várias vezes para espalhar violência:

5.1. No pátio do Colégio Santo Antônio, realizava-se uma concentração, promovida pelo MFPA/MG, à qual compareceram 1.500 pessoas. Meia hora após o início da concentração, vários agentes e um delegado do DOPS entraram no pátio, dizendo que haviam recebido uma denúncia de que bombas teriam sido ali colocadas. Após evacuarem o local, realizaram uma busca que resultou no encontro de uma bomba-relógio dentro de uma caixa de sapatos. Nesse ínterim, 8 (oito) carros pertencentes aos membros do MFPA/MG foram danificados (pichados com a sigla GAC e tiveram os pneus perfurados). É interessante salientar que antes da concentração, o local tinha sido vistoriado por dois agentes do DOPS. Em razão do ocorrido, a concentração foi transferida para a sede do DCE Cultural/UFMG, onde, novamente, o GAC voltou a danificar vários carros.

5.2. Às 20:30 horas, o GAC jogou uma bomba, através das janelas basculantes, na oficina gráfica da Sede Administrativa do DCE/UFMG, destruindo impressora e mimeógrafos totalmente, bem como as instalações e lâmpadas fluorescentes. Carros estacionados na garagem lateral e defronte o local foram danificados por estilhaços de vidro e argamassa, e a Rua Guajajaras ficou coberta de destroços num raio de vinte metros de explosão.

5.3. Na madrugada do dia 19, dando seqüência a esses atentados simultâneos, uma bomba foi atirada de dentro de um Volks azul, em movimento, na casa de Dona Helena Greco, Presidente do MFPA/MG. Por sorte, a bomba bateu no portão de ferro, caindo na calçada, onde explodiu. Presenciaram esse atentado, além de Dona HELENA GRECO, mais duas outras pessoas membros do MFPA. É interessante salientar que Dona HELENA GRECO mora na Rua Juiz de Fora, 849, justamente em frente à sede da 4ª BRIGADA DE INFANTARIA DO EXÉRCITO, considerada, inclusive, área de segurança nacional. Existe uma guarita em frente à sede, onde um soldado do Exército fica de sentinela.

6. No dia 11 de maio de 1978, o GAC distribuiu e afixou em postes de diversos bairros de Belo Horizonte um cartão, semelhante aos utilizados pelo MFPA/MG, contendo declarações com o claro intuito de desmoralizar o MFPA/MG. Vários cartões falsificados pelo GAC estavam sendo afixados na Igreja São Francisco das Chagas, por 3 (três) homens, quando um dos padres viu e impediu a continuidade da ação. Os homens, ameaçando o padre, retiraram-se do local.

7. Na madrugada do dia 21 de maio, invadiram o D.A. MEDICINA/UFMG, danificando-o totalmente (quebraram o mimeográfo e as máquinas de escrever).

8. No dia 10 de julho de 1978, o GAC jogou nos jardins da casa da PRESIDENTE DO MFPA/MG cerca de 200 (duzentos) cartões, enviados pelo correio ao Governador da Pernambuco, ao diretor do Presídio e aos presos políticos de Itamaracá. Estes cartões faziam parte da campanha de solidariedade, promovida pelo MFPA, à greve nacional de fome pela quebra do isolamento carcerário de presos políticos de Itamaracá. Junto aos cartões, havia 2 (dois) telegramas que o MFPA enviava, pelo correio, diariamente aos presos políticos de Itamaracá. Através de seu advogado, o MFPA pediu abertura de inquérito na Polícia Federal, por violação de correspondência (nos cartões e telegramas constava o carimbo dos Correios).

9. A vítima seguinte dos terroristas foi a sucursal do jornal EM TEMPO, em Belo Horizonte:

9.1. No dia 28/7/78, pela madrugada, aproximadamente à uma hora, segundo relato posterior dos vizinhos, ocorreu o atentado. A porta central (são três portas de entrada) foi arrombada. Praticamente todas as paredes, além de algumas cadeiras e mesas, foram pichadas em "spray" vermelho e preto, com vários dizeres: MAC + GAC: A VOLTA SERÁ PIOR, ENTREI DE SOLA E VOLTO, etc. Foram roubados máquinas e documentos diversos (mimeógrafo e uma calculadora eletrônica, papéis diversos). No próprio dia do atentado, por volta das 10 horas da manhã, dois soldados da Polícia Militar, dizendo terem recebido ordens, compareceram à sucursal. Como não havia sido chamada a polícia, até aquele momento, e eles não quiseram se identificar e nem identificar quem dera aquela ordem, foram dispensados. Mais ou menos uma hora depois, uma outra pessoa, dizendo-se da Polícia Federal, procurou a sucursal. Também se recusou a identificar-se. Não foram respondidas suas perguntas. A pessoa saiu da sucursal num OPALA preto, chapa branca, DF 1324, BH-MG. Mais ou menos duas horas após, chegou outra pessoa que se dizia do Serviço de Informação do Exército e apresentou carteira com o nome de Eustáquio Ferreira - Sargento. Disse estar ali em nome do Coronel e que o Governo não tinha nenhuma responsabilidade pelo atentado, principalmente neste período da abertura política e às vésperas das eleições. Informou haver estado na Polícia Federal e que essa de nada sabia. Perguntou o que havia sido roubado e os dizeres da pichação — do que foi informado. Referindo-se a um atentado ocorrido meses antes no DA Medicina da UFMG, insinuou que haviam sido os estudantes os autores, "buscando publicidade". Segundo ele, tal informação fora prestada por um informante de seu Serviço na própria faculdade. Insinuou também que podia ser coisa de ex-agente ou "dos que vocês, jornalistas, chamam repressão", fazendo questão de ressaltar, no entanto, que não havia nenhuma orientação oficial nesse sentido. No dia 04/08/78, foi pedida abertura de inquérito na Polícia Civil e na Polícia Federal. Nenhuma providência foi por elas tomada até agora, ao que consta.

9.2. Às 7:45 horas do dia 29 de julho, o editor responsável do jornal DE FATO, Aloísio Morais Martins, foi acordado com uma chamada telefônica em que um homem com voz grossa perguntava de onde estava falando. Ao ser informado de que se tratava da redação do jornal, a voz que não se identificou começou a falar repetitivamente que "os próximos serão vocês". Na véspera, havia ocorrido a invasão à sucursal do semanário EM TEMPO, em Belo Horizonte, o que caracterizava o telefonema como uma ameaça. Desligado o telefone, aproximadamente uma hora mais tarde, Aloísio — que mora nas instalações do jornal — recebeu novo telefonema com as mesmas ameaças, desta vez feitas através de uma pessoa que procurava disfarçar sua voz de forma efeminada. O fato foi levado ao conhecimento da imprensa falada e escrita, na mesma manhã, e momentos depois, o jornal recebia a solidariedade de diversas pessoas e entidades da cidade. Dias antes e depois destas ameaças, foi notada a presença de pessoas estranhas rondando a sede do jornal durante a noite.

10. 18/08/78 - Segundo atentado à sucursal do Jornal EM TEMPO - Belo Horizonte: No dia 18.08.78, a sucursal sofreu novo atentado, desta vez muito mais violento. Segundo informações posteriores dos vizinhos, entre 2:45 horas e 3 horas da madrugada, a sucursal foi invadida e colocaram uma bomba sob ou sobre a mesa da sala de redação que, ao explodir, destruiu a própria mesa, uma máquina de escrever, os vidros da janela, a persiana, a luminária e perfurou o teto e todas as paredes laterais, além de danificar papéis e documentos ali existentes. Todas as portas de todas as dependências foram danificadas, ao que parece com outro instrumento, umas mais, outras menos, sendo que duas ficaram completamente destruídas. Uma janela que dá para a entrada da sucursal também foi arrombada. Um veículo estacionado em frente teve seu vidro lateral traseiro danificado. Foram roubados vários documentos. Um dos vizinhos chamou a Rádio-Patrulha por volta das três horas da manhã. A polícia esteve no local desde essa hora, até aproximadamente 9 horas da manhã, sem a presença de qualquer uma das pessoas da sucursal. Aliás, a primeira empregada da sucursal a chegar no local foi impedida de entrar e os policiais se negaram a dizer o que a perícia estava levando (saíram portanto vários embrulhos). Foram procurados o DOPS e a Polícia Federal — ambos responderam que de nada sabiam, sendo que o Delegado da Polícia Federal, Wilson Ramalho, afirmou que não realizava e nem realizaria perícia por não ter equipamento para tanto. Pouco tempo depois disso, no entanto, compareceram à sucursal dois agentes da Polícia Federal, Sr. José Osmar e Sr. Taveira, que fizeram várias perguntas e anotaram nome e endereço de três pessoas da sucursal. Disseram que não sabiam para que fim seriam utilizadas as informações ali colhidas. Foi procurada a Polícia Militar e o Capitão Gladstone informou que a Polícia Militar estivera no local, guardando-o, até por volta das 9 horas da manhã, e que a perícia fora feita pelo Instituto de Criminalística. No Instituto, o perito confirmou a informação, dizendo que eles apenas haviam levado estilhaços da bomba e que o laudo estaria pronto em 30 dias. No dia 22.08.78, foi encaminhado ao Exmo. Sr. Secretário de Segurança Pública do Estado de Minas Gerais uma representação, solicitando abertura de inquérito pelo órgão policial competente. Na mesma data, também foi encaminhado ao Exmo. Sr. Procurador Geral do Estado, pedido de nomeação de promotor para acompanhar o inquérito. Em 29/08/78, pelo ofício 421/78, de 25/08/78, o Exmo. Sr. Procurador Geral do Estado comunicou à sucursal a nomeação do Promotor para atuar no inquérito. No dia 06/09/78, o Instituto de Criminalística forneceu cópia do laudo pericial referente ao atentado à bomba. Desde o último atentado, há policiamento na sucursal nos seguintes horário: das 23:00 horas às 09:00 horas (de segunda à sábado), de 17:00 horas do sábado até as 09:00 horas de segunda-feira, conforme pedido da sucursal e deferimento do Comandante de Policiamento da Capital. A sucursal de EM TEMPO teve um prejuízo calculado em duzentos mil cruzeiros.

11. No dia 1º de setembro, por volta das 12:00 horas, quando se realizavam as eleições diretas para o DCE/UFMG, uma bomba foi colocada em uma as urnas que recolhiam votos do D.A. ICEx, destruindo-a totalmente. No mesmo dia, no D.A. Medicina, outra bomba destruiu 6 (seis) urnas. Telefonemas anônimos já vinham sendo feitos ameaçando não só a realização das eleições, como também a posse da nova diretoria.

12. Na madrugada do dia 2 de setembro, as ameaças ao Jornal DE FATO vieram a ser concretizadas. Depois de arrombarem o cadeado do portão e uma das portas das instalações do jornal, invasores roubaram o aparelho de telefone e duas cadernetas com anotações de números de telefone de pessoas ligadas ao jornal, deixando em cima de um móvel uma bomba semi-deflagrada, junto ao pé-de-cabra usado no arrombamento e a uma garrafa plástica contendo álcool. O aparelho de telefone, como medida de segurança, era sempre retirado do gancho quando membros da equipe do DE FATO deixavam sua sede, impedindo, portanto, que ele fosse usado para se saber se havia alguém presente. No dia da invasão, infelizmente, o telefone foi esquecido no gancho, e Aloísio Morais Martins dormira fora. Ao tomarem conhecimento do atentado, membros da equipe do jornal comunicaram o fato à Polícia Militar e à Polícia Federal, tendo dois patrulheiros da primeira comparecido ao local, onde verificaram a ocorrência, fazendo as devidas anotações de praxe e convocando ao local a Polícia Criminalística, que enviou dois peritos, um deles de nome Alberto. O material da bomba foi recolhido e levado para exames periciais, assim como o pé-de-cabra. Dias depois, o advogado Geraldo Magela de Almeida enviou ofício à Secretaria da Segurança Pública, solicitando abertura de inquérito sobre o caso e policiamento para a sede do jornal. Até o presente momento o jornal não foi notificado da efetivação das providências solicitadas.

13. No dia 11 de setembro, às 21 horas, explodiu uma bomba no banheiro do auditório do Colégio Santo Agostinho. Realizava-se naquele local um debate promovido por um grupo de universitários católicos sobre DIREITOS HUMANOS. Participavam deste aproximadamente 100 (cem) pessoas. O banheiro ficou totalmente destruído, sendo que a porta do mesmo foi arremessada a uns cinco metros de distância, com o impacto da explosão. Estiveram no local elementos da Polícia Militar, Criminal e do DOPS, sendo que estes últimos chegaram 45 minutos após o atentado.

14. No dia 13 de setembro, dois atentados foram cometidos:

14.1. O primeiro foi na Igreja São Francisco das Chagas, onde se realizava uma vigília de solidariedade ao preso CAJÁ (membro da comissão de Justiça e Paz do Recife e da Pastoral da Juventude da Região Nordeste II da CNBB). Uma bomba de alto poder explodiu aos 15 minutos da madrugada do dia 13 (1:15 hora após a vigília), destruindo totalmente a portaria da Secretaria da Igreja. Inúmeros moradores do bairro acordaram assustados. A quantidade de estilhaços encontrados fizeram supor que granadas é que tinham sido jogadas naquele local. No dia anterior, várias ameaças tinham sido feitas aos padres responsáveis pela Igreja. Na porta da mesma foi afixado um cartaz, contendo uma "Oração Anti-Vigília". Entre outras coisas estava escrito "Dente por Dente", "O país nosso de cada dia nos apóia hoje".
Durante o dia, houve vários telefonemas anônimos para a Secretaria da Igreja, ameaçando com represálias caso a vigília fosse realizada, e um indivíduo que dizia-se chefe da Polícia Federal de Minas telefonou proibindo a vigília, afirmando que mandaria a polícia para impedi-la. Na manhã do dia 13 de agosto, dois agentes da Polícia Federal estiveram no local para investigar o atentado.

14.2. Precisamente à 1:00 hora da madrugada do dia 13.9.78, defronte ao Edifício Alfeo Piana, onde reside o advogado Geraldo Magela, foi detonada uma bomba, que havia sido colocada sob o motor de seu veículo — Brasília 1977, cor vermelha, placa AW-8244. O advogado, bem como todos os moradores do referido edifício, que foram acordados pela explosão, além de vizinhos dos prédios próximos, acorreram ao local, onde constataram danos não só no automóvel do advogado, como também em dois outros veículos: um Volkswagen que teve seu vidro dianteiro arrebentado e uma Caravan, com perfurações dos estilhaços. Imediatamente, a Polícia foi chamada ao local, assim como os peritos da Polícia Técnica. A explosão foi tão violenta que os nove apartamentos do edifício onde mora o advogado, tiveram suas vidraças partidas. A Polícia Técnica também constatou este fato. A bomba colocada sob o veículo destruiu completamente o seu motor, além de estourar um pneu. Neste mesmo dia, o advogado tomou as seguintes providências: levou o fato ao conhecimento do Secretário de Segurança Pública, para a instauração de inquérito e ao conhecimento da Ordem dos Advogados do Brasil, para as providências que esta julgasse necessárias.

O mero relato dos atentados e das providências tomadas faz ressaltar duas questões principais. A primeira, que a audácia e a violência desses grupos cresce a cada dia, deixando patente que a eles não importa atingir a vida e a integridade física seja de seus alvos, seja das pessoas que habitam as imediações dos locais que atacam ou que, circunstancialmente, podem vir a passar por ali nesses momentos.
Em segundo lugar, que tem sido até agora absolutamente inútil e infrutífera qualquer iniciativa de obter das autoridades qualquer providência que possa pôr fim a esses atos brutais.
Os pedidos de abertura de inquérito, feitos na maioria dos casos pelos atingidos, além de não resultarem em qualquer esclarecimento e identificação dos autores, serviram para exacerbar intimidações evidenciadas no caso das entidades estudantis.
O temor de que outros atentados venham a ser perpetrados, justificado pelo fato de que as ameaças tem sido rigorosamente cumpridas, faz com que, por este instrumento, as entidades e pessoas infra-nomeadas, venham insistir na abertura de inquérito unificado e demais providências cabíveis, com a pretensão de que, identificados os autores desses crimes, se ponha um paradeiro nesta escalada de violência.
Belo Horizonte 20 de setembro de 1978
1. MOVIMENTO FEMININO PELA ANISTIA/MG –
DONA HELENA GRECO


2. JORNAL EM TEMPO - BETINHO DUARTE

3. JORNAL DE FATO

4. DIRETÓRIO CENTRAL DOS ESTUDANTES da UFMG

5. Dr. GERALDO MAGELA ALMEIDA ( advogado )


6. DONA HELENA GRECO ( presidente MFPA/MG )

7. GRUPO DE PADRES PELOS DIREITOS HUMANOS

8. IGREJA SÃO FRANCISCO DAS CHAGAS


As pessoas que adiante assinam, responsáveis pelo Centro Cultural Operário (CCO), Fundação Centro de Estudos do Trabalho (CET), Grupo de Estudos e Trabalho em Educação Comunitária (GETEC) e Corpo Editora Limitada (responsável pela publicação do Jornal dos Bairros), todas estas entidades localizadas em Belo Horizonte, respectivamente nos seguintes endereços: Avenida Castelo Branco, 61 (Vila São Paulo), Rua José Brandão, 564 (Barreiro de Baixo), Rua Noronha Guarani, 200 (Bairro Santa Margarida), e Rua Álvaro da Silveira, 626 (Bairro Santa Margarida), vêm representar a V. Sa. os fatos que adiante expomos:
Na madrugada do dia 1º de maio, ontem, as sedes das entidades acima referidas foram vítimas de crime de furto. Sem deixar marcas visíveis de arrombamento, os assaltantes roubaram seguintes bens móveis:
Do Centro Cultural Operário: uma coleção do Jornal EM TEMPO; exemplares do Jornal Movimento; exemplares do Jornal Versus; exemplares do Cadernos do CET; cinzeiros e um mapa confeccionado em metal. Do Centro de Estudos do Trabalho: duas máquinas de escrever; um mimeógrafo a álcool; um grampeador elétrico; um telefone; um rádio; 1.500 exemplares dos Cadernos do CET; outras publicações e livros; chaves e lâmpadas; dinheiro (no valor de Cr$1.000,00); todo material de escritório; cadernos de controle de vendas; pastas arquivadoras e material de pesquisa constante no arquivo.
Do GETEC: uma máquina impressora "off-set"; mimeógrafo a tinta; uma gravadora eletrônica de estêncil; um telefone; publicações e documentação.
Do Jornal dos Bairros: quatro máquinas de escrever; uma calculadora FACIT; um telefone; um mimeógrafo à álcool; três grampeadores; três tesouras; um rádio; mil exemplares do Jornal dos Bairros; blocos de nota fiscal em branco; blocos de recibo em branco; recibos batidos; dez caixas de arquivo; todo arquivo de fotografias do acervo da empresa; caixa contendo material de arte gráfica para anúncios; cem cadernos do CET; dinheiro de venda de publicações; outras publicações.
Pelo exposto, caracterizado como prática criminosa, requeremos de V. Sa. se digne determinar a imediata abertura do competente inquérito.
Pedem Deferimento
Belo Horizonte, 2 de maio de 1979.


1 – CENTRO CULTURAL OPERÁRIO

2 – FUNDAÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DO TRABALHO

3 – GRUPO DE ESTUDOS E TRABALHO EM EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA

4 – JORNAL DOS BAIRROS


Terceiro Atentado à Sucursal do Jornal EM TEMPO - 8/07/79 - Na madrugada de domingo, dia 8 de julho de 1979, a sucursal do jornal EM TEMPO sofreu o terceiro atentado atentado em menos de um ano. Desta vez, os terroristas usaram, ao que parece, chave falsa, uma vez que não se constatou nenhum sinal de arrombamento na porta central, que foi encontrada apenas cerrada na manhã de domingo.
Em todas as dependências da sucursal os criminosos derramaram ácido em grandes quantidades no chão, nas cadeiras, mesas e demais utensílios, papéis e documentos, em todas as máquinas de escrever, num aparelho de TELEFAX, em todos os arquivos e até em um cofre que pertencia à proprietária do imóvel que o havia deixado lá por ser muito pesado. Os terroristas chegaram a requintes de barbárie destruindo com ácido coleções da revista VEJA e livros de consulta do nosso arquivo e pesquisa.
Um químico por nós consultado sobre os efeitos do ácido calculou entre 10 a 15 litros o total utilizado na sucursal. Para evitar o risco de continuidade dos efeitos do ácido e de sua ação tóxica sobre as pessoas, tivemos de lavar toda a sucursal, pisos, paredes e utensílios com água, numa proporção de 3 litros por 1 litro de ácido.


Providências: imediatamente após a constatação do atentado, no domingo por volta das 10 horas da manhã, comunicamos o ocorrido a toda a imprensa e solicitamos a presença da Polícia Técnica que vistoriou o local e recolheu materiais para a feitura do laudo. Redigimos também uma nota oficial à população e convocamos, juntamente com o Sindicato dos Jornalistas, uma reunião com entidades e toda imprensa, às 14 horas do dia 9 de julho, para denúncia do fato e discussão de propostas.

Estamos promovendo diariamente, nas escadarias da Igreja de São José uma vigília de 11 às 13 horas com a finalidade:
1) denunciar mais amplamente a violência de que fomos vítima a omissão e cumplicidade do governo — uma vez que não tomou nenhuma providência quanto aos atentados anteriores, nem mesmo quanto ao andamento do inquérito por nós requerido no ano passado –

2) angariar fundos para a reconstrução da sucursal.

Belo Horizonte, 08 de julho de 1979.

BETINHO DUARTE
SUCURSAL DO JORNAL EM TEMPOBOMBAS NUNCA MAIS

Nova onda de atentados terroristas abala Belo Horizonte. Como se não bastasse o aumento da violência, principalmente contra as mulheres, estamos agora vivendo um período de violência política.
Dezenas de atentados, entre bombas e ameaças, foram cometidos nos últimos tempos.


Os mais graves foram uma bomba que explodiu no banheiro da Delegacia de Furtos e Roubos no momento em que a repartição era inspecionada por uma comissão de delegados corregedores.

Agora, mais recentemente, várias bombas explodiram em locais diversos: no banheiro do Cine Nazaré-Liberdade, na garagem do coronel reformado da PM Felisberto Egg, na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de MG, nos Diários Associados - jornais "Estado de Minas" e "Diário da Tarde", no Fórum Lafayette e na OAB — seção Minas Gerais.


No caso do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de MG, não foi a primeira vez. Por ser uma categoria expressiva e democrática, que sempre apoiou as lutas democráticas, em 77 e 78 sofreu dois atentados, sendo que o primeiro foi a invasão do Sindicato com arrombamento do cofre e a destruição de documentos e o segundo, uma bomba que destruiu a porta principal.


Nesse período não só o sindicato foi atingido como dezenas de outras entidades e pessoas que lutavam pela Democracia em nosso país, num total de 36 atentados. Igrejas como a São José e São Francisco de Chagas, colégios Santo Agostinho e Santo Antônio, jornais Em Tempo e De Fato, diretórios estudantis e a UTE sofreram violências e arbitrariedades.


Naquela época havia uma ditadura militar que, para fazer prevalecer seus interesses, além de prender, torturar, matar, acobertava atos dessa natureza.


Apesar das manifestações contra tais atos, nada foi apurado e nenhum responsável foi punido.


Na verdade não havia interesse, pelo contrário, incentivavam tais ações, visando amedrontar e calar o povo brasileiro.


Hoje, aos poucos, na calada da noite, eles estão voltando.


São os mesmos, aliados a outros grupos clandestinos que trabalham com garimpo ilegal de pedras preciosas, que extorquem comerciantes, aliciam prostitutas e protegem o tráfico de drogas e o jogo do bicho.


Num primeiro momento, aparentava ser um fato isolado. Mas as próprias autoridades reconhecem que existe um grupo radical na Polícia civil, auto denominado REAÇÃO.

O Brasil vive uma democracia. Não a ideal porque temos milhões de pessoas passando fome e desempregadas, excluídas dos mais elementares direitos, inclusive o fundamental que é o direito à vida.

Nossa luta é pela justiça, pela paz e pela vida. Que todos tenham condições de viver com dignidade e justiça. Por isso torna-se importante não só denunciar tais atos terroristas, como também apurar, prender e condenar os responsáveis. Que haja vontade política dos governantes tomando atitudes firmes e transparentes nesse sentido, e que os órgãos federais, como a Polícia Federal, participem das investigações.

O povo brasileiro é contra a volta ao passado, a ditadura militar.

Esses grupos terroristas que mandaram e desmandaram e que se enriqueceram ilicitamente, precisam ser punidos.

A nós, democratas, cabe continuar lutando por um Brasil melhor.

Nossa solidariedade a todos os atingidos.

Bombas nunca mais!

Viva a liberdade e a democracia.

Pela Vida, pela Justiça e pela Paz!

BETINHO DUARTE
VEREADOR DO PT
PRESIDENTE DO COMITÊ BRASILEIRO PELA ANISTIA /MG




ATENTADOS A PARTIR DE 1990

ENTIDADES ATINGIDAS

1. COPASA

2. Edifício Central na Praça da Liberdade

3. Escola Estadual Santos Dumont

4. BH Shopping

5. Escola Estadual Pedro II

6. Empresa Autopeças em Contagem

7. Depósito de Material de Construção no bairro Aparecida

8. Fórum Lafayette

9. Shopping Del-Rey

10. Delegacia de Furtos e Roubos

11. Cine Nazaré-Liberdade

12. Casa do Coronel PM Reformado Felisberto Egg

13. Sindicato dos Jornalistas Profissionais de MG

14. Diários Associados — "Estado de Minas e Diário da Tarde

15. Fórum Lafayette

16. Ordem dos Advogados do Brasil — Seção Minas Gerais

17. Colégio Promove - Pampulha BH

1991 - 03

1992 - 02
1993 - 01
1994 - 04
1995 - 07


Total : 17


CRONOLOGIA DOS ATENTADOS COMETIDOS EM BH NA DÉCADA DE 90

10/12/91 - Duas bombas explodem em dois diferentes postos da Copasa, uma do Eldorado e outra do Barreiro, causando danos. Não houve vítimas.

12/12/91 - Uma bomba-relógio explodiu no Edifício Central, Praça da Liberdade, ferindo o camelô Oséas Santos Silva, 24. O artefato estava dentro de uma sacola.

19/12/91 - Outra bomba explode no pátio da Escola Estadual Santos Dumont, em Venda Nova. Não houve vítimas.

20/02/92 - Uma bomba é encontrada no estacionamento do BH-Shopping.

01/04/92 - Explosão em uma autopeças no centro de Contagem causou danos irreparáveis ao proprietário. O coquetel "molotov" foi jogado por um rapaz que estava numa moto.

29/08/93 - Três bombas são colocadas no laboratório da Escola Estadual Pedro II, em Santa Efigênia. Uma explodiu.
02/07/94 - Uma bomba explode no banheiro do Fórum Lafayette.


07/07/94 - Outra bomba explode no banheiro masculino do Shopping Del Rey, ferindo o vendedor Normando Marcos Silva, 39.

10/05/94 - Uma bomba de alto teor de explosão é detonada no banheiro masculino da Delegacia de Furtos e Roubos, no momento em que a mesma era inspecionada por uma comissão de delegados corregedores.

04/02/95 - Outra bomba explode no banheiro masculino do Cine Nazaré-Liberdade, após um incidente com um policial civil que tentou entrar de graça no cinema, através da famosa “carteirada”.

12/02/95 - Um artefato de baixo teor de explosão é jogado na garagem da residência do coronel PM reformado Felisberto Egg, no bairro Nova Suíça, depois de um incidente entre a Polícia Militar e a Polícia Civil na porta do Hospital de Pronto Socorro.

10/03/95 - Uma bomba de alto teor de explosão foi jogada sobre o telhado da Casa do Jornalista, na avenida Álvares Cabral, 400, causando danos. Não houve vítimas.

18/03/95 - Bombas explodem em frente aos Diários Associados — Estado de Minas e Diário da Tarde — destruindo parcialmente um veículo modelo PASSAT e portas da Sede do Sistema Estaminas.

20/03/95 - Bomba explode em frente ao Fórum Lafayette. Ameaças de bomba ao BDMG, ao Terminal Rodoviário de BH e ao Edifício Mercantil, onde funciona o Gabinete do Vice-Prefeito de BH, Dr. Célio de Castro. Neste local estava acontecendo uma reunião com o objetivo de se avaliar as providências a serem tomadas contra os atentados.

21/03/95 - Bomba explode no banheiro do segundo andar da sede da Ordem dos Advogados do Brasil — Seção Minas Gerais, durante um ato público em protesto contra os atentados terroristas na cidade. A explosão destruiu o forro falso de gesso do banheiro.

ATENTADOS AO SINDICATO DOS JORNALISTAS PROFISSIONAIS DE MG


Em 30/04/79 houve um atentado ao Sindicato, que foi invadido e teve seu cofre arrebentado, com a destruição de vários documentos importantes.

Em 27/06/80, véspera da visita do Papa João Paulo II a Belo Horizonte, outra bomba explodiu no Sindicato. Na ocasião, a capital vivia um período de agitação, com intensos movimentos estudantis e seguidos atentados à bomba contra bancas de jornais, editoras gráficas, universidades e entidades religiosas. Os atos terroristas eram reivindicados pelos grupos anticomunistas GAC e MAC, além da TFP (Tradição, Família e Propriedade) e o CCC (Comando de Caça aos Comunistas).

As bombas, de alto poder de explosão, causavam danos e ameaçavam a integridade física de pessoas inocentes. Havia ainda pichações, ameaças telefônicas e violação de correspondência.
Em meio a este clima de tensão, um artefato foi jogado na porta do sindicato causando danos e perplexidade. As paredes foram pichadas com as frases "Casa de Comunistas", "A hora é chegada", "Fora Comunistas", "Viva o Papa Anticomunista" e "Este é um Aviso à Imprensa Comunista".


Em 83, um arremesso de bomba foi deixado sob encomenda para o então presidente do Sindicato, Tilden Santiago, quando ele recebia em sua sala, dois membros do sindicato polonês. Um telefonema anônimo alertou o presidente para a entrega da bomba, permitindo assim sua desativação. Os atentados da época eram planejados e executados por membros da extrema direita, dentre os quais muitos policiais e pessoas infiltradas nas corporações.


A LUTA PELA ANISTIA AMPLA, GERAL E IRRESTRITA CONTINUA:


Pela punição dos torturadores!

Pelo desmantelamento do aparato repressivo!

Pela abertura dos arquivos da Ditadura Militar!

Pela elucidação dos casos dos mortos e desaparecidos políticos!

Pela construção do ARCO DA MALDADE , escultura criada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, em homenagem a todos que lutaram contra a Ditadura Militar, doada ao GTNM/RJ

Um comentário:

  1. Muito interessante seu post....O advogado Geraldo Magela era meu Tio.
    Obrigada pelas lembrancas
    Marina

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