1 - Nome completo, e ocupação atual e da época
ALBERTO CARLOS DIAS DUARTE - administrador de empresas. Era estudante da UFMG quando começou o período da ditadura, militante de uma organização de esquerda clandestina, chamada AP - AÇÃO POPULAR , diretor da sucursal do jornal MOVIMENTO e do jornal EM TEMPO, presidente do COMITÊ BRASILEIRO PELA ANISTIA/MG e um dos coordenadores movimento DIRETAS JÁ. Atualmente sou presidente de uma ONG chamada TV BEM e profissional liberal.
2 - O que você se recorda sobre o período da Ditadura?
De todo o período, desde o golpe militar, em 31 de março de 1964, até a eleição indireta de Tancredo Neves como Presidente do Brasil, pelo Colégio Eleitoral, em 15 de Janeiro de 1985 (Tancredo foi eleito com 430 votos contra 180 de Paulo Maluf), lembro-me da resistência ao golpe militar, das manifestações estudantis das quais participei ativamente, da luta pela liberdade de imprensa, e da luta das famílias em busca de seus filhos presos e desaparecidos.
Lembro-me também da repressão brutal a toda forma de manifestação popular contra a ditadura militar.
Lembro-me de amigos e familiares sendo presos, torturados, assassinados e desaparecidos até hoje.
Hoje temos conhecimento também de pessoas que não tiveram nenhuma participação política à época e que foram presas por engano e acabaram sendo assassinadas.
3-Qual foi a influência da ditadura e da Anistia na sua vida e de conhecidos?
Participei efetivamente de todos os movimentos contra a ditadura militar.
Minha geração sonhava com um Brasil justo, democrático e pacífico.
Acredito que o que existe de positivo hoje em nosso país se deve a essa luta.
Fui preso em 14 de Maio de 1968, fui expulso da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG e tive o registro de ANTECEDENTES CRIMINAIS em meu atestado de bons antecedentes e em minha folha corrida, o que me impediu qualquer acesso a empregos, concursos e vestibulares. Fui muito prejudicado tanto na área estudantil quanto na profissional e familiar.
Quanto à anistia, considero-me vitorioso, porque foi o principal movimento que levou ao fim da ditadura militar.
4-Qual o motivo existente para os governos ditatoriais se fazerem presentes na sociedade?
No caso do Brasil, foram os setores ou segmentos que tiveram seus interesses contrariados, ou seja, os latifundiários, empresários, as multinacionais , os especuladores financeiros e os EUA.
É importante salientar que à época o presidente João Goulart foi democraticamente eleito. Ele era candidato a vice-presidente na chapa com Jânio Quadros e também disputou as eleições através do voto. Atualmente, o candidato a vice só compõe a chapa, só se votando no candidato a presidente.
O governo do presidente João Goulart era reformista e propunha uma série de modificações que beneficiavam o povo pobre e trabalhador, tanto no campo como na cidade. Era a proposta de reforma agrária, de melhores condições de trabalho e de salário, como também da estatização de empresas e multinacionais consideradas de interesse estratégicos.
5 - Qual a reação da população mediante aos desaparecimentos de pessoas?
No inicio só os familiares tinham conhecimento das prisões, torturas e assassinatos. Principalmente as mães, esposas e filhas saíam à procura do familiar sumido. Elas se encontravam e discutiam iniciativas comuns: denunciar, escrever cartas às autoridades, contratar advogados e pedir apoio principalmente do clero progressista. Foi assim que começou o movimento pela anistia.
Um dos objetivos da tortura era espalhar o medo e a intimidação. E a luta pela anistia enfrentou esse medo e procurou informar e mobilizar a população para o esclarecimento dos casos dos desaparecidos políticos.
Em nossa relação de desaparecidos há 164 nomes, mas até a presente data só quatro foram encontrados. Há uma concepção universal que toda família tem o direito de enterrar seus entes queridos. Por isso, essa reivindicação passou a ser de toda sociedade.
6 - Qual o crime politico que mais marcou a história brasileira na sua opinião?
A tortura, o assassinato e o desaparecimento de presos políticos.
A tortura é considerada crime de lesa-humanidade e imprescritível.
Lutamos hoje pela punição de todos os torturadores.
7 - O modo que a Anistia foi aplicada no Brasil foi de maneira justa?
Não. Lutávamos por uma anistia ampla, geral e irrestrita. Entendemos como ampla a que alcança todas as manifestações de oposição ao regime; geral, a que alcança todas as vítimas da repressão; e irrestrita, a que não não contém discriminações ou restrições.
Ela não contemplou integralmente esses três aspectos, tendo em vista que vários presos políticos continuaram na cadeia, o aparato repressivo não foi desativado e os torturadores não foram punidos.
ENTREVISTA PARA OS ALUNOS DO COLÉGIO ESTADUAL CENTRAL ( Tatiana )
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
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