
DNA confirma que ossada em Perus é do espanhol Miguel Nuet
Exame de DNA confirma que ossada exumada em Perus (SP) é do espanhol Miguel Nuet
MPF/SP deverá ter inquérito para apurar a morte de Nuet, único caso
conhecido de cidadão espanhol morto sob a custódia do regime militar brasileiro.
O Ministério Público Federal em São Paulo (MPF/SP) recebeu ontem, 27 de agosto, a
confirmação oficial de que o exame de DNA dos restos mortais exumados, em 1º de abril de
2008, no cemitério de Perus, é do espanhol Miguel Sabat Nuet, que foi preso por uma equipe do
Departamento de Operações Internas (DOI) em 9 de outubro de 1973 e apareceu morto um mês
depois em sua cela. Segundo a polícia informou na época, Nuet teria se suicidado.
A procuradora da República Eugênia Fávero, que integra a área cível do MPF em São Paulo e é a
responsável pelo inquérito civil público que busca a identificação das vítimas da ditadura
enterradas em Perus, representará aos procuradores da área criminal solicitando a abertura de
investigação para apurar as circunstâncias da morte de Nuet e, se possível, identificar os autores
do crime.
Para Eugênia Fávero e o procurador regional da República Marlon Alberto Weichert, a
investigação e a punição de crimes da ditadura é possível sem a necessidade de se alterar a Lei
da Anistia, pois os crimes cometidos no período são crimes contra a humanidade.
Em relação a identificação de outras vítimas, o MPF fará uma nova tentativa de exumação de
restos mortais que podem ser de Hiroaki Torigoe, militante da Ação Libertadora Nacional (ALN),
do Movimento de Libertação Popular (Molipo) e da Vanguarda Popular Revolucionária
(VPR). Ele foi preso e morto no Doi-Codi em janeiro de 1972. Relatório da Marinha informa que
ele foi “morto em tiroteio com agentes de segurança”. A nova exumação será feita em outra
quadra do cemitério.
Quem era Nuet -
O espanhol Miguel Nuet, que morreu aos 50 anos, era um vendedor de veículos que morava na
Venezuela.
Nuet não tinha nenhuma ligação conhecida com organizações de esquerda.
Ele foi preso em 1973 por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e na sua
ficha constava um “T” vermelho, que significa “terrorista”, mas nunca foi provado seu
envolvimento com nenhuma organização da luta armada.
Um documento encontrado nos arquivos públicos do estado de São Paulo por Suzana Lisboa,
integrante da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, mostra Nuet como preso do DOPS.
Datado de 27 de novembro de 1973, o documento indica que o espanhol seria expulso quatro dias
antes do seu enterro, o que vai na direção contrária da tese de “suicídio”.
Os restos mortais de Nuet estavam no terreno 485, quadra 7, do cemitério Dom Bosco, em
Perus, zona norte de São Paulo, num setor que ficou conhecido como a vala de Perus.
Com essas informações a procuradora da República Eugênia Augusta Gonzaga Fávero, emitiu
ofício ao Instituto Médico Legal (IML) e à Diretoria de Cemitérios do Município de São Paulo
pedindo a exumação e a posterior identificação dos restos mortais.
O exame -
Após a exumação, os restos mortais ficaram sob a custódia do IML. Em julho, um fêmur e dentes
foram extraídos da ossada para exame pelo laboratório Genomic Engenharia Molecular, de São
Paulo. E o exame comprovou que a ossada encontrada no cemitério clandestino de Perus,
em São Paulo, é mesmo de Nuet.
A amostra forense foi extraída do fêmur e a identificação positiva aconteceu a partir da
comparação do DNA do osso com o resultado dos exames de DNA do sangue de um irmão, de
uma filha e de um filho de Nuet, coletados em Barcelona e Caracas, respectivamente, para o
Banco de DNA da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria Especial dos
Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR).
Criado em 2006 pela SEDH, com o apoio do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), o Banco de DNA atende à reivindicação dos familiares de mortos e
desaparecidos políticos, para garantir o direito à verdade e à memória das vítimas da repressão
durante a ditadura militar no país (1964-1985).
O Genomic, laboratório contratado pela SEDH, coletou amostras de sangue de familiares com
parentesco próximo e consangüíneo de mortos ou desaparecidos políticos para posterior
comparação com restos mortais encontrados.
Assessoria de Comunicação
Procuradoria da República em São Paulo
11-3269-5068
ascom@prsp.mpf.gov.br
Com informações da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República
28/8/2008 15h34
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